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Dicas de ouro sobre diagnósticos em motocicletas no dia a dia do reparador – parte 1


Nesta matéria pontuamos sobre diagnósticos no sistema de injeção eletrônica, com os problemas e defeitos mais frequentes, sintomas e as prováveis causas

Por: Paulo José de Sousa - 15 de janeiro de 2016

Com as férias chegando algumas motocicletas saem da hibernação, pois ficaram inativas por dias, semanas ou até meses, nesta hora podem sofrer vários defeitos e falhas no funcionamento pelo simples fato de ficarem paradas por algum tempo. 

Ao dar a partida na motocicleta podem ocorrer sintomas de mau funcionamento ou até dificuldade para funcionar o motor, por isso em nossas dicas de ouro propomos alguns diagnósticos e as melhores soluções de reparos voltados para a injeção eletrônica.  

Motocicletas guardadas sem o devido preparo podem sofrer panes nos componentes elétricos, mecânicos e hidráulicos.

Para o armazenamento prolongado (acima dos 30 dias) são exigidas algumas medidas de proteção conforme o modelo de motocicleta, para que seja evitada a deterioração causada pelo combustível, óleo de motor, fluido de freio e líquido do radiador, que são produtos perecíveis, assim como um possível dano à bateria. 

Iniciamos o nosso estudo analisando a bateria, ela tem grande influência no sistema de ignição e injeção eletrônica. O funcionamento preciso da motocicleta só ocorrerá se a tensão(V) estiver em conformidade com a especificação do manual do fabricante de cada modelo.

Todas as dicas foram compartilhas do livro injeção eletrônica de motocicletas da editora Senai.

BATERIA

Toda bateria tem uma tendência natural a descarregar, esteja ela em uso ou não, mesmo que não haja nenhum componente ligado. E nem sempre é por isso que a mesma tem de ser substituída, normalmente é só questão de repor a carga pelo processo de carregamento com o auxílio de um carregador adequado.

Tabela de condição da bateria

SULFATAÇÃO DA BATERIA

Quando a motocicleta é pouco utilizada ou usada apenas nas épocas mais quentes do ano (sazonalmente), pode ocorrer um processo destrutivo no interior da bateria. Esse dano é conhecido como sulfatação e, dependendo da condição, poderá ser irreversível. Neste caso a alternativa é a substituição da peça. 

COMO EVITAR A SULFATAÇÃO

Alguns procedimentos devem ser feitos com o auxílio de um profissional:

Carregue a bateria e armazene-a em um local ventilado longe do alcance de crianças e animais;

Se for necessário que a bateria permaneça na motocicleta, desconecte o terminal negativo; verifique a tensão (V) mensalmente e, se necessário, recarregue-a.

Teste no sistema de carga da bateria

TESTE DO SISTEMA DE CARGA DA BATERIA  

O sistema de carga pode ser afetado por algum mau contato ocasionado por uma oxidação nos terminais, e a bateria não será carregada durante o funcionamento da moto, para saber se o sistema está funcionado corretamente proceda da seguinte maneira:

1. Com um multímetro utilize a escala DC 20V em paralelo;

2. Conecte a ponta preta do multímetro no polo negativo da bateria e a ponta vermelha do multímetro no polo positivo da bateria;

3. Dê a partida no motor e acelere até cerca de 5.000 rpm; (valor referência da YS Fazer 250)

4. Confira a voltagem no aparelho;

5. O valor da voltagem de carga deverá ser aproximadamente de 14V ;

6. Se a tensão estiver muito abaixo ou acima do valor estabelecido, verifique bobinas de carga, regulador/retificador da bateria e conexões.

FUGA DE CORRENTE

O processo pelo qual a corrente (A) da bateria descarrega é causado geralmente por um curto-circuito em algum componente elétrico.

Teste de fuga de corrente da bateria

A fuga é detectada quando todos os componentes da motocicleta estão desligados e mesmo assim é registrado um consumo de energia elétrica.

Ambas as condições comprometerão sua vida útil e, por isso, é um defeito e deve ser corrigido.  

Procedimento de verificação de fuga de corrente:

1. Desligue a motocicleta e remova a chave do interruptor da ignição. Solte o cabo negativo da bateria da motocicleta;

2. Com o multímetro em mãos (DCA para medir amperagem), instale a ponta de prova vermelha do aparelho ligado em série com cabo negativo da motocicleta; e a ponta de prova vermelha ao polo negativo da bateria. ( o teste também pode ser executado pelo outro polo da bateria)

3. A fuga máxima de corrente permitida é de acordo com o manual de serviço de cada modelo e pode variar de  0,0 mA a 0,1mA.

Se a fuga for diferente do limite estabelecido, significa que o sistema opera com um curto-circuito. Assim, localize a causa desligando os componentes da motocicleta, um a um, até que o problema desapareça. Depois execute a operação de montagem na ordem inversa e execute o reparo no item identificado.

COMBUSTÍVEL

A gasolina tem uma vida útil contada a partir da refinaria de petróleo, ela é perecível, de acordo com a Petrobras é desaconselhável que se estoque o produto mais de três meses. No sistema de injeção eletrônica assim como nas motocicletas carburadas é comum, quando o combustível está velho, ocorrer a contaminação da vela de ignição, sonda lambda, catalisador , dificuldade na partida e as  falhas no funcionamento do motor. Também aumenta a possibilidade de entupimento nos orifícios do(s) injetor(es). Ocorre também uma aceleração na deterioração da bomba de combustível. 

Ação preventiva: substituir o combustível

Bomba de combustível sistema “in-tank”BOMBA DE COMBUSTÍVEL: 

No sistema de injeção eletrônica em sua maioria a bomba está dentro do tanque, imersa no combustível, por isso é chamado de sistema “in-tank”. Ela é composta de um motor elétrico 12V, em alguns casos utiliza um regulador de pressão e um filtro acoplado em seu corpo. O atuador é responsável em enviar o combustível do tanque até o motor por meio da tubulação e também do(s) injetor(es), para o bom funcionamento da motocicleta são necessários pressão e volume de combustível, por isso devemos observar os seguintes pontos:

RUÍDO NO FUNCIONAMENTO COMO DIAGNÓSTICO 

O funcionamento da bomba pode ser ouvido sem a necessidade de ligarmos o motor da moto; basta ligar a chave de ignição e aguardar, que a bomba irá dar início à pressurização do combustível, mas este não é um diagnóstico 100% seguro. Um ruído anormal pode ser um indicador de pane, existe a possibilidade de a bomba estar com desgastes internos e, por conta disso, a pressão da linha estar baixa, consequentemente reduzindo o volume de combustível fornecido ao motor. Concluindo: este diagnóstico só é viável para algumas panes elétricas da bomba ou no circuito elétrico de acionamento.  

Bomba de combustível sistema “in-tank”

A recomendação de diagnóstico seguro para panes mecânicas é certamente a aplicação do manômetro de pressão de combustível, que é a ferramenta para aferir a pressão na linha de combustível, apontando valores de pressão excessiva ou baixa pressão de combustível. Os dois casos indicam panes e são prejudiciais para a condução da moto, ocasionando falhas no funcionamento, aumento nas emissões de poluentes ou até danos no motor. a pressão padrão varia conforme o modelo de motocicleta.

BOMBA NÃO FUNCIONA

Causa provável: motor elétrico queimado, bomba travada, ECU com defeito, pane no circuito elétrico da motocicleta, circuito elétrico de acionamento da bomba com defeito, fusível queimado, interruptores gerais com defeito, tensão da bateria muito baixa e, para alguns modelos, relê com defeito.

DIAGNÓSTICO DO CIRCUITO ELÉTRICO 

A alimentação elétrica da bomba é dada por meio de um circuito e o acionamento pode ser direto pela ECU ou um através de um relé. 

É conveniente avaliar o circuito, relé, fusível e ECU. 

A tensão (V) pode ser medida diretamente no conector elétrico da bomba

VAZÃO DA BOMBA DE COMBUSTÍVEL

Teste de pressão da linha de combustível

O diagnóstico do volume de combustível fornecido pela bomba também faz parte das análises que devem ser observadas. No manual de serviços de cada modelo há a informação do volume de vazão de combustível. Basta desconectar a mangueira que liga a bomba ao bico injetor, ligar a chave da motocicleta e coletar o combustível num recipiente com graduações durante um tempo determinado e, em seguida, medir o volume e comparar com a tabela do fabricante.

PRESSÃO EXCESSIVA NA LINHA DE COMBUSTÍVEL

Causa provável: falha no regulador de pressão da linha de combustível, mangueira de combustível prensada ou tensão excessiva da bateria seguida de falha no regulador de pressão.

PRESSÃO BAIXA NA LINHA DE COMBUSTÍVEL

Bomba de combustível e regulador de pressão

Causa provável: falha no regulador de pressão da linha de combustível, falha na vedação entre bico injetor e tubulação, bico injetor com deficiência na vedação, mangueira de combustível danificada, conexões da mangueira e bomba com vazamentos, filtro de gasolina obstruído, baixa tensão na bateria e nível de combustível muito baixo.

MOTOCICLETA ACELERA SOZINHA OU O MOTOR MORRE

A motocicleta avisa quando algo não vai bem, normalmente um dos primeiros sintomas é a dificuldade de pegar nas primeiras partidas ou de manter a marcha lenta.

A primeira pergunta que vem é: por onde devemos começar o serviço.

Para responder à pergunta acima utilizamos como exemplo o Honda Lead 110, o Scooter é equipado com injeção eletrônica, sistema PGM FI e possui ajuste automático da marcha lenta por meio de um IACV (Idle Air Control Valve - válvula de controle do ar da marcha lenta, em tradução livre), um motor de passo.

Presente na maioria das motocicletas Honda e outras marcas o ajuste da rotação de marcha lenta é por meio de um tipo de motor de passo.

O dispositivo controla o volume de ar que alimenta o motor nas baixas rotações. O êmbolo do mecanismo desloca-se em um circuito secundário de passagem de ar no corpo de borboleta de aceleração.  

Corpo de borboleta de aceleração – Scooter Honda Lead

A seleção dos possíveis ajustes de RPM para motor frio ou aquecido será determinado pela central eletrônica (ECM) que definirá os passos de movimentação do êmbolo da válvula tanto para abertura quanto para fechamento do circuito de ar com base nos sinais provenientes dos sensores que darão as condições instantâneas do motor e do ambiente.

O volume de ar da marcha lenta  interfere diretamente  na rotação do motor e também  no padrão de mistura, para um maior volume de ar a rotação de marcha lenta será elevada e por consequência para um menor volume de ar admitido a rotação diminuirá. O ajuste é instantâneo e a  rotação deverá ser mantida estável independente das solicitações impostas ao motor.

Corpo de borboleta de aceleração – Scooter Honda Lead

Portanto não há o que fazer, se a rotação estiver oscilando ou fora do padrão é necessário fazer um check-up na moto até solucionar o problema.

AUTODIAGNÓSTICO DA MOTOCICLETA DO IACV

Panes no atuador de lenta ou em seu circuito podem ser detectadas pelo autodiagnóstico da motocicleta e convertidas em piscadas na luz indicadora de mau funcionamento, na injeção eletrônica “MIL” o código será o “29”, (duas piscadas longas e nove rápidas).

ENGRIPAMENTO DO ÊMBOLO IACV

O motor de passo está sujeito a uma série de panes mecânicas como um simples engripamento do êmbolo, que podem ser evitadas ou solucionadas nas manutenções:

• Mantenha o filtro de ar limpo;

• Utilize gasolina de boa qualidade;

• limpe o corpo de borboleta.

 OUTRAS CAUSAS DE MARCHA LENTA INCORRETA

• Folga incorreta do cabo do acelerador;

• Entrada de ar entre os componentes do corpo de aceleração, coletor de admissão ou reparo de borracha;

• Falhas na instalação do mecanismo;

• Peça inoperante (defeito);

• Sistema de alimentação de combustível com defeito;

• Falha no contato da fiação do IACV;

• Furo no coletor de admissão;

• Falha no funcionamento do sensor de temperatura do motor;

• ECM com defeito;

• Falha de contato nos conectores do IACV ou do ECM.

AÇÃO PREVENTIVA

Reparador, oriente seu cliente para que reserve um tempo aos trabalhos de preparação na motocicleta antes de deixá-la guardada para as próximas férias 

Na segunda parte da matéria daremos continuidade aos diagnósticos.