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Conheça em detalhes como é o funcionamento do sistema de embreagem da motocicleta


Conheça os principais sintomas decorrentes de falhas na vedação, as causas mais frequentes, como evitá-las e procedimentos de diagnóstico

Por: Paulo José de Sousa - pjsou@uol.com.br - 23 de fevereiro de 2017

Bem conhecida dos reparadores, a embreagem é o dispositivo que faz a conexão do motor com a caixa de marchas da motocicleta, ela está instalada no eixo primário do câmbio (embora haja motocicletas com a embreagem montada na ponta do virabrequim), apesar de sua complexidade não apresenta dificuldades de compreensão por parte dos mecânicos. 

Na maioria das motocicletas a embreagem é robusta, normalmente tem vida longa, mas os reparadores da rede autorizada e também das oficinas particulares constantemente se deparam com casos de embreagens problemáticas, algumas mesmo com baixa quilometragem já estão patinando ou apresentam dificuldades no engate das marchas. 

Se o mecanismo é simples, então fica a dúvida: De quem é a culpa se a embreagem “deu pau”?

O FUNCIONAMENTO
A Embreagem é um conjunto multidisco em banho de óleo que combina discos revestidos de cortiça (mais escuros) e também discos de papel (mais claros), o funcionamento é basicamente assim: durante a condução da motocicleta, na aceleração a potência do motor é transmitida ao câmbio através da embreagem e segue a seguinte  rota de transmissão de força : pinhão do virabrequim , carcaça externa da embreagem, discos, separadores, cubo da embreagem e eixo primário do câmbio. A embreagem funciona por meio da fricção (atrito) do conjunto: discos, separadores, cubo e platô de pressão, a unidade do jogo de peças é assegurada pela pressão de algumas molas, a quantidade varia conforme o modelo e a cilindrada da motocicleta, assim a potência do motor é transmitida ao câmbio e na sequência chega à roda traseira.

Nas motocicletas comuns o acionamento da embreagem pode ser mecânico, por meio de um cabo de aço com um ou dois dispositivos de regulagem de folga da alavanca (manete), existem sistemas nos quais o acionamento é hidráulico. O desacoplamento do conjunto é dado quando o manete é totalmente acionado, nesta condição o motor funciona, mas a potência não é transmitida ao câmbio (foto 1).

Foto 1
Nas motocicletas comuns, a separação dos discos é dada por uma haste (came) localizada  no lado esquerdo do motor, esta promove um impulso de uma vareta que desliza dentro do eixo primário do câmbio e faz o desacoplamento do conjunto da embreagem de dentro para fora, também há um segundo caso no qual a alavanca impulsora (came) da embreagem fica instalada na parte interna da tampa  direita do motor, aqui a separação dos discos é feita de fora para dentro do motor.

FOLGA NA ALAVANCA
Não existe receita especial de regulagem do conjunto,  a manutenção é básica e simples, na maioria das vezes fica por conta do usuário da moto, o ajuste deve ser o padrão do fabricante, necessariamente não é proporcional ao tamanho da mão do condutor. Excesso de folga dificulta os engates e provoca trancos e danos no conjunto, folga abaixo do padrão provoca desgaste das peças, os extremos são prejudiciais.  (foto 2)

Foto 2
A embreagem é banhada em óleo de motor, o mesmo lubrificante que circula pelo cilindro, pistão, anéis, comando de válvulas, biela, câmbio e outras, significa que o lubrificante utilizado tem que ser o recomendado pelo fabricante da motocicleta, específico para proteger sem reduzir o atrito na embreagem, os manuais não recomendam aditivos complementares ao lubrificante, alguns produtos aderem nos discos e separadores e fazem o conjunto patinar, nem sempre o que é bom para os carros é adequado para a motocicleta, visto que a construção de ambos segue projetos bem distintos.

Falhas de montagem também podem ser o “grande vilão” do desgaste acelerado da embreagem, o conjunto requer ajustes, sincronismos, balanceamentos, sequência de montagem e aperto específico nos parafusos. Falhas no processo podem causar  vibração, ruídos e acelerar o desgaste, mas a responsabilidade não é só do reparador, vejamos: de modo geral, os maus-tratos encurtam a vida da embreagem, seja a imperícia ou imprudência do usuário da motocicleta, os “vícios de pilotagem”  nem sempre serão detectados pelo reparador, ex.: ficar um longo período parado com a marcha engatada durante o funcionamento do motor, a ação pode provocar aquecimento excessivo e empenamento nos separadores da embreagem e por consequência da deformação ocorrerá dificuldade de posicionar o neutro ou engatar uma marcha com a motocicleta parada. Queimar a embreagem durante uma saída brusca também reduz a vida útil do conjunto. Pilotar a motocicleta por algum tempo com a embreagem parcialmente acionada irá provocar redução no atrito devido ao calor excessivo entre discos e separadores e a consequência será o desgaste excessivo. 

É bom lembrar que na condição acima o motor irá sofrer mais esforços, consumir mais combustível e emitir mais poluentes.

CANSAÇO NA EMBREAGEM
Existem inúmeras indicações que serão percebidas durante a utilização da motocicleta, algumas requerem a substituição de peças, outros casos necessitam apenas de algum ajuste, são elas:

1. SINTOMA: Embreagem patina - O sintoma é detectado quando o condutor percebe que ao acelerar a motocicleta o motor sobe de giro, mas a potência não é transmitida à roda traseira.

CAUSAS PROVÁVEIS: Desgastes dos discos da embreagem; Pressão das molas abaixo do especificado; Conjunto da embreagem travando; Haste de acionamento emperrada; Regulagem da embreagem com folga abaixo do especificado; Cabo de embreagem enroscando; Alavanca (manete) de acionamento da presa; Mola de retorno sem pressão ou quebrada; Óleo de motor não especificado; Utilização de aditivos junto ao óleo de motor; Transporte ou reboque de cargas excessivas; Praticas esportivas inadequadas para a motocicleta; Manter a embreagem acionada ao parcialmente durante a pilotagem.

2. SINTOMA - Dificuldade de engatar marchas ou ponto morto com a motocicleta parada com o motor ligado.  

CAUSAS PROVÁVEIS: Empenamento dos separadores da embreagem; Desgaste excessivo em alguns pontos da campana e cubo da embreagem; Placa da embreagem empenada (foto 3); Problemas no eixo primário do câmbio.

Foto 3
3. SINTOMA: Ruídos - É comum ouvir algum barulho proveniente da embreagem, porém a somatória das folgas excessivas do conjunto irá ampliar a emissão de ruídos, os mesmos se alternam com a embreagem acionada.

CAUSAS PROVÁVEIS: Defeitos na campana da embreagem (foto 4); Defeitos de engates nos dentes e alinhamento da engrenagem da campana da embreagem e engrenagem do eixo primário (foto 5); Defeitos nos entalhes do cubo da embreagem (foto 6); Molas do amortizador da campana da embreagem com folga excessiva (foto 7).

Foto 4
Foto 5
Foto 6
Foto 7
4. SINTOMA - Vibrações e trancos - As vibrações serão percebidas durante a condução da motocicleta, assim como nos ruídos, as folgas do conjunto também promovem vibrações. Mas alguns desgastes como dentes formados nas laterais da campana ocasionados pelas linguetas radiais das bordas dos discos, ou as cavidades no cubo causadas pelas bordas internas dos separadores provocam trancos, que serão percebidos ao engatar a marcha.

CAUSAS PROVÁVEIS: Defeitos na campana; Defeito no cubo; Amortizador da campana (molas ou coxim de borracha); Discos não especificados para a motocicleta (peça não original). 

5. SINTOMA - Embreagem dura - Dificuldade de acionamento da alavanca da embreagem (manete)  ou manete pesada.

CAUSAS PROVÁVEIS: Defeitos no manete, manete não especificado; Parafuso da articulação do manete excessivamente apertado; Cabo da embreagem enferrujado, sujo ou desfiando internamente; Defeitos na parte interna da embreagem ou no eixo primário do câmbio.

6. SINTOMA - A embreagem cola - O incômodo corre somente no primeiro engate do dia, após ligar a moto, ao engatar a marcha o câmbio dá um tranco.

CAUSAS PROVÁVEIS: Tipo de lubrificante utilizado; Falta de lubrificante entre os discos.

CRITÉRIOS DE DESMONTAGEM PARA DIAGNÓSTICOS
Antes de iniciar a desmontagem do conjunto, observe cuidadosamente os detalhes  externos relacionados ao acionamento do conjunto, verifique com o proprietário da motocicleta o tipo de óleo utilizado e a quilometragem de troca. O aspecto e o odor do lubrificante do motor pode indicar que a embreagem está queimada, a alteração do lubrificante também é percebida visualmente.

FINALIDADE DOS COMPONENTES 
A função do conjunto de molas ou amortizadores de borracha é de absorver os impactos intermitentes vindos da engrenagem primária (ponta do virabrequim) e transmitidos à campana da embreagem, o objetivo é de proteger o conjunto da embreagem e tornar a pilotagem mais agradável.

AÇÕES DE DIAGNÓSTICOS E REPAROS NA EMBREGEM
Apresentamos alguns procedimentos, mas recomendamos que o reparador siga as instruções do fabricante da motocicleta

Campana da embreagem - Inspecione, analise e decida se é viável remover as ranhuras (dentes) das laterais da campana ou substituir a peça. A remoção das ranhuras pode ser feita com uma lima. 

Placa de acionamento  e rolamento - Verifique o empenamento da placa; Inspecione o rolamento, veja se ele gira livre e sem folga; Verifique se há folga entre o rolamento e o alojamento na placa.

Discos da embreagem (foto 8) - Verifique a espessura e possíveis trincas

Foto 8
Separador da embreagem
(foto 9) - Verifique o empenamento

Foto 9
Mola da embreagem
(foto 10) - Meça o comprimento livre das molas.

Foto 10
Platô de pressão
- Substitua a peça se a superfície de contato estiver gasta (foto 11)

Foto 11
DETALHES DE MONTAGEM DA EMBREAGEM
Cada motocicleta apresenta um detalhe de montagem e sincronismo do conjunto, seguir as recomendações assegurará o funcionamento da embreagem. Na montagem proceda na ordem inversa da desmontagem, lubrifique todos os discos e separadores.

• Arruela de trava “OUTSIDE”, (Honda) Instale a com a marca voltada para fora 

• A porca chanfrada (Honda) deve ser instalada com o chanfro para dentro (foto 12)

Foto 12
• Casos que utilizam anel trava, o anel deve ter o lado chanfrado voltado para o motor

• Separadores da embreagem (Yamaha): faça a distribuição do balanceamento,  posicione os discos alinhando-os pelas referências  com os pontos de fixação dos parafusos  (foto13).

Foto 13
• Monte o platô de pressão alinhando a referência, se necessário proceda ao ajuste interno de folga da embreagem (Yamaha) – 1 ajustador – 2 Referência de montagem  (foto 14).

Foto 14
• Montagem dos discos da embreagem – (MV Agusta) – posicione os discos com as referências alinhadas (foto 15).

Foto 15
REMOÇÃO DA EMBREAGEM DA YAMAHA YBR 125
Obs: Para esta operação não é necessário remover o motor da motocicleta

1. após retirar o óleo do motor remova a tampa da embreagem
2. Solte os parafusos e retire as molas
3. Retire os discos e os separadores da embreagem
4. Trave o cubo da embreagem com um fixador, com uma chave soquete 19mm solte a porca
5. Remova o cubo da embreagem

6. Remova a arruela do cubo da embreagem
8. Verifique o calço da campana da embreagem

Analise todos os componentes, substitua os itens em desacordo com a especificação do fabricante, inclua na lista a junta da tampa da embreagem e o óleo do motor, proceda à montagem na ordem inversa.

Informe ao seu cliente quanto aos cuidados com a embreagem da motocicleta, sabemos que o conjunto é sensível, porém sua vida pode ser longa dependendo das manutenções recebidas.