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Peugeot 304S Cabriolet, o raro conversível francês que desfila seu charme no ensolarado Brasil


Sucesso na Europa, o Peugeot 304 foi um marco para o fabricante francês, o modelo conversível é cultuado entre os colecionadores devido a sua raridade

Por: Anderson Nunes - 14 de julho de 2017

A Peugeot foi fundada em 1810, e em seus primeiros anos dedicou-se a fabricar moinhos de café e bicicletas. Em 20 de novembro de 1858 é criada a famosa logomarca, o Leão. O automóvel parecia ser um negócio promissor na virada do século XX. Em 1889 Armand Peugeot, tendo como colaborador o engenheiro Leon Serpollet, decide construir o primeiro carro da empresa, um triciclo movido a vapor batizado Tipo 1 que teve somente quatro unidades produzidas. O motor a combustão interna ditou as regras naqueles primeiros anos do automóvel, em 1890 a Peugeot obteve uma licença para produzir os motores da marca Panhard – Daimler, e o modelo recebeu o nome de Tipo 2. Um exemplar desse modelo foi vendido ao jovem Alberto Santos-Dumont, que o trouxe consigo quando retornou para o Brasil.

Com o aumento da produção Armand queria ampliar as instalações, mas Émile Peugeot, o patriarca da família, negou o investimento ao alegar que isso poderia comprometer a saúde financeira da empresa. Assim, em 2 de abril de 1896, Armand criou sua própria companhia, Société Anonyme des Automobiles Peugeot. A matriz da Peugeot está localizada na cidade de Sochaux, leste da França. Lá se encontra o museu da marca onde é possível conhecer a história de mais de 100 anos de atividades da Peugeot.

PEUGEOT, OUSADIA COM PRUDÊNCIA

Durante o período entre guerras a Peugeot, que sempre foi uma corporação prudente no tocante as suas finanças, ousou lançar na década de 1930 os modelos 202/402, que tinham como característica trazer os faróis escondidos atrás da grade e para-lamas lisos, além de um desenho aerodinâmico, uma clara tentativa da casa de Sochaux de fazer frente ao moderno Traction Avant da Citroën. Após a Segunda Guerra Mundial, a empresa, terceira em produção na França, buscou a cartilha da tradição ao lançar o médio 203 em 1948. Já na década de 1950, os sedãs 403 e 404, embora tivessem o desenho comportado, foram criações do estúdio Pininfarina, que iniciava ali uma longa parceria com o fabricante francês.

Em meados dos anos de 1960, a Peugeot começava os estudos para um veículo do segmento de pequenos, a marca do Leão havia detectado que a concorrência local estava com produtos desatualizados e sem criatividade nesse filão de mercado. Nessa época, a Simca tinha o compacto 1000 com quatro portas e motor e tração traseiros, e a Renault, com o R8 que trazia a mesma configuração do modelo da Simca. Assim em 1965, a Peugeot revolucionava o segmento com o lançamento do sedã 204, que tinha como primazias o motor transversal, todo confeccionado em alumínio, tração dianteira e suspensão independente nas quatro rodas. O modelo redefiniu o mercado francês de sedãs pequenos e agradou grande parcela dos consumidores, além de elevar a Peugeot do quarto para o segundo lugar em vendas na França, ao ultrapassar a Simca e Citroën e ficar logo atrás da Renault.

304, PEUGEOT DE SUCESSO

A concorrência não tardou a lançar novos modelos para competir com sucesso da Peugeot, a Simca trouxe os modelos 1100 e 1500, agora dotados de motores na dianteira, mas mantendo a tração traseira. A Renault por sua vez trouxe o Renault 12, agora também com motor dianteiro (longitudinal) e tração dianteira. A Peugeot não subestimou seus competidores e tratou logo de começar a trabalhar no substituto do modelo 204. Em 1967 começava o projeto D18, sobre a base do 204. O novo carro usaria toda a seção central com a mesma distância entre-eixos, o que amenizaria os custos de desenvolvimento, já a frente e a traseira eram mais longas, um dos objetivos era aumentar a capacidade do porta-malas.

  1. setembro de 1969, no Salão de Paris, era lançado o Peugeot 304. Suas linhas modernas denotavam uma clara influência das do 204, mas tinha um desenho mais reto e elegante, já que o carro era destinado a competir em um segmento superior de mercado. O visual discreto mantinha a identidade da marca como a grade do radiador com frisos horizontais, faróis hexagonais e abaixo deles estavam as luzes de seta, uma clara inspiração no modelo 504. Os para-choques eram cromados e protegidos por borrachas contra pequenos impactos. Outro destaque era o teto elevado que contribuía para deixar o ambiente mais confortável, já área envidraçada era muito boa e, se equipado com a opção de teto-solar, a claridade interna era notável.

O novo modelo familiar da Peugeot media 4,14 metros de comprimento, 1,41 m de largura, 1,57 m de altura e 2,59 m de entre-eixos. Toda a estrutura era feita em monobloco e peso de 945 kg. O painel todo forrado com material macio na parte superior garantia aos ocupantes segurança em caso de colisão. Os instrumentos pequenos e retangulares ficavam alojados dentro de uma caixa e acima havia um aplique de plástico que imitava madeira. No centro um discreto relógio e abaixo o rádio. No interior era possível levar com conforto cinco passageiros. O volante tinha dois raios.

A parte mecânica herdava o competente trem de força (XL3) utilizado no 204, montado na transversal, com bloco e cabeçote (em que estava alojado o comando de válvulas) em alumínio. Moderno, tinha 1.288 cm³, fornecia potência de 65 cv e torque máximo de 10,5 m.kgf, alimentado por um carburador Solex. O baixo peso possibilitava o 304 atingir velocidade máxima de 155 km/h, ajudado pelo câmbio manual de quatro marchas. A suspensão independente fazia do modelo um carro muito estável, mesmo contando com pneus estreitos de medida 145 SR 14. Freios a disco na dianteira e tambor na traseira. Essas características chamaram a atenção da polícia francesa, que incorporou o modelo a sua frota.

A FAMÍLIA CRESCE

No Salão de Genebra de 1970, eram lançados o cupê e conversível. Esteticamente havia novas lanternas traseiras, que eram quadradas e a luz de ré ficava separada do conjunto – no sedã as lentes eram verticais e separadas, e agrupava as luzes de ré e setas. Ambos eram bonitos e o conversível tinha charme para circular pela Riviera francesa. No mesmo ano era lançada a perua (na França chamada de Break).

A partir de 1971 o dínamo foi substituído pelo alternador e a produção do modelo 304 passou a ficar concentrada na unidade fabril de Mulhouse, no leste da França, região da Alsácia, fronteira com a Alemanha. Um ano depois era apresentada a versão S, destinada a princípio ao cupê e ao conversível, e posteriormente ao sedã. O motor (XL3S) mantinha a cilindrada e ganhava um carburador de corpo duplo, novo cabeçote, coletores de admissão e escape menos restritivos, isso fez a potência saltar para 75 cv e a velocidade máxima para 160 km/h. Por fora era identificado por um S na traseira, além de novas rodas de alumínio de desenho mais elaborado.

A concorrência avançou a passos largos nos cinco anos seguintes. Dentro de casa havia além da Renault e Simca, o embate com o Citroën GS. Na Alemanha despontavam o VW Golf e Opel Kadett. Na Itália a Fiat oferecia o seu modelo 124 e, na Inglaterra, o Austin Allegro e o Sunbeam 1250. Mesmo assim a Peugeot preferiu mexer pouco no 304 e em lugares pontuais, já que o substituto do modelo já estava em fase de testes.

Para 1975 o painel mudava por completo e ganhava três mostradores circulares, inclusive o conta-giros. Volante de dois raios passou a ser revestido em material emborrachado, e a parte superior do painel trocou o acabamento que imitava madeira por plástico acetinado. Os bancos ganharam um novo desenho e agora havia a opção de apoio de cabeça. Por fora recebia novas lanternas traseiras em formato retangular e os pneus passavam a ser na medida 155 SR 14. Nesse ano o cupê saia de linha e pouco tempo após o conversível.

Em julho de 1976 chegava a opção do motor a diesel para o sedã, dois meses depois a perua e o Fourgonette, versão comercial da perua sem os vidros laterais, que passavam a dispor do trem de força a óleo diesel. Com quatro cilindros e 1.357 cm³ rendia parcos 47 cv. A Peugeot, que tem tradição nesse tipo de combustível, também ofereceu esse propulsor a outras marcas.

O Peugeot 304 permaneceu em produção até 1979, dividindo a linha de montagem com seu sucessor, o modelo 305, que tinha sido posto à venda a partir de 1977. A produção do 304 cessou no verão de 1980, quando as últimos carros deixaram as dependências da unidade de Mulhouse. Durante os 11 anos de fabricação foram produzidos perto 1,2 milhões de unidades, das quais cerca de 36% foram exportadas, principalmente para dentro da Europa. Fora do velho mundo o Peugeot 304 encontrou no Egito um dos mercados mais promissores para o modelo, que foi muito utilizado pelo serviço de táxi.

CONVERSÍVEL GAULÊS

A versão conversível, a mais charmosa do Peugeot 304, também é nos dias de hoje o modelo mais raro. Pouco mais de 18 mil unidades deixaram a linha de produção entre os anos de 1970-1975. Desse total 836 carros foram exportados para o Reino Unido com volante do lado direito. No Brasil alguns modelos aportaram por aqui no início dos anos 70, muito provavelmente trazidos pelas embaixadas. O humorista Chico Anysio foi proprietário de um 304S cabriolet azul ano 1972.

O Peugeot 304S Cabriolet 1974 dourado que ilustra nossa reportagem pertence ao comerciante e colecionador de carros Cezar Cancelier, 37, morador da cidade de Criciúma, Santa Catarina. Apaixonado por carros antigos o comerciante adquiriu sua primeira raridade aos 16 anos, quando um Dodge Polara GL 1980 passou a residir em sua garagem. Já o Peugeot 304S conversível está com ele desde 2008. “Soube da existência desse Peugeot 304 por indicação de um amigo. Devido o modelo ser raro e ainda conversível de dois lugares, esses detalhes chamaram muito a minha atenção e por isso resolvi adquiri-lo”, conta Cancelier.

Embora o carro estivesse íntegro e bastante original, ele necessitava de uma restauração. “Processo de restauro foi tranquilo já que a carroceria não apresentava problemas de ferrugem, entretanto algumas peças foram somente encontradas na França e assim mesmo com muita pesquisa”, salienta o dono.

O proprietário diz que o Peugeot 304 conversível chama muita atenção nas ruas, já que as pessoas ficam surpresas ao saber que é um modelo da fabricante francesa, ainda mais sendo conversível de dois lugares dos anos 70. “O ponto forte desse modelo é a exclusividade, pois em pesquisas descobri que há menos de 10 unidades remanescentes aqui no Brasil. Já o ponto fraco é a questão de peças que tem ser trazidas de fora, mas hoje em dia a internet ajuda nisso”, explica Cezar.

Mesmo sendo raro Cezar Cancelier ainda tem mais uma unidade do Peugeot 304S Cabriolet em sua garagem, que no momento passa por uma manutenção na mecânica. “No momento tenho feito a manutenção do motor deste outro Peugeot 304S conversível, já importei todas as peças. O modelo dourado está à venda já que não faz sentindo ficar com dois modelos iguais na garagem, logo um carro desse em uma garagem diferente fará mais um colecionador feliz como eu sou com esse Peugeot”, diz sorridente.

AGRADECIMENTO: André Jacquillat