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IGD - o raio X do mercado de reposição


O Índice de Geração de Demanda dimensionado pela CINAU (Central de Inteligência Automotiva) tem a missão de desvendar o comportamento dos serviços na oficina mecânica, que é o nascedouro da demanda de peças e conseqüentemente do faturamento das indústrias de autopeças que atuam no segmento de aftermarket

Por: Alexandre Akashi - 17 de junho de 2010

Criado em meados de 2008, o IGD já reúne histórico considerável de informações que podem ajudar aos executivos da área de reposição a melhor compreenderem as forças que atuam na geração de demanda e que impacta diretamente em seus negócios.

Apesar de as indústrias não venderem diretamente aos seus clientes (as oficinas mecânicas), mas sim por meio de agentes comerciais (distribuidores e varejos de autopeças) é notório – pela dinâmica do mercado – que o que acontece hoje na oficina mecânica reflete amanhã no varejo, em seguida no distribuidor, e por fim na indústria.

Temos ainda que considerar que tal seqüência (cadeia) já não opera mais assim de forma tão “tranqüila”, pois o próprio IGD de maio deste ano já indica que 16% das compras da oficina são feitas diretamente no Distribuidor de autopeças indicando o grau de conflito da cadeia “tradicional” de autopeças, onde o fornecedor bypass o próprio cliente na disputa do “cliente oficina”.

O mercado fica ainda mais complicado, pois cada vez mais a oficina busca abastecimento em outras fontes como concessionárias de montadoras e importadores, pois o dinamismo com que a oficina vem buscando novas alternativas para a aquisição de peças chancelou um episódio interessante já no inicio deste ano, quando o SINDIPEÇAS divulgou um crescimento para o aftermarket de 4%, ao mesmo tempo que a CINAU e seu IGD indicavam 10,7% de crescimento.

“Quando fomos entender a base de cálculo dos índices IGD e do índice divulgado pelo SINDIPEÇAS verificamos que não havia discrepância entre os mesmos, porém a base de cálculo do SINDIPEÇAS levava em consideração apenas o canal “tradicional” (fábrica-distribuidor), já o índice da CINAU contemplava o aumento total dos serviços e consumo de peças na oficina via outros canais como concessionária e importadores” explica o diretor do Grupo Germinal, Cassio Hervé, que detém as atividades da CINAU.

Assim ficou comprovado que o mercado de reposição foi, talvez por uma questão cultural que considerava os outros canais de abastecimento da oficina desprezíveis, pego de surpresa pela revelação da CINAU. “Afinal, se o mercado tradicional cresceu 4% e a demanda na oficina 10,7% isto significa que outros agentes avançaram sobre o share deste canal, e fica claro que quem cresceu mais foram os concessionários e importadores” explica Cássio Hervé.

Tal realidade acende uma luz amarela de alerta junto aos responsáveis pelos canais tradicionais de abastecimento da oficina, salvaguardando que em suas estratégias e informações de mercado já tinham conhecimento deste fato e o mesmo não é alvo de preocupação.

O resumo deste episódio é o seguinte: o mercado está aquecido, e a cadeia tradicional está vendendo mais, porém os canais concessionária e importador a uma taxa mais expressiva de expansão.

IGD PREVIU DESABASTECIMENTO
Foi no final de 2008, quando o índice estava recém engatinhando e amparado nas suas primeiras amostras, foi identificado um crescimento na demanda de serviços das oficinas, em plena crise da economia mundial que provocou uma queda de quase 30% na venda de carros novos no Brasil.

Pois foi durante este funesto cenário que a CINAU, amparada na leitura de seu IGD, identificou que nunca houve crise no aftermarket, muito pelo contrário nossa demanda só arrefeceu quando o governo anabolizou a venda de carros novos com o incentivo do IPI reduzido.

Esta medida sim (como prova a curva do IGD) jogou para baixo a demanda por serviços nas oficinas, mas, mesmo assim, se mantiveram num patamar superior ao paríodo que antecedeu a crise.

Entretanto e por motivos que não nos cabe questionar, o elo da cadeia “tradicional” composto por grandes distribuidores de autopeças, neste mesmo período, praticamente suspendeu suas compras, e as indústrias efetivamente entraram em crise, provocada pela drástica redução de pedidos dos distribuidores.

Como dissemos, não nos compete questionar o posicionamento dos distribuidores tradicionais ao colocarem o pé no freio das compras, porém, se ao mesmo tempo que eles pararam de comprar, e do outro lado da cadeia as oficinas estavam trabalhando mais aceleradas do que nunca, não seria necessária uma bola de cristal para adivinhar o que aconteceria: acertou quem pensou em desabastecimento de peças.

Pois não deu outra, as oficinas amargaram um dos piores períodos de falta de peças, e como os carros não podem ficar parados, pois nesta hora mecânicos e principalmente os donos de carros pagam qualquer preço por uma peça para liberar o conserto, os reparadores correram para as concessionárias e importadoras.

O tamanho da encrenca ficou registrado no índice da ICNAU que apontou que neste período 80% das oficinas enfrentaram dificuldade na obtenção de peças. Ainda como efeito colateral para a cadeia de distribuição tradicional, esta estratégia entregou parte do share aos novos players (concessionárias e importadoras).

MAIS DESABASTECIMENTO E INFLAÇÃO
No mês de maio, o IGD registrou o seu recorde histórico, muito devido aos efeitos da Inspeção Veicular Ambiental implantada n Município de São Paulo uma vez que o IGD envolve a região Metropolitana de São Paulo e Grande ABC.

Novamente as oficinas estão enfrentando dificuldade de encontrar peças (na ordem de 54%) e, por ação implacável da Lei da Oferta&Procura, uma inflação de preços.
Outro dado importante é que a preferência por canal de compra está mais acelerada na Concessionária, que bateu seu recorde histórico também ao cravar 20% da preferência de compra da oficina.

Já o Distribuidor vendendo diretamente também subiu para 16%, e o grande prejudicado desta disputa acabou sendo a loja de autopeças que viu sua fatia no share de fornecedor da oficina cair para 59% em maio, índice que já chegou a ser de 96%, em setembro de 2009.

Já o Importador (medido no tópico Outras Fontes) vê sua participação também aumentar uma pouco ainda que seja menos expressiva já bate 1%.

A julgar pelo apetite com que as concessionárias estão entrando no jogo fica claro que desejam se tornar os grandes parceiros das oficinas no fornecimento de peças e se mobilizam em campanhas e ações não só para fornecimento de peças “difíceis” e de curva “B e C”, mas já estão oferecendo componentes de alto giro e com preços extremamanete competitivos que acabam sendo adquiridos pelas próprias lojas de autopeças, colocando ainda mais lenha na fogueira do conflito da cadeia tradicional de reposição.

O QUE VAI ACONTECER?
Quem vai vencer a disputa pelo abastecimento da oficina? Sinceramente não sabemos, pois vai depender das reações dos players diante destas informações levantadas pela CINAU, mas há uma certeza: levará vantagem aquele que fixar sua estratégia nas necessidades da oficina.

E neste sentido as informações da CINAU e IGD ganham peso e relevância. Neste sentido uma leitura atenta da evolução do IGD pode nos fazer prever (mantidas as variáveis e considerando que os players continuem atuando da forma como estão):
- concessionárias terminarão 2010 com mais de 20% da preferência das oficinas*;
- os preços muito provavelmente fecharão o ano com variação acima do IGP-M acumulado, indicando inflação na reparação;

Para que você se mantenha bem informado e continue sintonizado com o que está acontecendo no aftermarket, não deixe de ler a próxima edição do jornal Oficina Brasil que vai trazer uma matéria completa com uma análise do IGD amparada nos cinco primeiros meses do ano, onde os técnicos da CINAU vão confirmar suas previsões para o setor.

*Considerando o abastecimento direto desta, pois não levamos em conta o que a oficina compra da loja de autopeças que tenha sido comprado por esta (loja) diretamente da concessionária.


Ilustração: Gráfico do IGD


Legenda: O gráfico do IGD mostra que em maio houve pico de demanda, com índice de 0,94 ponto