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Rodrigo Carneiro conta sua trajetória, desafios e percepções sobre o mercado aftermarket


Referência quando o assunto é mercado de reposição, o atual CEO do MercadoCar acaba de ser renomeado como presidente da ANDAP. Em entrevista exclusiva, o executivo nos conta sobre a experiência e expectativas no setor automotivo

Por: Da Redação - 16 de fevereiro de 2022

Consta em nossos registros que o senhor concedeu a sua primeira entrevista ao Oficina Brasil (então Motor 100%) em 1996. O material ressalta sua migração da área financeira para o setor de autopeças. Conte-nos um pouco deste momento de sua vida profissional.

Foi um momento importante e difícil em minha carreira. Comecei no mercado financeiro em instituições multinacionais, líderes mundiais. O mercado financeiro tem um glamour e uma atratividade diferente de outros segmentos e para quem está começando, é muito difícil outra opção. Cheguei aos 40 anos de idade sendo diretor de duas diferentes e importantes instituições financeiras, o que muito me orgulha e, claro, não sinalizava nenhuma mudança de segmento.  

Algumas decepções e discordâncias quanto a princípios me incentivaram a olhar para o mercado e, encurtando a história, um dos processos via head hunter me levou até o Grupo Comolatti.  Por lá, fiquei mais de 20 anos de uma rica, agradável e produtiva experiência.  Aprendi muito e devo a permanência no mercado àquela excepcional escola. Meu eterno agradecimento a todos da Comolatti, mas não poderia deixar de centralizar minha gratidão na pessoa do Sergio Comolatti, grande mestre.

Mas não vou deixar de citar minha passagem igualmente rica e produtiva pela diretoria da Barros, com laços mantidos até aqui.

Há mais de dois anos no Mercadocar posso afirmar que minha formação no aftermar­ket se aproxima do encerramento de um ciclo.

Sem qualquer dúvida o que aprendi e aprendo na ANDAP/SICAP, ao me relacionar com empresas associadas de elevado nível e com empresários e executivos, que tanto contribuem para nosso segmento me fazem afirmar que a troca do mercado financeiro pelo de reposição valeu muito a pena (não ganhei dinheiro, mas fiquei milionário em relacionamentos e conhecimento).

Quando estreou no setor de autopeças há mais de 25 anos, o senhor tinha expectativas de alcançar a projeção que conquistou em nosso segmento?

Não fazia ideia, as coisas foram acontecendo na­tu­ralmente. Passei a fazer parte da    diretoria da ANDAP e do SICAP logo no começo e me envolvi com esta área. Tive oportunidade de poder defender vários temas relevantes para o setor e contribuir, de alguma forma, para o desenvolvimento do setor. Poder me dedicar ao trabalho da associação e doar tempo para causas coletivas importantes visando o fortalecimento do aftermarket são motivações que me movem todos os dias. 

Acabei de iniciar nova gestão 2022/2026 à frente da presidência da ANDAP e vice-presidência do SICAP para mais um mandato com muitos desafios pela frente junto com a diretoria. Vamos enfrentar as transformações do mercado que estão acontecendo em ritmo bem acelerado, como por exemplo, novos modelos de negócios e o aumento da presença do digital.

Também lidamos com temas relacionados a questões institucionais e extremamente complexas no Brasil como sistema tributário, trabalhista, LGPD segurança jurídica e o relacionamento com outras instituições públicas e privadas.

Enfim, são muitas mudanças em curso em um mercado dinâmico como o nosso.

Além de executivo consagrado, o senhor desempenha funções como líder em instituições como ANDAP e SINCAP. Qual a fórmula para conciliar atividades de tanta responsabilidade e com focos diversos?

ORGANIZAÇÃO, PLANEJAMENTO controle, disciplina e, sem dúvida, forte vocação para trabalhar o coletivo sem esperar qualquer retribuição senão o ORGULHO DE PERTENCER E CONTRIBUIR. Importante lembrar a todos que jamais qualquer diretor da ANDAP e ou SICAP recebeu ou recebe qualquer provento, a qualquer título – sequer verba de representação.  O estímulo, insisto, é o orgulho de pertencer e contribuir, por si só, é gratificante o suficiente.  

Hoje o senhor ocupa o cargo de CEO à frente da MercadoCar, um modelo de negócios impensável nos anos 90. O senhor acredita que o setor ainda oferece oportunidades para novos negócios “disruptivos”?

O modelo era impensável, mas não para o Roberto Gandra, felizmente. Deu no que deu.

Da mesma forma, sem dúvida, que oferece ainda alternativas de diferenciais e especializações. Há muitas oportunidades no aftermaket... Distribuidores e varejos têm muito para evoluir com a parte digital. Hoje falamos em figital, a integração do físico com o digital, inclusive esse foi o tema do Seminário da Reposição em 2021. Essa transformação de disrupção tem muito para acontecer e deve se dar ao longo dos anos, não é algo que acontece da noite para o dia. A pandemia, por exemplo, acelerou o processo de digitalização, mas há muito para expandir. 

Como é ser protagonista e testemunha de tantas transformações no aftermarket automotivo brasileiro? O que esperar para o futuro de nossa indústria?

É muito desafiador, preciso aprender todos os dias com as novas tendências, novas tecnologias, exigências, ferramentas e principalmente novos perfis de consumo. 

Além do bem-sucedido modelo de “Shopping” de autopeças da MercadoCar, outros modelos de negócios surgiram rompendo definitivamente a “velha” cascata do mercado de reposição como tão bem definiu o saudoso Gustav Borghoff. Uma vez que não temos mais definidos os três “steps” (fabricante, distribuidor, oficina) em qual dos novos modelos o senhor identifica como os que conquistarão mais espaço no mercado de reposição?

Muito além dos modelos está a evolução de todos os mercados, o que implica basicamente em atender às necessidades do consumidor final. Isto vai continuar acontecendo com muitos modelos dentro de uma cadeia produtiva e o desenvolvimento de valor agregado é que determinará o sucesso. 

O papel da distribuição é fundamental para abastecer o mercado e suportar a demanda, com capilaridade e abrangência em todo o País. Esta mesma capilaridade é enriquecida pelo varejo e aplicadores, que representam 80% da manutenção da frota brasileira de veículos.

O Grupo Oficina Brasil cunho e registrou o conceito “DDC” Demanda Driven Company, ou seja, a empresa que orienta sua ação a partir do estudo sistemático da demanda, ou seja do principal shopper do segmento: a oficina. O senhor endossa esta percepção? 

O Oficina Brasil sempre ultrapassou as barreiras dos modelos convencionais de identificação dos potenciais, aperfeiçoando modelos, desenvolvendo competências e foi um dos primeiros a utilizar, com seriedade e competência, o geomarketing. 

Foi muito além de um papel de veículo midiático e, generosamente, compartilhou muita informação com o mercado.
Mais uma vez inovou e acertou.

Agora não é uma pergunta, mas um espaço para que o senhor direcione sua mensagem às nossas 53 mil oficinas qualificadas e assinantes do Oficina Brasil.  

O mercado de reposição continuará forte e resiliente, apresentando resultados satisfatórios mesmo em momentos difíceis para a economia, como os que vivemos com a pandemia porque justamente as oficinas continuaram a trabalhar e atender o dono do carro que é quem paga a conta final. 

Temos um modelo de mercado muito diferente dos outros países e bem consolidado com abrangência para suprir a demanda em todas as cidades deste país continental. São os profissionais da reparação que movimentam toda a cadeia produtiva e fazem o aftermarket superar as dificuldades e se reinventar diante das dificuldades.

Assim, fábrica, distribuição e varejo buscam oferecer soluções para que as oficinas continuem evoluindo para atender consumidores cada vez mais informados, conectados e exigentes.