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Apresentada pela primeira vez em 2014, no Salão do Automóvel de São Paulo (SP), como a primeira picape produzida em todo o mundo pela Renault, a Duster Oroch é o resultado de um projeto da Technocentre Renault, da França, a quatro mãos com o Renault Design América Latina, estúdio da montadora francesa instalado na capital paulista. O objetivo da iniciativa era ambicioso: criar sobre a plataforma do SUV Duster uma nova categoria de picape de cabine dupla que fosse maior que as pequenas (Fiat Strada, Volkswagen Saveiro e Chevrolet Montana) e menor que as médias (Chevrolet S10, Ford Ranger, Toyota Hilux e Volkswagen Amarok entre outras). Para tanto, em relação à Duster, o entre-eixos do novo veículo foi esticado em 15,5 cm e a picape ficou 36 cm mais longa. E esse estica-e-puxa acabou valendo a pena: logo no primeiro mês de vida da Oroch – o nome remete ao de uma pequena tribo do sul da Rússia para dar uma conotação de resistência e força –, em novembro de 2015, a picape emplacou 1.232 unidades, superando a Ford Ranger no ranking dos mais vendidos.
A ideia de uma picape intermediária deu tão certo que logo a concorrência sentiu cheiro de algo bom no ar e tratou de meter sua colher na receita. Em fevereiro de 2016, a Fiat pôs nas ruas brasileiras a picape Toro – confira matéria na seção Premium – com dimensões semelhantes à Oroch, interrompendo o brevíssimo reinado da pioneira. Porque desde então a irmã mais nova da Duster só come poeira da rival que disparou nas vendas. Para resumir, a Toro era até junho deste ano líder absoluta de vendas entre todas as picapes e a Oroch, que desbravou seu caminho, estava em um apagado oitavo lugar. Logo, espera-se alguma reação da picape da montadora francesa produzida na planta de São José dos Pinhais, no Paraná. Que pode estar já em andamento. As duas versões 2017 com motores 2.0 e 16 válvulas do modelo – Dynamique e Dynamique Automática – já passaram a ser equipadas com direção eletro-hidráulica e um sistema de regeneração de energia trazido da Fórmula 1 para reduzir o consumo de combustível. Isso, além de outras novidades.
Nos primeiros dias de agosto, a missão recebida pela equipe de reportagem do jornal Oficina Brasil foi experimentar as novidades trazidas pela nova versão da Renault Duster Oroch Dynamique 2.0 – no caso a com transmissão manual de seis velocidades, cotada em R$ 80.090 – e apresentá-la em três oficinas independentes da cidade de São Paulo para checar como ela é recebida pelos reparadores. Afinal, aqui, a opinião deles é a que vale! As três oficinas escolhidas foram a La Macchina Serviços Automotivos, no bairro da Saúde; a Zago Auto Service, localizada no bairro do Butantã; e a Carbumac Multicenter, no bairro do Ipiranga. Nessas oficinas, nossa equipe foi recepcionada por...
Carlos Alberto de Assunção (e) e Michele Jerônymo (d) (foto 1). Filha de taxista, Michele, 34 anos, sempre foi estimulada pelo pai a mexer em carros e já adolescente tinha a ideia de ser reparadora. Com tal plano de vida foi em frente sem se intimidar com preconceitos. Nos cursos de alinhamento, balanceamento, suspensão, direção e freio que fez no Senai (Serviço Nacional da Indústria) era a única mulher da turma e isso nunca impediu seu êxito. Ao fim dos cursos, porém, novo desafio: ter a própria oficina. A chance surgiu em 2011 com a La Macchina Serviços Automotivos que está no mesmo ponto, o bairro da Saúde, há 30 anos. Convocou a irmã Daniela Jerônymo, 40 anos, como sócia, para cuidar da parte administrativa, e enxergou em Carlos Alberto, remanescente da gestão anterior da oficina, seu braço direito. Com 32 anos e há 18 trabalhando no ramo, o jovem, hoje gerente da oficina, também fez, entre outros cursos, o de injeção eletrônica no Senai. Em tempo: Michele é casada com o contabilista Windson Gomes com quem tem teve o garoto João Pedro, com dois anos. “Se ele quiser seguir a carreira da mãe terá meu apoio”, diz Michele. A La Machina atende em média 90 veículos mensais e conta, ainda, com mais dois colaboradores.
Alexandre Aversano Zago (foto 2). Com 39 anos e publicitário de formação, Alexandre é a terceira geração de uma família que desde 1954 se dedica à reparação automotiva. O avô tinha uma retífica de motores e o pai, Pedro Marcos Zago, fundou a Retífica Engediesel, em Osasco (SP). Após trabalhar com ele durante 10 anos e adquirir experiência suficiente, Alexandre resolveu, em 2006, criar a própria empresa, a Zago Auto Service, localizada no Jardim Pinheiros, bairro do Butantã, em São Paulo, que tem hoje um giro mensal aproximado de 80 veículos, a maioria de empresas. “Hoje 70% de nossos clientes são pessoas jurídicas, inclusive frotas”, descreve Alexandre que, como publicitário, procura estratégias para fidelizar clientes em tempos que estes pouco fazem manutenção preventiva. “O mínimo que fazemos é oferecer um serviço de leva-e-traz, entregar o carro lavado e com sistema de ar-condicionado higienizado, além de um serviço rápido e bem feito, pois o cliente PJ, mais do que qualquer outro, não pode ficar com o carro parado”, revela o empresário.
Marcelo e Márcio Mendes Sanches. Há 30 anos atuando no ramo da reparação automotiva, Márcio, já aos 18 anos, fundou a Carbumac Multicenter ao lado do irmão Marcelo. Ambos, claro, já tinham alguma experiência prática e uma sólida bagagem teórica. Márcio, hoje com 45 anos, graduou-se como técnico em mecânica pelo Senai, assim como o irmão Marcelo, com 48 anos. A prática, no caso, já vinha da família. Primeiro, Márcio trabalhou na oficina de um tio e tanto ele como Marcelo podiam e ainda podem contar com a vivência do pai, João Martins Sanches, de 70 anos, que pendurou as chuteiras após trabalhar boa parte de sua vida no setor de autopeças de diferentes concessionárias. Há 25 anos instalada no bairro do Ipiranga, a Carbumac dá conta de um giro mensal de aproximadamente 150 carros. “Fixar-se no mesmo ponto há um bom tempo ajuda a criar um bom relacionamento. Muitos de nossos atuais clientes são filhos de antigos clientes”, afirma Márcio. Completam a equipe da Carbumac os reparadores Pedro Luiz Casson, 24 anos, e Willan Souza da Paixão, de 19 anos. Na foto 3, João Martins aparece à frente e logo atrás vêm Marcelo (e) e Márcio (d). No alto estão Pedro e Willan.
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
As comparações entre a Oroch Dynamique 2.0 e a sua irmã mais velha Duster são inevitáveis. Visualmente continuam parecidas em suas partes dianteiras e as diferenças começam a aparecer na coluna b em diante. A montadora informa que, internamente, a ergonomia (foto 4) de ambos os modelos foi aperfeiçoada, para satisfação de Alexandre Zago, da Zago Auto Service. “Tenho um 1,90 de altura e não é qualquer carro que serve em mim. A Oroch, no caso, me vestiu bem e não me senti apertado. Ao contrário, fiquei à vontade”, afirma. Os reparadores ainda atentaram ao fato que o controle dos retrovisores elétricos agora está na porta do motorista (foto 5) e que há a possibilidade do comando one-touch para a abertura e fechamento das janelas. Mesmo assim ainda há o que melhorar. “O botão do recurso EcoMode (foto 6), que ajuda a economizar combustível, ficou em um local um tanto complicado, no painel central. É preciso esticar muito o braço para chegar até ele”, observa o reparador Márcio Sanches, da Carbumac.
Alexandre Zago destacou que o santoantônio (foto 7) aplicado à caçamba da Oroch deu um ar mais robusto ao veículo, mas não aprovou os puxadores ou maçanetas das portas (foto 8), “antiquados e que lembram demais os dos primeiros veículos da Renault produzidos no País”. Segundo ele, os para-choques de plástico (foto 9) também ficaram devendo. “Poderiam ser de metal porque picapes precisam ter uma cara mais robusta e invocada, assim como estribos dos dois lados cairiam bem”, analisa. Michele Jerônymo e Carlos Alberto, da La Maquina, elogiaram a boa visibilidade proporcionada pelo veículo. “A traseira não é muito alta como na maioria das picapes, o que permite uma visão razoável do que está acontecendo ali”, apontam.
Internamente, o painel da Oroch despertou elogios com seu acabamento black-piano (foto 10), que se estende ao revestimento das portas. “Como sempre há uma predominância do plástico duro, mas esse black-piano dá uma sensação mais suave à textura”, afirma Marcelo Sanchez, da Carbumac, que ainda destacou a boa caçamba de 683 litros (foto 11) com capacidade para levar até 650 quilos e revestida de manta plástica e que agradou em cheio aos reparadores.
AO VOLANTE DA OROCH
Ao assumirem o volante do Renault Oroch Dynamique 2.0, os reparadores tiveram reações que variaram entre a admiração pelo comportamento valente do carro e a surpresa pela introdução de novidades que fizeram bem ao seu projeto. Alexandre Zago foi um dos que se admirou ao afundar o pé no acelerador da Oroch, na Rodovia Raposo Tavares. “Imaginava esse carro com desempenho tímido, mas reformulei meu conceito. É uma picape que provoca prazer ao dirigir nas estradas. Sua dirigibilidade é agradável e ela tem uma razoável força nas retomadas, dando segurança às ultrapassagens. E sem deixar de ter uma cabine silenciosa”, descreve.
Já o reparador Márcio Sanches, da Carbumac, se surpreendeu com a função EcoMode que, segundo a montadora francesa, possibilita uma redução de até 10% no consumo de combustível ao limitar a potência e o torque do motor e, ainda, reduzir a carga do ar-condicionado. “A diferença é enorme quando acionamos essa função, a agressividade dá lugar a um comportamento bem mais manso. Logo, ela deverá economizar bastante combustível principalmente no ciclo urbano”, acredita. Segundo os reparadores, essa função EcoMode deverá fazer a Oroch corrigir um problema da primeira geração da Duster e que resulta em muitas queixas ouvidas nas oficinas independentes: o alto consumo de combustível.
Michele Jerônymo, da La Machina, chamou atenção para o eficiente controle de tração da picape depois de forçar o veículo algumas vezes em curvas mais fechadas. “Ela é obediente nas curvas e as rodas do lado de dentro tendem a ficar mais aderentes à pista, certamente pela suspensão ser inteiramente fixada ao chassi e não ao quadro. Por mim, a picape está aprovada nesse quesito”, sentenciou a reparadora. “Tanto nas curvas quanto nas retas, o comportamento da Oroch parece ser mais estável do que a maioria das picapes médias, cujas traseiras tendem a pular mais”, analisa Carlos Alberto. Talvez, porém, ela tenha ainda mais a melhorar. “Em uma estrada ela pode render bem, mas como as demais do seu segmento fica um pouco a desejar quanto ao torque. Para mim sua arrancada é um pouco fraca para um veículo com motor 2.0”, aponta Carlos Alberto, da La Machina.
MOTOR F4R
O motor Renault 2.0 16 V (foto 12) que traciona a Oroch Dynamique 2.0 2017 é o F4R de correia dentada e bloco de alumínio, velho conhecido dos reparadores independentes já que, em essência, se trata do mesmo long stroke (diâmetro x curso de 82,7 mm e 93 mm) utilizado pelo Megane produzido no Brasil desde 1998. Na picape que pesa cerca de 1.355 quilos, o F4R imprime uma aceleração de 0 a 100 km/h em 9,7 s e uma velocidade máxima de 186 km/h, gerando uma potência de 148 cv (e) 143 cv (g) a 5750 rpm e um torque de 20,9/20,2 (e/g) kgfm a 4.000 rpm.
Segundo a montadora, alguns aperfeiçoamentos aplicados ao F4R resultaram em uma redução de 10% no consumo de combustível. Um exemplo: a partir de uma mudança da força tangencial no anel do cilindro foi possível obter uma redução de atrito interno, gerando uma melhoria no consumo. Com isso, o F4R da Oroch – inclusive em sua versão equipada com câmbio automático – mereceu nota A (foto 13) no Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV) elaborado pelo Conpet, Programa Nacional da Racionalização do uso dos Derivados de Petróleo e do Gás Natural.
“Parece mesmo um motor de Megane, nosso velho conhecido, melhorado com alguns toques de modernidade”, concorda Alexandre Zago. “É um motor que não reserva muitas surpresas e todos já conhecemos. Com isso, o reparador não te