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Autopeças remanufaturadas ainda geram dúvidas no setor da reparação automotiva


ANRAP preza pela sustentabilidade e passa pelo desafio de quebrar paradigmas e disseminar o conceito da remanufatura

Por: Bruna Araújo - 09 de abril de 2014

Desde 2010 à frente da Associação Nacional dos Remanufaturadores de Auto Peças (ANRAP), Jefferson Germano (foto) também é responsável pela gerência de Aftermarket no Brasil e América Latina na empresa Knorr Bremse, onde atua há 12 anos.

 No mercado de autopeças há mais de 30 anos, Jefferson conversou com o Jornal Oficina Brasil sobre as conquistas e expectativas para a associação no ano de 2014. Explicou a diferença entre produtos remanufaturados, recondicionados e reparados, ajudando a sanar o maior desafio da ANRAP, que é a falta de informação e clareza sobre o que é de fato o “reman”. 

JOB: Quais são as grandes diferenças entre a remanufatura, o recondicionamento e a reparação de autopeças?

Jefferson Germano: A remanufatura é feita por quem detém a tecnologia do produto e marca e recebe o mesmo tratamento de uma peça nova, passando por testes e pela tecnologia da indústria que deu origem à ela, depois desses procedimentos a peça leva uma certificação e tem as mesmas garantias de uma peça nova. A recondicionada é quando o reparador envia aquela peça, não à fábrica, mas a um especialista que vai desmontar o produto e trazê-lo de volta à vida útil, porém este não segue processos de produção como a fábrica, não oferece as mesmas garantias e não utiliza toda a tecnologia de que a indústria de origem dispõe, além de remontar a peça com peças desgastadas. Neste caso, a peça defeituosa é consertada pelo próprio reparador que, muitas vezes, apenas faz uma limpeza, voltando a trabalhar, não se sabe por quanto tempo. E por fim, a peça reparada, nesse caso, a peça defeituosa, é consertada pelo próprio reparador e muitas vezes essa peça não é nem desmontada, ela é apenas arrumada e volta para a sua vida útil. Porém, o processo mais seguro é o da remanufatura, por conta das garantias de fábrica e toda a tecnologia aplicada ao processo. Existe ainda a preocupação com o meio ambiente. A matéria prima é esgotável e com a remanufatura você dá a chance de que a peça seja reutilizada, evitando a produção desnecessária.

JOB: Quais são os benefícios para os reparadores no uso do remanufaturado?

Jefferson Germano: O grande beneficio é, um produto que custa em torno de 30 a 40% mais barato se comparado ao novo, ter a mesma qualidade e tecnologia agregada. Existe também a segurança de aplicar no veículo do cliente um produto de boa procedência e que segue processos e normas de remanufatura com as mesmas condições exigidas em uma peça nova.

JOB: Qual é a participação do remanufaturado  no mercado de reparação?

Jefferson Germano: Hoje, no Brasil, esta participação está na faixa de 6%, o que é pouco, visto que na Europa este número está em 11% e nos EUA chega a 20%. Acreditamos que em torno de 5 anos essa porcentagem se iguale a dos EUA.

Atualmente, 50% dos produtos ofertados pelos fabricantes são passíveis de remanufatura. O Brasil sempre se portou reparando e hoje a peça remanufaturada é uma opção de qualidade, feita pelo fabricante com todos os processos, normas e garantias de um produto novo.

JOB: Qual é o potencial do remanufaturado na frota brasileira?

Jefferson Germano: A frota de veículos no país está rejuvenescendo por conta da redução do IPI e da facilidade de compra. Quanto mais nova a frota, mais tecnologia, dificultando a reparação por conta da falta de treinamento específico. O remanufaturado está no mercado, é uma realidade e precisa desmistificar a ideia do reparador de que a fábrica pode se tornar um concorrente. A decisão final sobre qual produto será aplicado sempre será dele e de seu cliente.

JOB: Quais são os benefícios ecológicos do remanufaturado?

Jefferson Germano: Com um produto remanufaturado você diminui a exploração de matéria prima, fora tantos outros benefícios como: contribuição na redução do gás de efeito estufa, menor geração de resíduos, economia no consumo de energia e água. Os pontos mais positivos ainda ficam com o crescimento da reciclagem, a geração de empregos, lucratividade sustentável da indústria, melhoria da imagem do mercado de autopeças para o consumidor final e tantas outras questões. Todas as empresas associadas a ANRAP atendem (a todas) às normas do meio ambiente. Quando um produto retorna ao fabricante de origem esse produto passa por uma avaliação, o que for para o lixo é descartado de maneira correta, separando o que é aço, o que é borracha, o que está contaminado e outros requisitos, diferente de uma empresa que não detém a tecnologia e não atende todas as normas, nesse caso, muitas vezes o lixo vira somente lixo, não tem um destino certo e responsável.

JOB: Desde a fundação da ANRAP, o que mudou no mercado e na associação?

Jefferson Germano: A Anrap foi fundada em 1994 por 3 fabricantes: Reman (Bosch), ZF (Sachs) e TRW. O objetivo era difundir o conceito e os benefícios dos produtos remanufaturados no mercado. No início, o apelo era muito mais comercial do que ambiental, as empresas enxergavam como um negócio que poderia ser importante para o mercado. Utilizaram ferramentas como veículos de comunicação e o Sindipeças, que é apoiador da ANRAP. Posteriormente o apelo ambiental tomou força, cada vez mais focado na responsabilidade social e ambiental. A remanufatura vem para reduzir o consumo de matéria prima e diminuir o descarte. Hoje, o remanufaturado tem muito mais um apelo ambiental do que mercadológico. A maior conquista da ANRAP é a parte de logística reversa (veja no quadro abaixo).

JOB: Quais são os planos da associação ANRAP com eventos, treinamentos e atividades da associação no ano de 2014?

Jefferson Germano: A ANRAP tem como foco para 2014 e 2015 através do Sindipeças, buscar uma revisão fiscal, a fim de conseguir uma redução nos impostos refletindo direta e positivamente no preço dos produtos remanufaturados que hoje paga o mesmo valor de impostos que um produto novo. A ANRAP tem o objetivo de firmar parceria com empresas de logística reversa para facilitar a volta do “casco” (produto passível de remanufatura). Em questão de treinamentos existe uma parceria com a Maxxi Training, serão 15 feiras do conhecimento e treinaremos 25 mil pessoas. Teremos ainda 6 seminários também em parceria com a Maxxi Training.

JOB: Como está estruturada a ANRAP, empresas, fabricantes e produtos. Qual a expectativa para novos associados?

Jefferson Germano: A ANRAP está estruturada em três pilares: Conceito, Legislação/Governo e Logística reversa. Na parte de conceito a ANRAP tem uma árdua tarefa de divulgar e informar o reparador sobre os benefícios da remanufatura, para ele e para o meio ambiente. No pilar da Legislação e Governo quem está à frente é o Sindipeças, o grande apoiador do conceito da ANRAP. Por fim, a Logística Reversa traz a peça novamente ao seu local de criação para que ela possa voltar ao mercado com todas as especificações, responsabilidades sociais e ambientais. Dentro da ANRAP existe um estatuto que diz que só pode ser associado quem é fabricante original, fornece para montadora e faz o processo de remanufatura dentro da empresa. Hoje a ANRAP conta com 10 associados formais, são eles: BorgWarner, Cummins, Remy Automotive, Eaton,Garrett, Knorr-Bremse, Schaeffler Brasil (Divisão LuK), TRW Automotive, WABCO e ZF (Sachs).

Lógica Reversa

Jefferson comenta que atualmente, mais de 70% da matéria prima para a remanufatura ainda é vendida pelos reparadores como sucata e não são destinadas de maneira correta. Só unindo forças com os demais sindicatos será possível difundir a ideia do “reman” entre os reparadores.

É importante ressaltar a parceria e apoio de outras entidades para disseminar o conceito do remanufatutra, as entidades de classe como: Sindirepa, Sincopeças, Andap e Adera, têm papel fundamental para o esclarecimento das dúvidas e entendimento do produto remanufaturado em todas as fases da cadeia automotiva, somente com este alinhamento na comunicação podemos ajudar o mercado a atender bem o consumidor final, reamanufaturado e o futuro da reparação, fazendo com que cresça essa cultura de responsabilidade ambiental dentro do mercado de autopeças.