Notícias
Vídeos

Problemas com as transmissões AISIN AB60F e TF81SC aplicadas na Hilux, Prado e outros


Reclamações de técnicos que trabalham nas transmissões Toyota Aisin, que após a manutenção apresentam engates duros e tranco na marcha à ré, mas antes do reparo não apresentavam este tipo de problema

Por: Carlos Napoletano Neto - 13 de agosto de 2020

Mesmo no tempo das transmissões Aisin A540-E presentes nos veículos Toyota Camry do passado, este tipo de falha já se apresentava, e foi considerada pelos técnicos como decorrente de desgaste dos componentes, mesmo após a reforma.

Quando uma destas transmissões foi desmontada há alguns anos em nossa oficina, um dos técnicos que acompanhavam a reforma da A540-E notou que ao substituir os discos queimados da embreagem C3, o técnico encarregado da reforma da caixa deixou de observar que o pacote de discos danificados não era exatamente igual ao pacote de discos novos que estavam sendo repostos. Um dos discos do conjunto removido era ondulado, e o conjunto de discos novos eram todos planos. O técnico assistente informou que se os discos todos planos fossem colocados no conjunto da embreagem C2, nesta transmissão A540-E eles gerariam engates duros na mudança de 2ª para 3ª marcha, e trancos no engate da Ré. Isto esclareceu um monte de dúvidas sobre a estratégia da Toyota para estas transmissões. Esta informação ficou arquivada! De vez em quando ainda se vê alguma transmissão deste modelo apresentando problemas de engates duros ou trancos nestas marchas. 

Voltando ao presente, vamos falar da transmissão AB60F aplicada na Toyota HILUX 5.7L 4x4 2007 com 6 marchas, ou TR 81SC. Este veículo chegou em emergência na oficina apresentando dois códigos de falha, P2714 e P0766. O código P2714 se refere a desempenho do solenoide regulador de pressão “D” (válvula de mudança SLT). O solenoide de mudança linear controla a pressão de linha da transmissão para que as mudanças ocorram de forma suave baseado nos sinais do sensor de posição da borboleta do acelerador e sensor de velocidade do veículo.

O código P0766, por outro lado, se refere ao desempenho do solenoide de mudança S4 que se encontra travado, segundo o programa do módulo, gerando mudanças com trancos e tornando impossíveis os engates da 5ª e 6ª marchas. 

Os códigos foram apagados e o veículo foi levado para um teste de estrada. Durante o teste descobriu-se que a 5ª e 6ª marchas não engatavam. Quando voltamos à oficina e inspecionamos o fluido, ele estava muito escuro e cheirava a queimado! (Fig.1)

A transmissão foi novamente abastecida com fluido original tipo WS e o módulo foi reiniciado seguindo os procedimentos padrão. Após levar o veículo para um novo teste de estrada para reaprendizado da transmissão, um novo problema apareceu.Durante a desmontagem encontramos os discos da embreagem C2 queimados. Uma reforma completa da transmissão foi efetuada e tanto o solenoide regulador de pressão SLT quanto o solenoide de mudança S4 foram substituídos.

As mudanças de 2ª para 3ª marcha apresentavam engates duros quando o acelerador era pressionado em cerca de 20%, cantando até os pneus, e a ré apresentava um tranco muito grande. Acelerações com abertura de borboleta muito leve, Kick-downs e reduções eram normais.

O problema era somente nas mudanças 2-3 e mudanças para marcha à ré. A primeira coisa que fizemos foi que deveria haver uma mola de acumulador em posição errada no corpo de válvulas (figura 2). O corpo de válvulas e os acumuladores foram removidos, somente para se certificar que tudo estava em seus devidos lugares. 

O próximo passo foi inspecionar as embreagens e freios com ar comprimido. Primariamente, a embreagem C3 que é aplicada nas mudanças 2-3 foi inspecionada e tudo estava OK, com um teste de ar a 30 psi. Portanto, qual poderia ser o problema?

A única coisa que ainda não tinha sido verificada até este ponto era a pressão de linha, mas poderíamos pensar: se a pressão de linha estivesse alta, se esperariam outros problemas de mudanças de marcha, e não somente a mudança 2-3. Porém, precisávamos ter certeza antes de remover novamente a transmissão para exame. 

Assim, instalamos novamente os acumuladores, corpo de válvulas, colocamos fluido e instalamos o manômetro para medir a pressão. A pressão de linha em marcha lenta e em Drive deveria ser de 50-60 psi e a pressão em Stall de 180-195 psi, e em ré e marcha lenta, a pressão deveria ficar entre 70-80 psi e em Stall entre 210 e 235 psi. 

Neste ponto da reforma, quando as opções vão ficando escassas, nos lembramos do problema dos discos na transmissão A540E do Camry, há vários anos atrás. Olhando a tabela de aplicação dos elementos desta transmissão vemos que a embreagem C3 é aplicada em 3ª e ré. Desta vez, tivemos de remover novamente a transmissão para inspecionar com mais atenção à embreagem C3 quando à formação do conjunto de discos. 

Na análise, vemos que existem 5 discos revestidos e cinco discos de aço no conjunto. Ao medir o conjunto de discos na bancada, os discos da embreagem fornecidos no kit possuíam uma altura livre de 7,39 mm e nenhum disco ondulado no conjunto. Após verificar com nosso fornecedor de peças, chegamos à conclusão que existe um disco ondulado à venda separadamente, código Raybestos #R560480. Ao instalar este novo disco ondulado e medir novamente o conjunto, verificamos a medida de 7,95 mm para o pacote de discos.

Assim, existia uma diferença dimensional de 0,56 mm entre os dois conjuntos, ou seja, uma eficiência de amortecimento de 0,56 mm que faz toda a diferença quando das mudanças 2-3 e engate da Ré.

No teste real, instalamos novamente a transmissão no veículo e o levamos para um novo teste drive. Após um longo percurso, a transmissão se comportou perfeitamente!!

Portanto, técnicos reparadores, tomem bastante cuidado e se lembrem sempre desta matéria que é resultado de uma experiência real, de sempre conferir o que se tira de uma transmissão, e o que se coloca de volta, para evitar aborrecimentos que consomem tempo e dinheiro!!!

Bom mês de trabalho e até a próxima!!