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Consumo de combustível em São Paulo cai pela metade e a poluição acompanha esta redução


Em época de quarentena e com a ausência de circulação de veículos na cidade, principalmente ônibus diesel, atingimos níveis de qualidade do ar elevadas e isso contribui com a recuperação da saúde da população

Por: Antônio Gaspar de Oliveira - 06 de agosto de 2020

A diminuição das atividades comerciais e a consequente diminuição de veículos e circulação geraram um resultado inesperado, a redução das emissões atmosféricas geradas por fontes móveis na região metropolitana de São Paulo. A Cetesb possui uma estrutura com 29 estações de monitoramento da qualidade do ar que, desde meados do mês de março de 2020, vem indicando como boa, isso se aplica aos poluentes primários, que são aqueles emitidos diretamente pelas fontes poluidoras, ou seja, os veículos. 

Devemos considerar também a quantidade de poeira ou partículas em suspensão que fica depositada nas superfícies dos prédios, solos, ruas e avenidas, devido à ausência de movimentação dos veículos. Outro benefício que está sendo somado a isso são as condições climáticas que contribuem com a dispersão dos poluentes e mesmo sem ter muita precisão na coleta de informações, é possível ver nitidamente que o ar na capital paulista está mais limpo.

A presença do monóxido de carbono é uma indicação de emissões veiculares nas grandes cidades e neste período foram registrados os níveis mais baixos dos últimos anos. Como parâmetro, a concentração máxima foi de 1,0 ppm (média de 8horas), medida na estação marginal Tietê, zona oeste na ponte dos Remédios, onde o padrão é de 9 ppm (ver a 1ª e 2ª linha da tabela). Estes níveis tão baixos só foram conseguidos em 2008 com os programas de controles de poluição na capital. Na realidade, estamos fazendo um experimento forçado inédito em se tratando de poluição atmosférica que nos permite fazer medições praticamente impossíveis de serem realizadas em dias de normalidade no trânsito de São Paulo.

Os padrões de qualidade do ar seguem regulamentações específicas que podem estar em três níveis – federal, estadual e municipal.

Inicialmente foram estabelecidos em 1976, pelo Decreto Estadual nº 8468/76, e os padrões nacionais foram estabelecidos pelo IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e aprovados pelo CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente, por meio da Resolução CONAMA nº 03/90.

A Organização Mundial de Saúde – OMS publicou em 2005 um documento com uma revisão dos valores-guia para os poluentes atmosféricos, visando à proteção da saúde das pessoas, considerando os conhecimentos científicos da época.

O Estado de São Paulo iniciou em 2008 um processo de revisão dos padrões de qualidade do ar, tomando como base as diretrizes estabelecidas pela OMS, que resultou na publicação do Decreto Estadual nº 59113 de 23/04/2013, estabelecendo novos padrões de qualidade do ar utilizando um conjunto de metas gradativas e progressivas para que a poluição atmosférica seja reduzida a níveis desejáveis com o passar do tempo.

Os parâmetros contemplados pela estrutura do índice utilizado pela CETESB são:

  • Partículas inaláveis (MP10);
  • Partículas inaláveis finas (MP2,5);
  • Fumaça (FMC);
  • Ozônio (O3);
  • Monóxido de carbono (CO);
  • Dióxido de nitrogênio (NO2);
  • Dióxido de enxofre (SO2).

Para cada poluente medido é calculado um índice,  dependendo do índice obtido o ar recebe uma qualificação, que é uma nota para a qualidade do ar, além de uma cor, que especifica os malefícios à saúde das pessoas e a intensidade é proporcional ao volume de poluentes lançados na atmosfera, isso pode ser observado nos campos dispostos na tabela.

Uma referência utilizada para o cálculo dos níveis de poluição veicular é o consumo de combustível que caiu pela metade, essa redução de 50% nas vendas nos postos de combustíveis fez a poluição acompanhar também esta queda.

O cenário das ruas vazias causa incômodo, preocupação e incerteza sobre o que pode acontecer com a saúde das pessoas e também com a economia do país que vive um drama de manter viva as pessoas que estão confinadas em suas casas e o trabalho nas empresas que correm um grande risco de serem fechadas por falta de produtividade. A redução da poluição é uma ótima notícia, mas não podemos esquecer que o trabalho dignifica a pessoa e mantém viva a economia do país.

Outra evidência da melhora na qualidade do ar na região metropolitana de São Paulo são as imagens de satélite realizadas anteriormente ao período, comparadas com outra imagem realizada durante a quarentena. A mancha escura indica a concentração de poluentes na atmosfera sobre a região que foi sendo dissipada com o passar dos dias sem veículos trafegando nas ruas. Com a redução na queima de combustíveis do setor de transporte e automóveis de passeio, tornaram-se mais claras as manchas de poluição detectadas por satélite. 

Acessar um relatório de uma estação de monitoramento da Cetesb neste período de poucos veículos nas ruas é gratificante, observa-se que todos os parâmetros estão na cor verde. Este registro foi realizado no dia 22 de abril de 2020 na estação instalada na região de Osasco, na região metropolitana de São Paulo. 

Esta melhoria na qualidade do ar também foi observada nos países afetados durante o período da epidemia e mesmo não sendo noticiado, a boa qualidade do ar nas grandes cidades tem contribuído bastante na preservação e recuperação da saúde dos seus habitantes.