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Peugeot 208 agrada o consumidor e não traz novidades para as oficinas


Carregado de tecnologias e mimos ao usuário, o modelo chegou para explorar um nicho em ascensão, o de ‘compactos premium’. Peças e informações técnicas ainda são a principal preocupação do reparador

Por: Fernando Naccari Alves Martins - 12 de agosto de 2013

O mais recente modelo da marca francesa em nosso país é o compacto 208. Com design inovador, mas sem perder a identidade da marca, esse Peugeot tem uma característica importante com relação ao outros modelos da marca já testados por nossa redação: ser um hatch considerado premium. Disputando mercado com Citroën C3, Ford New Fiesta e até o Hyundai HB20 1.6, sua principal qualidade é o desempenho, com bom torque em baixas rotações e não decepcionando quem curte guiar mais economicamente (já que sua media de consumo ficou em 8,9km/l abastecido com etanol) ou quem prefere uma condução mais esportiva (faz de 0-100 em 9,7 segundos, segundo a montadora).

Foto 1Sua suspensão é macia e em curvas acentuadas não tende a fazer a carroceria inclinar-se. Essa maciez não deve ser entendida como um carro “molenga”, muito pelo contrário, viajar com o 208 parece ser uma ótima pedida.

O modelo testado contava com câmbio manual de cinco marchasde engates precisos e suaves, proporcionando condução econômica sem prejudicar o torque disponível.

O espaço interno do veículo também é ótimo e oferta conforto inclusive para os passageiros do banco traseiro.

Uma ressalva a todo este conforto está no apoio de braço central . Este é muito extenso e, neste modelo com cambio manual mais precisamente, atrapalha o acesso à alavanca de seleção de marchas, portanto, utilizá-lo durante o transito não é nada aconselhável.

Outro ponto interessante é o tamanho do volante do 208. Este é bem menor do que o utilizado nos demais veículos. A parte superior do raio do volante fica abaixo do painel e, dependendo da regulagem utilizada pelo condutor, encobre a parte inferior dos marcadores (botões de odômetro e controle de luminosidade do painel).

Foto 3 e 4

Até por conta dessa característica do volante, as alavancas de acionamento de faróis e setas ficam ocultas, fazendo com que o condutor tenha que deslocar de sua posição para conseguir visualizar a função que deseja acionar, como por exemplo, acendimento de faróis automáticos.

Item exclusivo do 208, o sistema multimídia possui  radio/CD-player com sistema bluetooth e navegador GPS. Tudo isso comandado por uma tela touch screen no centro do painel.

Foto 5 e 5A

Embora tenha funcionalidade intuitiva (o que não requer ler o manual de instruções para se acessar as principais funções do sistema), os botões de acesso a algumas delas são muito pequenos na grande tela, o que requer que você desvie sua atenção do trânsito para clica-lo. Isso ocorre, por exemplo, quando o radio FM está aberto e deseja-se acessar a lista de rádios sintonizáveis. 

Mas o grande destaque do modelo é o seu enorme teto de vidro que externamente não aparece, principalmente no veículo testado que era de cor preta. Porem, por dentro é praticamente panorâmico e nos dá uma ótima sensação principalmente em dias ensolarados. Agora se o calor estiver intenso, basta fechar a ‘cortina’ que isolará o teto do ambiente interno do veículo.

Foto 6 e 7

E para fechar o pacote, o francês conta com ar condicionado digital dual-zone de excelente eficiência e reduzido ruído 

NA OFICINA

Avaliamos o modelo na oficina Gigio’s Bosch Car Service, localizada no bairro do Ipiranga, São Paulo-SP, onde os reparadores Danilo José Tinelli, Ocimar Souza Garcia e o proprietário Gerson de Oliveira, deram suas opiniões sobre as características técnicas e de manutenção do mais recente lançamento da Peugeot em nosso mercado.

“Este teto de vidro é lindo. Pena que não dá para colocar um assim no meu carro”, disse Souza assim que sentou no ‘cockpit’ do 208.

“E esta tela do sistema multimídia hein... é muito bonita”, completou o admirado Souza.

SUSPENSÃO

“O sistema de suspensão deste carro é bem diferente do utilizado nos modelos compactos da Peugeot, mas não traz grandes novidades ao reparador. Na traseira a barra de torção passa por dentro do quadro e este também, caso necessite reparo, não é de difícil remoção”, disse Souza.

“Olhando o veículo por baixo, posso dizer que é um veículo totalmente novo e com certeza não haverá peças intercambiáveis com outros modelos da marca”, comentou Souza.

“As bandejas de suspensão e as bieletas nem de longe lembram as do 207 . Esta é bem mais reforçada e tem um desenho exclusivo”, afirmou Souza.

FREIOS
“O sistema de freio utilizado neste veículo conta com disco ventilado na dianteira  e tambor na traseira . A meu ver isso é um ponto negativo, pois os veículos atuais tem cada vez mais trocado o sistema à tambor pelo à disco, pois possui melhor eficiência de frenagem e, no ato da reparação, também é muito mais simples. Se fizeram isso por caráter econômico, acredito ter sido uma economia burra”, comentou Souza.

Foto 11 e 12

“Apesar disso, pelo menos visualmente tanto o conjunto dianteiro quanto o traseiro não aparentam ser de difícil manutenção”, completou Souza.

“Freio à tambor é uma coisa ultrapassadíssima, não vejo porque as montadoras insistem neste sistema. Será que é tão mais barato assim? Não acredito”, disse Danilo.
 

POWERTRAIN E ELÉTRICA
O motor deste Peugeot é um dos destaques positivos, como já dissemos anteriormente. E sobre suas características, os reparadores comentaram:

“É bem semelhante aos 1.6 16V do Citroën Xsara, posso até dizer que é igualzinho”, observou Souza .

“Talvez tenha alguma alteração no caráter eletrônico, mas fisicamente é a mesma coisa”, respondeu Gerson.

“Este veículo não possui tanquinho de partida à frio, este já apresenta sistema de aquecimento do combustível para o ato da partida”, disse Gerson.

Gerson também explicou como funciona este sistema: “Através de sensores de temperatura no bloco do motor, o modulo aciona um relé temporizador que aciona uma vela aquecedora localizada na régua de combustível. Este mantem aquecida até o ponto em que atinge a temperatura estável. Isso reduz poluentes, economiza combustível, apresenta menos carbonização e tudo isso devido a menor injeção de combustível”.

“A caixa de suporte da bateria permite a utilização de uma de tamanho maior. Isso dá maior flexibilidade na compra do item. Nos veículos Honda isso não acontece e o usuário tem que comprar a bateria sempre do mesmo tamanho e isso muitas vezes não é fácil de encontrar”, comentou Gerson.

“O coxim do câmbio também tem fácil acesso, é fácil de tirar”, disse Danilo.

“Interessante é que o atuador de embreagem é externo . É melhor que não precisa tirar o cambio para fazer o reparo”, comentou Souza.

“O sistema de ignição deste modelo é aquele de bobinas em régua, o mesmo que já vem sendo utilizado pela PSA em diversos motores, inclusive nos 1.6 16V anteriores”, comentou Gerson.

“O coletor de admissão é muito rente à parede corta fogo. Se precisar remover dará muito trabalho”, reclamou Danilo

“Este comando de válvulas aparenta ter variador de avanço pois, o desenho da capa protetora é projetado para fora . Mas se realmente tem, este deve ser centrífugo e não eletrônico, pois não há sensores da região e nem fios de conexão”, observou Danilo.

“Observando aqui tem um ponto interessante. Este farol possui regulagem manual, porém, possui o conector do motor elétrico  no caso de modelos que possuam regulagem elétrica. Só não tem o motor”, comentou Gerson.

Durante a avaliação do veículo, um item  chamou a atenção do reparador Gerson, pois não sabia qual era a função do mesmo.

Entramos em contato com o analista técnico Paulo Batista da Peugeot do Brasil e questionamos sobre o componente. Paulo respondeu: “O item destacado na foto é uma manta acústica. Serve de isolamento acústico e térmico daquela região do painel corta fogo”.

PEÇAS

Apesar de possuir manutenção simples e que no geral não trará grandes novidades ao reparador, minha maior preocupação com estes veículos não são somente as peças, mas a disponibilidade dessas no mercado, pois no geral, só as encontramos em concessionárias. Isso dificulta nosso 

trabalho porque entre elas os preços são tabelados e o desconto máximo que conseguimos é de 5% com pagamento a vista. Tudo isso acarreta em um alto custo do reparo”, disse Gerson.

“Até por conta disso, descobrimos que no mercado existem importadoras de peças da linha francesa que nos trazem peças de segunda linha da Europa que aqui para nós são de melhor qualidade até mesmo que as vendidas em concessionárias daqui. E o principal, tudo isso a um custo menor. Para nós tem sido uma ótima opção de compra”, completou Gerson.

“Minha rotina de compra atual está em 70% em concessionárias e os outro 30% divididos igualmente entre distribuidores, importadores e auto peças”, disse Gerson.

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

“A grande dificuldade no mercado de manutenção é a falta de informação técnica. As montadoras hoje utilizam de sistemas multiplexados que limitam o trabalho do mecânico, fazendo com que somente o programa (software) da montadora acesse todas as informações da UCE. Isso limita nosso campo de atuação”, reclamou Gerson.

Minha oficina hoje atende em média 100 carros por mês e, deste total, pelo menos 20% são franceses, portanto, não ter este equipamento me faz muita falta”, completou Gerson.

“Para você ter uma ideia tive uma cliente que tinha um Peugeot 307 que tinha apresentado defeito no esguicho do limpador de para brisas. Consegui efetuar o reparo substituindo a peça, mas não consegui apagar a memoria de falha por conta da impossibilidade de comunicação com o sistema. Um defeito muito simples de se resolver mas que necessitou que a cliente fosse a uma concessionária finalizar o serviço. Daqui a algum tempo nem a concessionária vai querer atender estes veículo, aí o proprietário vai fazer o que? Eles devem repensar este procedimento e compartilhar das informações com as oficinas independentes”, finalizou Gerson.
 

CONCLUSÃO

Assim como todos os veículos Peugeot, a qualidade do acabamento interno, quantidade de recurso tecnológicos empregados, visual atraente e motor que não decepcionam são o ponto forte do veículo, mas em contrapartida, preço das peças quando comparadas a de outros veículos da mesma categoria de marcas concorrentes e a falta de informação técnica fazem dos veículos franceses serem mal vistos pelos reparadores, e como formadores de opinião, continuam não recomendando a marca aos clientes. Já está na hora disso mudar se a PSA pensa em conquistar maior fatia do nosso mercado, pois qualidade os veículos tem de sobra.