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Dificuldades na partida – como realizar o diagnóstico utilizando scanner e osciloscópio


Mostraremos como realizar uma análise da relação Ar/Combustível (A/F), verificando o sinal da sonda lambda e os ajustes de curto e longo prazo, agilizando o fluxo de atendimento de dificuldade na partida

Por: Laerte Rabelo - 31 de março de 2020

Na matéria deste mês vamos apresentar ao técnico automotivo como verificar o teor de etanol presente no combustível a fim de confirmar se o valor do A/F, relação Ar/Combustível presente na memória da central de injeção, está de acordo com o combustível utilizado pelo veículo.

Procedimento

Para veículos que apresentam dificuldade de partida, falha no reconhecimento de A/F ou funcionamento irregular em função do A/F não condizente com o combustível presente no tanque do veículo, efetuar o procedimento de análise a seguir:

Perguntas importantes

Solicitar ao técnico automotivo ou consultor técnico para fazer algumas perguntas ao cliente, visando auxiliar no diagnóstico: 

1. A dificuldade de partida ocorreu após o abastecimento do veículo?
2. Qual o tipo de utilização do veículo (percursos curtos ou longos)?
3. Do momento do abastecimento até estacionar o veículo, para dar partida no dia seguinte, que distância foi percorrida?
4. Houve mudança do combustível em relação ao último abastecimento? 

Essa pergunta é importante, principalmente para saber se o veículo está com dificuldade de partida devido à não conclusão do A/F.

Não funcionar o veículo por tempo suficiente para concluir o aprendizado AF, após o abastecimento com mudança de combustível, pode ocasionar o inconveniente.

5. Verificar o combustível presente no tanque e se ele está condizente com a relação de A/F aprendida pela central de injeção.

Identificação do teor de etanol presente na gasolina. 

Nos casos em que os veículos estejam abastecidos com gasolina, usar uma bureta graduada e verificar a quantidade de etanol na gasolina. Esse valor pode variar de 20 a 25% de etanol na gasolina, dependendo da legislação vigente, regulamentada pelo governo federal.

A figura abaixo exibe como se realiza o teste do teor de etanol presente no combustível.

Exemplo:

Em uma bureta graduada, colocar 50ml de água e 50ml do combustível (gasolina). O etanol presente na gasolina irá se misturar com a água. No exemplo acima, houve um aumento de 10ml no volume da água, restando 40ml de gasolina. Isso indica que temos 20% de etanol presente na gasolina (10ml x 2).

Verificação da relação entre o A/F e o combustível presente no tanque.

Se o valor do A/F estiver fora, deve-se efetuar um aprendizado forçado via equipamento de diagnóstico. Em seguida, efetuar um teste dinâmico com o veículo e verificar se o A/F se manterá no valor correto. Se o A/F se mantiver correto, efetuar testes de partida em várias condições de temperatura. Verificar se o problema de dificuldade de partida persiste ou se o A/F saiu do especificado.

A figura acima mostra o procedimento de adaptação de combustível forçado, assim como a relação Ar/Combustível do combustível presente no veículo. 

Se o problema de partida permanecer o que fazer?

⦁ Verificar o estado do combustível no reservatório de partida a frio (principalmente em veículos abastecidos com etanol).

⦁ Verificar com equipamento de diagnóstico se existem erros gravados na central de injeção.

⦁ Verificar com o equipamento de diagnóstico o sinal do sensor de rotações, conforme mostra a figura.

⦁ Verificar com o equipamento de diagnóstico o valor da pressão no coletor de admissão (motor aquecido e a rotação em marcha lenta). Valor de pressão alto no coletor pode indicar indevida entrada ou vedação irregular de válvulas. A figura apresenta em destaque o valor de pressão do coletor. 

⦁ Verificar com um multímetro ou equipamento de diagnóstico a tensão da bateria na hora da partida (uma queda de tensão até 9,6 V, principalmente com motor muito frio, é considerada normal). A figuras mostram, respectivamente, a verificação da queda de tensão da bateria com scanner e osciloscópio. 

⦁ Verificar com o equipamento de diagnóstico o sinal da sonda lambda pré-catalisador e sua correção, que indicará se a mistura ar /combustível está muito rica ou pobre, conforme mostra a figura. 

A título de exemplo, e de acordo com a figura, vemos a oscilação da sonda lambda pré-catalisador (gráfico verde) e a adaptação ou correção da mistura (gráfico vermelho) referente à linha Fiat, neste caso, a montadora adota os seguintes valores de referência:

• Valor de correção da sonda que indica uma mistura próxima da ideal: 0,96 a 1,06.

• Valor abaixo de 0,96 indica que a mistura está pobre (pouco combustível) e a central está enriquecendo a mistura para corrigir.

• Valor acima de 1,06 indica que a mistura está rica (muito combustível) e a central está “empobrecendo” a mistura para corrigir.

Assim, no caso do exemplo da figura , podemos concluir que a mistura está próxima da ideal. 

Estes valores de referência mudam de acordo com o sistema de injeção utilizado pelo veículo, no caso da linha GM, os valores de ajuste de curto e longo prazo são apresentados em porcentagem, caso os valores de ajuste de longo prazo sejam superiores a -10%, indicam que a mistura está rica e a central está “empobrecendo” a mistura para corrigir, superiores a + 10% indicando que a mistura está muito pobre e a central está “enriquecendo” a mistura para corrigir. A figura 8 exibe em destaque estes parâmetros no scanner.

⦁ Testar o funcionamento da eletrobomba e da eletroválvula de partida a frio.

⦁ Utilizando o esquema elétrico do veículo, identificar o relé de partida a frio para efetuar testes. Em alguns veículos o relé de partida a frio pode ser testado via equipamento de diagnóstico.

⦁ Verificar a vedação da eletroválvula de partida a frio ou eletroinjetor de partida a frio (se previsto).

15.  Verificar se há alguma obstrução nas tubulações da partida a frio.

16. Verificar vedação e vazão dos eletroinjetores. 

A figura abaixo mostra a inspeção e identificação de um injetor gotejando.

17. Verificar se o corpo de borboleta está impregnado, pois prejudica a passagem do ar.

18. Verificar a vedação da eletroválvula do canister.

19. Verificar folga dos eletrodos das velas.

20. Verificar pressão e vazão da bomba de combustível (ver valores e testes no diagnóstico da eletrobomba de combustível).

21. Verificar se o filtro de combustível está obstruído.

22. Verificar o sincronismo do motor.

23. Verificar a folga das válvulas de admissão e escape (se previsto).

24. Verificar compressão dos cilindros para avaliar o cabeçote.

OBSERVAÇÃO: Todas essas verificações foram citadas tomando por base a análise de itens mais simples evoluindo para itens mais complexos, mas que podem comprometer o funcionamento do sistema, provocando a falha reclamada pelo cliente.

Outro fator importante nesse diagnóstico é conhecer alguns conceitos básicos sobre o funcionamento do sistema de partida a frio e sobre o reconhecimento da relação ar/combustível (A/F). Seguem abaixo algumas dicas importantes:

OBSERVAÇÃO 2: As informações citadas abaixo não contemplam todos os sistemas que utilizam a tecnologia flex, cada sistema tem suas particularidades, os valores aqui apresentados são genéricos, para maiores informações consulte a literatura técnica especifica do veículo que está realizando o procedimento de diagnóstico.

1 – Em quais situações inicia-se o aprendizado de A/F?

1.1 - Abastecimento do veículo.

1.2 - Quilometragem rodada: alguns sistemas são calibrados em 400 km, ou seja, após o veículo ser abastecido, se o mesmo rodar 400 km sem abastecimento, o sistema refaz o aprendizado de combustível. Se o veículo for abastecido antes, essa contagem se inicia novamente, isso funciona também como ponto de segurança.

1.3 - Marcador de combustível na reserva: Ao informar para a ECU que o combustível está na reserva, ou seja, cerca de 15% do volume do tanque, o sistema inicia o aprendizado sempre que a chave for posicionada em marcha, até que o veículo seja reabastecido para sair dessa condição.

1.4 - Número de partidas mal sucedidas: ao tenta ligar o veículo por um número X de vezes sem sucesso (atualmente é calibrado em três tentativas), o sistema entra em modo de recovery e muda automaticamente para um valor de A/F intermediário. Assim que as condições de habilitação do aprendizado são atingidas, o sistema buscará o A/F correto (isso ocorre quando é efetuado troca de combustível e tentativas de se ligar o veículo).

2 - Quando o aprendizado começa?

Após ter acontecido uma das condições acima, o sistema inicia o aprendizado de AF da seguinte maneira:

2.1 - Consumo de litros- linha: Após consumir um valor determinado, que é lido pela variável LITROS_LINHA. Isso é feito dessa forma para que se tenha certeza de que o que está sendo consumido pelo motor já é o combustível abastecido no veículo. Evitando assim, que o sistema aprenda um possível AF “incorreto”, devido ainda não ter chegado para combustão o “novo combustível abastecido”.

2.2 - Temperatura atingida: Há dois passos de aprendizado quanto à temperatura:

- Após os 40°C de temperatura da água, o sistema inicia o AF para ajustar a queima do combustível para um primeiro passo do aprendizado, que nesse ponto não é totalmente fiel, pois ocorre o enriquecimento do combustível devido à temperatura, acúmulo de Blow By, etc..

- Após os 70°C de temperatura da água, o sistema está apto a fazer o aprendizado de combustível.

3 - O que pode impedir o aprendizado de combustível?

3.1 - Blow by acumulado: O aprendizado não é iniciado para evitar um AF “incorreto” devido ao vapor de álcool presente no cárter retornado ao sistema pelo respiro do motor.

3.2 - Temperatura da água (TH2O) inferior a 40°C.

3.3 - Erros específicos no sistema (ex.: sonda lambda).

3.4 - Utilização do veículo em condição de plena carga ou com grandes variações do pedal do acelerador (desestabilizado).

Para o aprendizado de AF, o sistema tem que estar estabilizado, ou seja, o veículo deve estar trafegando em uma condição estável, sem variações bruscas de pedal ou plena carga (para evitar aprender com enriquecimento de combustível para resfriamento do catalisador). Se isso ocorrer, o aprendizado é interrompido momentaneamente até que o sistema se estabilize novamente. Após o sistema verificar que o veículo voltou a trafegar em uma condição estável, espera aproximadamente cinco segundos para iniciar o decremento do tempo de aprendizado.

Ao chegar a zero, o aprendizado é finalizado.

O sistema também efetua o aprendizado em marcha lenta. Porém, o procedimento é sempre o mesmo e a conclusão desse aprendizado é bem mais demorada, haja vista o baixo consumo de combustível em marcha lenta.

Até a próxima!