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Motocicleta bicombustível é mais sensível, em dias frios pode ter dificuldades na partida


Nessa onda de temperaturas baixas típicas de inverno, é normal que algumas motocicletas apresentem dificuldades e não peguem nas primeiras partidas. Esse sintoma apresentado seria defeito ou característica?

Por: Paulo José de Souza - 02 de outubro de 2019

Por mais simples que pareça, pode ser que o cliente da oficina tenha essa dúvida sobre problemas na partida. Mesmo com toda tecnologia embarcada a motocicleta bicombustível pode ter complicações, e apresentar dificuldades na partida durante o inverno.

O propósito desta matéria não é criticar a motocicleta flex, nem tão pouco o uso do etanol (álcool combustível), nosso objetivo é alertar usuários e mecânicos quanto à possibilidade da motocicleta apresentar dificuldades na partida ou não pegar em dias frios. É importante ter em mente que nem sempre há defeito na motocicleta, alguns casos é só a questão do abastecimento de combustível na proporção recomendada pelo fabricante do veículo. As motocicletas Flex não contam com o reservatório adicional para a gasolina como os automóveis, os dispositivos facilitam a partida a frio em qualquer condição de temperatura. Na moto o sistema é mais simples, a mistura dos combustíveis é feita diretamente no tanque, cerca de 20% de gasolina adicionada ao álcool, taí a explicação para o nome “Mix” que foi o primeiro nome de batismo da Honda CG 150 bicombustível, posteriormente ela teve mudanças e passou a ser chamada de “Flex”.

Então de onde vem a dificuldade na partida em dias frios? Em resumo, quando há ausência de gasolina ou o percentual adicionado no álcool está abaixo do especificado pode ser a razão da dificuldade no funcionamento do motor. Essa ocorrência já está prevista nos manuais dos fabricantes de motocicletas há muito tempo. Podemos entender como característica, e não defeito da tecnologia, a “dificuldade” de fazer o motor funcionar no frio, é peculiaridade do álcool, portanto o controle do volume de gasolina misturada no álcool é fundamental.

Para facilitar a partida é necessário um percentual de gasolina misturada no álcool direto no tanque, assim o motor funcionará rapidamente até nos dias mais frios.

dias quentes o motor pega nas primeiras partidas, mesmo que a proporção de gasolina esteja abaixo do recomendado, isso faz que o usuário não se preocupe com o abastecimento de gasolina no álcool. Mas quando a temperatura ambiente cair para valores próximos dos 15°C ou menos certamente haverá complicações na partida.

Cuidado, não devemos culpar o clima pelo mau funcionamento do motor

É necessário levar em consideração a condição de conservação da motocicleta, lembrando aquela “velha história” que os combustíveis devem ser novos e de boa qualidade, do contrário a regra será quebrada e a moto irá apresentar uma série de dificuldades na partida e funcionamento da marcha lenta.

Combustível ruim traz consequências aos componentes como: válvulas, sensor de oxigênio, catalisador etc..

Quando o motor não pega ou demora muito para funcionar pode ser um indicador de descuidos como ausência de manutenção ou um defeito presente.

Então, por onde começar os diagnósticos?

A primeira etapa dos diagnósticos deve ser iniciada pelos itens mais simples, na análise é conveniente ver há quanto tempo não é feita a manutenção preventiva definida pelo fabricante. O reparador deverá eliminar as possíveis causas relacionadas à lista de serviços. Pense nos itens: bateria, filtro de ar, filtro de combustível, vela de ignição etc. Só para ilustrar, a bateria é sensível a baixas temperaturas, por isso a tensão e a condição da peça são fundamentais para o bom funcionamento do sistema de injeção eletrônica e partidas rápidas.

A segunda etapa da detecção da(s) causa(s) do mau funcionamento exigirá um pouco mais de raciocínio. Como dica, sugerimos que o reparador pense em um defeito clássico que é a falha no reconhecimento do combustível em conjunto com o funcionamento da lâmpada “ALC”, das motocicletas “FLEX” ou “MIX” dos modelos Titan/Bros e outras.

O módulo do motor (ECM) não ajustará a injeção eletrônica para o combustível ou a mistura dos combustíveis álcool e gasolina presente no tanque da motocicleta.

A peça que faz a identificação da mistura dos combustíveis é o sensor de oxigênio (sonda lambda), mas calma, ainda não é hora de culpar o sensor lambda.

Falha no reconhecimento do combustível pode estar indicando a necessidade do procedimento de reinicialização do módulo de controle do motor (ECM).

Reinicialização do módulo de controle do motor é o mesmo que selecionar entre os mapas disponíveis no ECM a opção correspondente à gasolina. O procedimento de reinicialização já foi apresentado em matérias anteriores aqui na coluna Motos e Serviços do Jornal Oficina Brasil. A pergunta do leitor pode ser está: Quando devemos realizar a reinicialização do ECM ?

Como ação preventiva, o procedimento deve ser efetuado sempre que houver algum tipo de reparo no sistema de injeção eletrônica ou a substituição dos seguintes itens: módulo do motor (ECM), sensores, atuadores etc.

Quando o procedimento não é realizado podem ocorrer falhas na identificação do combustível, e o funcionamento das luzes será confuso, e assim podem ocorrer sintomas de funcionamento irregular do motor.

Como ação corretiva, o procedimento deve ser executado se o sistema já não reconhecer o combustível indicado pelas luzes de alerta do painel da motocicleta, nesta condição cabe uma análise no sensor de oxigênio (sonda lambda) .

O sensor analisa os gases no escapamento e informa ao módulo eletrônico (ECM) qual combustível ou proporção de mistura está sendo queimado na câmara de combustão, assim as estratégias serão definidas dentro de um programa determinado para aquele combustível e o funcionamento do motor seja otimizado, garantindo melhor potência, menor índice de emissões, maior autonomia e economia no bolso. Verifique também se há indicação de defeitos no sistema de injeção por meio de piscadas da luz de alerta de mau funcionamento (MIL) no painel da motocicleta. (Fig.1)

Motocicleta bicombustível é mais sensível, em dias frios pode ter dificuldades na partida

Fig. 1 – ECM - programas da mistura de combustíveis

Lógica dos programas da mistura dos combustíveis do sistema PGM-FI

O módulo eletrônico (ECM) possui programas exclusivos que preveem a utilização de gasolina, álcool ou a mistura de ambos. O ECM selecionará a melhor opção entre os programas previstos. A seleção do módulo do motor fará ajustes no tempo de injeção e ignição em função das possíveis combinações dos combustíveis informadas pelo sensor de oxigênio. Dentro dos padrões de mistura de combustíveis o programa prevê quatro condições: somente gasolina, somente álcool, mais álcool que gasolina ou mais gasolina que álcool na mistura. 

Motocicleta bicombustível é mais sensível, em dias frios pode ter dificuldades na partida

Fig. 2 - Painel de instrumentos - luzes “MIX” e “ALC” indicação de mistura de combustíveis álcool e gasolina

No painel da motocicleta ”MIX” há um conjunto de lâmpadas que tem o objetivo de orientar e alertar o usuário da motocicleta quanto ao combustível utilizado e a necessidade de colocar mais gasolina no álcool, ou seja, uma luz “MIX” e uma “ALC”, já na versão “FLEX” há somente uma lâmpada “ALC”, porém a estratégia de funcionamento é a mesma. As lâmpadas têm a função de alerta para o motociclista controlar o percentual de gasolina no álcool e assim não ser surpreendido nos dias frios.

A luz “ALC” funciona quando o contato da ignição é ligado e a temperatura está acima dos 15°C, indicando que há mais álcool do que gasolina. Se a temperatura ambiente estiver abaixo dos 15°C o indicador de concentração de álcool começará a emitir um alerta em forma de piscadas avisando que haverá dificuldade nas partidas.

Outras causas de dificuldades na partida do motor

  • Obstruções no injetor de combustível;
  • Entupimento nas passagens de ar do corpo de borboleta de aceleração;
  • IACV (Motor de passo) com mau funcionamento;
  • Falhas nas conexões elétricas do circuito de alimentação do ECM;
  • Falhas nas conexões elétricas dos sensores;
  • Falhas ou oxidações na pinagem do ECM;
  • Falhas de contato no painel da motocicleta;
  • Falhas no funcionamento da bomba de combustível.

Motocicleta bicombustível é mais sensível, em dias frios pode ter dificuldades na partida

Fig. 3 - Injetor de combustível, scooter Lead

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Fig. 4 - Corpo de borboleta de aceleração e IACV, scooter Lead

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Fig. 5 - Circuito de alimentação do ECM

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Fig. 6 - Conector do sensor de temperatura do óleo do motor (EOT)

Motocicleta bicombustível é mais sensível, em dias frios pode ter dificuldades na partida

Fig. 7 - Localização do ECM, motocicleta Titan 150

Motocicleta bicombustível é mais sensível, em dias frios pode ter dificuldades na partida

Fig.8 - Pinagem do ECM

Pane seca e abastecimento também podem causar dificuldades na partida.

Fique atento! De acordo com o manual do proprietário, quando houver uma pane seca, ou seja, acabar o combustível do tanque é necessário abastecê-lo com no mínimo 1 litro de gasolina e 1 litro de etanol (álcool) (50% / 50%) antes da partida do motor.

Outro ponto importante é na troca de combustível, se a motocicleta está abastecida somente com gasolina e houver necessidade de abastecer com álcool, ou o abastecimento for ao contrário disso, os dois exemplos requerem a utilização da motocicleta por alguns quilômetros após o abastecimento, para que o combustível seja reconhecido e o sistema de injeção faça a reprogramação na ECM, só assim as próximas partidas serão facilitadas.

Se a motocicleta for estacionada imediatamente após o abastecimento e não der tempo do sistema reconhecer o novo combustível ou percentual da mistura, poderá ocorrer dificuldades na partida no dia seguinte.