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Trocar a bateria não é a solução quando o defeito está no sistema de carga da motocicleta


Vamos entender como diagnosticar o sistema de carga da bateria, verificar possíveis fugas de corrente elétrica e identificar as causas de defeitos, antes de tomar a decisão de fazer a troca da bateria.

Por: Paulo José de Souza - 14 de abril de 2022

Há exatos 10 anos escrevi aqui na coluna Motos e Serviços sobre a importância dos diagnósticos no sistema de carga da bateria, após todo esse tempo ainda me deparo com motocicletas que tiveram a bateria trocada na tentativa de solucionar um defeito no sistema elétrico, por isso resolvi reescrever a matéria para o leitor. 

Alguns reparadores entendem que para solucionar um problema elétrico substituem a bateria sem constatar a real necessidade disso, trocar a peça não é garantia que o mau funcionamento será eliminado. Serviço bem feito exige um determinado critério de análise, a causa do defeito pode estar em outra parte da motocicleta.  

O sistema eletroeletrônico é repleto de fios e componentes que são alimentados direta e indiretamente pela bateria, porém o diagnóstico inadequado ou a falta de diagnóstico pode significar ter que fazer o mesmo serviço mais de uma vez, o que certamente irá aborrecer o cliente. Consequentemente, a oficina irá arcar com os prejuízos, e para complicar ainda mais a situação, o cliente colocará em dúvida a competência do profissional quanto à realização dos reparos na motocicleta. 

A solução para evitar esse problema é conhecer o sistema elétrico da motocicleta e entender como funciona cada componente, quais os procedimentos de diagnósticos e reparos recomendados pelos fabricantes. 

 Entendendo a lógica da parte elétrica da motocicleta - No sistema elétrico da motocicleta há um equilíbrio, tudo foi baseado em um projeto, a estrutura possui como fonte de energia um alternador apropriado ao modelo de motocicleta, o gerador é capaz de alimentar os componentes que trabalham com a tensão (AC) e também produzir energia que depois de retificada será armazenada na bateria e assim suprir os demais elementos consumidores do sistema (DC) elétrico.  

Na motocicleta há sempre uma pequena sobra de energia, porém nem sempre esse excedente produzido será capaz de alimentar componentes adicionais. 

Para o caso de instalação de um acessório que geraria um consumo extra, como por exemplo: alarme, rastreador, lâmpadas mais potentes etc., a bateria pode não dar conta da demanda complementar. 

Em caso de instalação de acessórios o alternador original pode não conseguir gerar energia suficiente capaz de completar a carga da bateria, a qual, por sua vez, não terá capacidade de suprir a possível demanda excessiva ocasionada pela instalação de componentes não originais. 

O resultado será certamente uma bateria com carga incompleta que trará complicações no momento em que for mais solicitada, apresentando dificuldades na partida principalmente em dias frios, além disso, pode ocorrer funcionamento irregular do sistema de injeção eletrônica. Uma bateria com carga incompleta pode ter sua vida útil reduzida. 

UMA BATERIA MAIOR NÃO É A SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS

Normalmente, a instalação de uma bateria maior e de um alternador mais potente exigiria alterações nas estruturas física e elétrica da motocicleta, além de estarem limitadas ao pouco espaço disponível, portanto as alterações não são viáveis. 

Para assegurar o equilíbrio elétrico da motocicleta é necessário manter todos os componentes originais, ou utilizar similares que apresentem o mesmo consumo. 

FALHAS DE INSTALAÇÃO DA BATERIA 

A correta instalação da bateria é importante para que o sistema de carga supra a demanda exercida sobre a mesma. 

Certifique-se que o fusível está bom e os cabos da bateria (positivo e negativo) estão encaixados nos respectivos terminais e seus parafusos corretamente apertados e livres de ferrugem e demais oxidações, que provocam queda de tensão durante o processo de carregamento e funcionamento da motocicleta. 

BATERIA FRACA 

O recomendável é que a bateria possua no mínimo 75% de sua carga, o sistema da motocicleta é capaz de carregá-la até completá-la. Porém, a pouca utilização do veículo proporciona um suprimento de carga inferior ao consumo geral da motocicleta, ocasionando assim a curto tempo uma carga insuficiente para a bateria.  

Nesse caso não há defeito na bateria e nem no sistema de carga da moto; a solução é rever a maneira de utilização da motocicleta, tal atitude é comum na época do inverno. 

Outra prática que implica no descarregamento da bateria é quando o usuário, ao utilizar sua motocicleta, não percebe que seu pé direito ou a mão estão  repousando sobre uma das alavancas do sistema de freios, acionando assim a luz, que proporciona um consumo elevado da carga da bateria, pois o sistema utiliza uma ou mais lâmpadas na faixa entre 21 a 23 Watts. 

Outro ponto importante que também gera consumo excessivo da carga da bateria é a dificuldade no funcionamento do motor, que geralmente força o motociclista a solicitar a partida elétrica por inúmeras vezes, nessa condição a causa do problema pode estar relacionada à mecânica ou ao sistema de alimentação.  

E por último existe um tipo de usuário que deixa o farol da motocicleta ligado com o motor desligado, provocando assim descarga da bateria. 

MOTOCICLETA PARADA E A SULFATAÇÃO DA BATERIA 

Quando a motocicleta é pouco utilizada ou usada apenas nas épocas mais quentes do ano (sazonalmente), carregue a bateria e armazene-a em um local ventilado longe do alcance de crianças e animais. 

Se for necessário que a bateria permaneça na motocicleta, desconecte os terminais negativo e positivo respectivamente. Verifique a tensão da bateria mensalmente, se necessário aplique carga.  

ANÁLISE DA BATERIA  

Cada fabricante define uma receita para tratamento e análise da bateria, apresentamos dois exemplos de valores referência para diagnósticos: - Voltagem da bateria a 20°C 

Honda Titan 150: 

Bateria totalmente carregada: 13,0V a 13,2V 

Bateria necessitando de carga: abaixo de 12,4V 

Yamaha YS Fazer 250: 

Bateria totalmente carregada: - 13,0V 

Bateria necessitando de carga: - abaixo de 12,8V.

A carga poupará a bateria de um processo destrutivo que ocorre quando está descarregada. Esse processo é conhecido como sulfatação e dependendo da condição, poderá ser irreversível, nesse caso a bateria deverá ser trocada. 

Carga lenta é a mais recomendada, no carregador o ajuste da corrente (A) de carga deve ser equivalente a 10% da corrente nominal da bateria, exemplo: se a bateria tem 5A carregue-a com 0,5A ou 500mA. 

PROCESSO DE AUTODESCARGA DA BATERIA 

Mesmo que não haja nenhum componente consumindo energia elétrica da motocicleta toda bateria tem uma tendência natural a descarregar-se (lentamente) principalmente quando há pouco uso da motocicleta. O processo de descarga varia de moto para moto e depende da tecnologia aplicada à motocicleta e tempo de vida da peça. 

Nem sempre a bateria tem de ser substituída, alguns casos é só questão de repor a carga.  

As motocicletas mais sofisticadas são providas de alguns acessórios originais de fábrica, que consomem energia mesmo com o interruptor principal desligado, como os computadores de bordo, painel equipado com relógio, leds que piscam todo o tempo e até outros dispositivos de segurança que estão entre os itens que mais consomem. 

SOBRECARGA NA BATERIA 

Se a bateria estragar, não adianta trocar a peça sem saber a real causa da pane, sobrecarga quer dizer carga excessiva, ou seja, um aumento da corrente de carga é o que causa o efeito da sobrecarga e provoca a alta temperatura, proporcionada pelo processo de carregamento da bateria. 

O regulador/retificador de voltagem impróprio ou defeituoso pode ser a peça responsável pela carga excessiva na bateria. Para as baterias convencionais vale lembrar que o consumo excessivo do eletrólito pode ser um indicador do excesso de temperatura derivada da sobrecarga. 

FUGA DE CORRENTE DA BATERIA 

O processo pelo qual a corrente (A) da bateria descarrega é causado geralmente por um curto-circuito em algum componente do sistema eletroeletrônico. 

A fuga é detectada quando todos os componentes da motocicleta estão desligados e mesmo assim é registrado um consumo de energia elétrica.  

Se o consumo for alto, a bateria em breve descarregará ou permanecerá parcialmente descarregada. Ambas as condições comprometerão sua vida útil e, por isso, é um defeito e deve ser corrigido. 

COMO MEDIR A FUGA DE CORRENTE (A) DA BATERIA 

O procedimento para medir a fuga de corrente ou “corrente em vazio”, é o seguinte: 

1. Desligue a motocicleta e remova a chave do interruptor da ignição. 

 2. Com um multímetro, utilize a escala DCA (para medir amperagem). 

Dica: é conveniente deixar uma margem de segurança no aparelho selecionando a escala mais alta para poupar o amperímetro de um dano. 

 3. Faça o ajuste fino da escala para dar mais precisão à leitura. 

Motocicleta Yamaha YS Fazer 250 (ref. 2011) - O procedimento para avaliar fuga de corrente deve ser o seguinte: 

 1. Remova o fusível principal e faça a leitura em série ou remova o cabo positivo da bateria da motocicleta. 

2. Com o multímetro em mãos, instale a ponta de prova preta do aparelho ligado em série com cabo positivo da motocicleta; e a ponta de prova vermelha do multímetro ao polo positivo da bateria. (o resultado será o mesmo se o teste for realizado no polo negativo da bateria). 

3. A fuga máxima de corrente permitida é igual a zero “0”. 

Motocicleta Honda Titan 150 (ref.2010) 

1. Solte o cabo negativo da bateria da motocicleta. 

2. Com o multímetro em mãos, instale a ponta de prova vermelha do aparelho ligado em série com cabo negativo da motocicleta e a ponta de prova preta do multímetro ao polo negativo da bateria. 

3. fuga máxima de corrente permitida: 0,01 mA. 

Nota: Para ambos os casos, se a fuga for diferente do limite estabelecido pelo fabricante da motocicleta, significa que o sistema opera com um curto-circuito. Assim, localize a causa desligando os componentes da motocicleta, um a um, até que o problema desapareça e depois execute a operação de montagem na ordem inversa e execute o reparo. 

COMO MEDIR A TENSÃO (V) DE CARGA DA BATERIA 

Outro procedimento de avaliação do sistema de carga é checar o valor de tensão (V) que entra na bateria no momento do funcionamento da motocicleta. Para a exatidão do teste é necessário que a bateria esteja com a carga completa. (para a realização desse teste não será necessário remover nenhum terminal da bateria) 

1. Com um multímetro utilize a escala DC 20V em paralelo. 

 2. Conecte a ponta preta do multímetro no polo negativo da bateria e a ponta vermelha do multímetro no polo positivo da bateria. 

 3. Dê a partida no motor e acelere até cerca de 5.000 rpm. 

 4. Confira a voltagem no aparelho. 

5. Se a tensão estiver abaixo do valor estabelecido, verifique bobinas de carga, volante do motor, regulador/retificador da bateria e conexões. 

6. Se a tensão estiver acima do valor estabelecido, verifique regulador/retificador da bateria. 

Valores referência para diagnósticos: 

Motocicleta Yamaha YS Fazer 250 (ref. 2011) - Voltagem regulada do sistema de carga a 5000 rpm, tensão da bateria 12,5 a 14,5V a 5.000 rpm  

Motocicleta Honda Titan 150 (ref.2009) - Voltagem regulada do sistema de carga a 5000 rpm, tensão da bateria 12,1 V a 13,1V.