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JAC T50 1.6 AT surpreende pela boa reparabilidade, mas reposição de peças ainda preocupa profissionais


Mantendo a base do JAC T5, lançamento da montadora chinesa promete balançar a concorrência com o SUV mais equipado da categoria e uma boa relação custo-benefício. A incerteza fica por conta da reposição de peças e do aftermarketing

Por: Antônio Edson - 31 de março de 2019

Great Wall, Dongfeng e Brilliance. Talvez o leitor ainda não tenha ouvido falar dessas e outras montadoras chinesas que deram alguns passos à frente ao que antes se chamava, no Ocidente, de “fabricantes de cópias”. Mas, talvez, isso seja questão de tempo. Fiéis ao lema “Enriquecer é glorioso”, atribuído a Deng Xiaoping, secretário-geral do Partido Comunista Chinês entre 1978 e 1990, as fábricas asiáticas se tornaram capazes de produzir automóveis luxuosos e de qualidade, assimilando em pouco tempo técnicas de produção que concorrentes antípodas levaram décadas para fazê-lo. Como resultado, em 2010, impulsionado pela demanda interna, o mercado interno de automóveis chineses se tornou o maior do mundo e sua frota circulante passou dos 200 milhões de veículos. Outra prova da evolução é que o último Salão do Automóvel de Pequim, em 2018, exibiu carros-conceito que, em ousadia e sofisticação, nada perdem aos desenhados pelos melhores estúdios ocidentais – aliás, muitos foram mesmo projetados por esses.  

Depois das montadoras japonesas e coreanas, as chinesas devem se constituir na terceira onda de invasão asiática no Ocidente. Isso porque a China soube atrair montadoras estrangeiras e assegurar parcerias com transferência de tecnologia. Fabricantes locais como SAIC, Wuling e Dongfeng têm alianças, respectivamente, com General Motors, Volkswagen, Renault, Peugeot e Citroën. Conforme a ocasião, a relação até vai além. Em 2010, a Geely Motors adquiriu a sueca Volvo, absorvendo o prestígio da marca e seu know-how. No Brasil, algo semelhante ocorre entre o Grupo Caoa e a Chery que, em 2017, anunciaram uma cooperação estratégica. Outra que segue rumo semelhante é a JAC Motors, especializada em utilitários esportivos. De braço dado com o Grupo SHC, ela planeja, para breve, uma fábrica em Goiás onde montará, em regime CKD, o SUV compacto T40. Seu mais recente lançamento aqui, no final de 2018, foi o JAC T50, anunciado como o utilitário esportivo com maior número de equipamentos de série do mercado brasileiro.  

O novo chinesinho da praça é uma reestilização radical do SUV compacto JAC T5, lançado aqui em 2015. Com novas frente e traseira e um motor 1.6 sob o capô, o T50 pode ser considerado outro veículo. Em relação aos demais da categoria, o T50 distingue-se por apresentar um vasto pacote de itens de série que, forçosamente, fará a concorrência elevar seus padrões de oferta se não quiser ficar para trás. Ao preço de R$ 85.990,00 – tabela Fipe de fevereiro –, sua boa relação custo-benefício é inegável. Foi o que mostrou o exemplar cedido à reportagem do Oficina Brasil Mala Direta. Mas e sua reparabilidade? Como é sua dirigibilidade, o desempenho de motor e câmbio, o comportamento da suspensão? Será que aguenta nossa buraqueira? A manutenção é complicada? Essas e outras perguntas foram respondidas, ao longo dessa e das seguintes páginas, por três experientes reparadores que examinaram o veículo por todos os lados: 

Walter Harada, veterano no segmento da reparação automotiva, o administrador de empresas Walter Harada, 71 anos e com 60 de profissão, trabalhou durante quase 15 anos na Ford e por outro tempo igual comandou uma concessionária da marca. Sua experiência, no entanto, segue mais longe. Ainda menino, Walter começou a dar expediente na loja de autopeças da família, de onde só saiu para trabalhar como trainne na montadora do oval azul, por onde passou por várias áreas, inclusive a técnica. Há mais de dez anos, Walter está à frente da RTR Autocenter, que conta com 10 colaboradores e está instalada no bairro da Saúde, em São Paulo (SP), mais precisamente na Avenida Bosque da Saúde, 1074.  

 

 

 

Richard Abdias Ameixeiro e Simone da Silva Porto. “Apesar de muitos terem reclamado de 2018, não podemos fazê-lo. Com uma clientela selecionada e trabalhando com agendamento não faltou serviço para a oficina”, comenta Richard Abdias, 38 anos, ao lado de sua esposa e sócia Simone Porto. A Eletromatic foi fundada pelo casal em 2015 e funciona na Rua Porangaba 363, próximo à Avenida Ricardo Jafet, em São Paulo (SP). São 120 m2 de área que, em breve, poderão chegar a 200. “Cresceremos à medida que a demanda do serviço exigir. E essa, felizmente, tem aumentado”, explica o reparador. Com um giro mensal aproximado de 50 clientes fidelizados, de acordo com Simone, a Eletromatic prima por dependências arejadas, limpas e um ferramental moderno. “Mais de 70% de nossa clientela é do sexo feminino e costuma atentar a esses detalhes”, afirma Richard, que herdou do pai, Álvaro Ameixeiro, a vocação. “Ele tinha uma retífica de motores e meu primeiro aprendizado foi com ele”, recorda. 

Gerson de Oliveira Santos. Com mais de 30 anos dedicados à reparação automotiva, Gerson herdou a vocação de reparador do avô, José de Oliveira. Confirmando essa herança familiar, sua oficina, a Gigio’s Bosch Service, surgiu em 1991, quando o pai, Euclides de Oliveira Santos, e a mãe, Marlene de Oliveira, a fundaram, para que nela fossem trabalhar os irmãos Douglas, o mais velho, Edson e Gerson, cuja capacitação profissional teve início com um curso de elétrica automotiva e outro de reparação de motores diesel no Senai. A oficina localizada à Avenida Gentil de Moura 379, no Ipiranga, conta com quatro colaboradores e prima pela versatilidade. “Além da mecânica propriamente dita fazemos suspensão, troca de óleo, injeção eletrônica, toda parte elétrica, alguma coisa de câmbio, pneus, alinhamento e boa parte de acessório. Agregar serviços e o fato de estarmos há 13 anos no mesmo ponto ajudam a termos um razoável movimento. É importante cativar o cliente e conquistar sua fidelidade”, orienta. 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES 

Com 4,34 m de comprimento e 2,56 m de entre-eixos, o JAC T50 1.6 AT traz espaço interno mais que suficiente para quatro adultos e uma criança. Mas nisso ele é igual a quase todos os outros da categoria. Sua maior diferença está mesmo nos detalhes de acabamento só encontrados normalmente em veículos da categoria premium. “A lataria tem bastante cromado, mas com bom gosto e não exagerado, e isso dá nobreza ao SUV. A luz de cortesia nas portas dianteiras é um detalhe bacana, visto em poucos carros, e o revestimento dos painéis é de couro sintético acolchoado, soft, na parte frontal. O estofamento e volante também são em couro, assim como parte do revestimento das portas que leva ainda fibra de carbono e fita cromada. Impossível não reparar nesses detalhes. Capricharam mesmo”, reconhece Gerson Oliveira.  

Richard Abdias destacou detalhes da carroceria como a grade trapezoidal invertida e cromada, a linha em black piano ligando os faróis, além das ponteiras cromadas falsas do escapamento e as rodas de liga leve de 16 polegadas que receberam um novo desenho. “Um design bonito e que acaba diferenciado um pouco dos demais. O porta-malas  é bem espaçoso”, descreve – segundo a JAC Motors, o porta-malas tem capacidade volumétrica para 600 litros de bagagem, mas as montadoras chinesas chegam a esse número calculando o espaço até o teto, enquanto no Brasil a conta é feito até a linha do bancos, o que reduziria a capacidade para 400 litros. Na cabine, segundo ele, chama atenção o painel principal com desenho horizontalizado imitando fibra de carbono e a tela de oito polegadas em estilo flutuante do sistema multimidia, além da boa ergonomia e a fácil leitura dos instrumentos. “Em resumo, um SUV com acabamento interno que pode ser considerado luxuoso para os padrões nacionais e comparável aos importados europeus e norte-americanos”, sintetiza Walter Harada.  

DIRIGIBILIDADE 

Se, de cara, a aparência e o acabamento do “China” impressionam o mesmo não se diga do seu desempenho dinâmico que, a princípio, desaponta. 

O propulsor de 1.590 cm3 reais, nas saídas, arrancadas e retomadas de velocidade, demora um pouco a romper a inércia dos 1.320 quilos do SUV e a responder à demanda do acelerador. “É pesadinho. Falta potência de arranque e isso, talvez, tenha a ver com a sua proposta mais familiar”, defende Gerson de Oliveira, que, no entanto, se mostrou quase surpreso ao testar o T50 no trecho urbano da Via Anchieta. “O desempenho em estrada é melhor que na cidade. Com o modo Sport ou manual na transmissão o motor fica esperto. Chegamos aos 110 km por hora sem fazer o motor gritar graças, sem dúvida, ao câmbio CVT que, para mim, está bem acertado e casado ao motor: não apresenta tranco, é uma verdadeira seda. Dou nota 10 para a dirigibilidade”, conceitua. 

De modo geral, o T50 1.6 AT apresentou um rodar suave e uma suspensão macia, mas não molenga, assim como uma posição de dirigir alta que transmite segurança. “O SUV mostra estabilidade e uma suspensão confortável e silenciosa, que é o principal. Em ruas de calçamento, não asfaltadas, ela não apresentou nenhuma vibração. O motor é razoavelmente silencioso e seu barulho não invade muito a cabine nas rotações mais altas. O sistema start-stop é eficiente. Mas o destaque fica para a visibilidade e a posição de dirigir que dão ao condutor a sensação de estar em um carro menor e ter mais facilidade de manobrar nos espaços urbanos. Isso significa uma boa dirigibilidade”, descreve Richard Abdias. Walter Harada confirmou essa percepção. “A visibilidade é boa, os retrovisores são grandes e direção é leve, manobra fácil. Destaco o bom funcionamento do freio-motor”, resume. 

MOTOR 

O JAC T50 1.6 AT deixou de lado o motor Jetflex do T5, que entregava 15,7 kgfm de torque e entre 125 (gasolina) e 127 cavalos (com etanol) a 6.000 rpm, para adotar o propulsor 1.6 DVVT de 138 cavalos – só a gasolina – a 6.000 rpm e 17,1 kgfm a 4.000 rpm, acoplado a uma transmissão continuamente variável de seis marchas virtuais. É o mesmo powertrain do JAC T40 CVT. O propulsor 1.6 ou de 1.590 cm3 reais apresenta quatro válvulas por cilindro e variador de fase nos comandos de admissão e escapamento – daí a designação DVVT, Dual Variable Valve Timing. Em teoria, esse sistema distribui melhor as curvas de torque e potência entre baixas e altas rotações, pois altera o tempo de abertura e fechamento das válvulas de acordo com a demanda do motor. Na prática, porém, o ganho de potência apenas compensa o ganho de peso do T50 em relação ao T5. O novo SUV carrega 1.320 quilos em ordem de marcha contra 1.210 do antecessor. A relação peso/potência quase não foi alterada, passando de 9,61 do T5 para 9,57 kg/cv do T50. 

Ainda que o novo propulsor vá de 0 a 100 km/h um segundo mais rápido que o antigo Jetflex do T5 – em 11,3 segundos – e faça o SUV alcançar uma máxima de 198 km/h contra 192 km/h do antecessor, convém não ter expectativas muito esportivas em relação a ele. Até os 3.500 rpm o comportamento do motor é um pouco sonolento e ele só dá sinais de vigor a partir das quatro mil rotações. O outro lado da moeda é que seus números de consumo oficiais são bem razoáveis, se situando entre 11,3 km/l no circuito urbano e 11,5 km/l no circuito rodoviário. Mas só a gasolina, a exemplo do que acontece também com o JAC T40. O que não é definitivo, pois segundo os representantes da montadora chinesa no País esse motor 1.6 16V pode se tornar flexível em um futuro não muito distante. 

A receptividade do motor do JAC T50 1.6 AT entre os reparadores independentes foi boa. “Promete não dar muita dor de cabeça”, acredita Gerson de Oliveira. Segundo o reparador, o cofre é razoavelmente arejado, os componentes estão bem distribuídos e a reparabilidade aparenta ser tranquila. “A exceção fica por conta do acesso às velas e bobinas de ignição, posicionadas mais para o fundo do cofre. Mesmo assim não é nada que assuste um profissional”, aponta o reparador, que aprovou a arquitetura do motor, com o coletor de admissão passando por baixo dos bicos de injeção. “Isso torna possível uma manutenção descomplicada dos bicos sem a necessidade de remoção do coletor. Da mesma forma, considero excelente a flauta contar com uma proteção térmica de borracha que ajuda a manter a temperatura da combustão e um equilíbrio térmico”, argumenta. “Sim, há espaço de sobra para trabalhar à frente do motor, embora o coletor de escape apresente certa limitação. Certamente, com o carro sob o elevador, esse problema desaparecerá”, projeta Richard Abdias.  

Para Walter Harada, o motor do JAC T50 1.6 AT apresenta arquitetura bem resolvida, fácil de se trabalhar e com boa reparabilidade. Ele elogiou as dimensões compactas do propulsor em relação ao cofre e os posicionamentos claros do módulo da injeção, alternador, corpo de borboleta e válvula EGR, que trabalha no controle de emissão de gases poluentes provenientes da queima do combustível. Mas, a exemplo dos colegas, teve certa dificuldade em localizar o módulo do ABS. “Ficou um pouco escondido, mas felizmente é um componente que não costuma apresentar problemas com frequência”, comenta. “Em compensação”, segundo Gerson Oliveira, “o filtro de ar pode ser trocado com extrema facilidade e o reservatório de abastecimento do radiador, com plástico transparente , permite uma rápida conferência do nível do fluido”. “O cuidado a se manter aqui é que a troca do fluido deve ser feita sempre por um reparador e não em um posto de combustível, pois nem sempre o nível do reservatório coincide com o do radiador”, lembra Richard Abdias.

TRANSMISSÃO 

O câmbio CVT, de seis marchas virtuais do JAC T50 AT, é o mesmo utilizado pelo JAC T40. A caixa foi desenvolvida pela emprega belga Punch Powertrain, especializada nesse tipo de transmissão, e incorpora a função win, que otimiza o rendimento do SUV nas arrancadas em pisos escorregadios como lama, água e areia, à medida que bloqueia o câmbio numa relação mais longa para evitar que as rodas dianteiras patinem. A função é ativada através de um botão localizado do lado direito da alavanca. Sem provocar reações unânimes de entusiasmo, devido a uma certa lentidão do veículo nas arrancadas, o comportamento da transmissão do JAC T50 passa por aceitável. Uma de suas características é, nas marchas mais altas, fazer o propulsor trabalhar em uma rotação elevada e sem se estabilizar em uma overdrive, como ocorre em outros SUVs – a 110 km/h o giro se mantém por volta dos três mil rpm –, o que não chega a incomodar devido ao trabalho de isolamento acústico do cofre e ao relativamente baixo consumo de combustível. 

Entre os reparadores a transmissão CVT detém uma legião de fãs. “Ele oferece respostas suaves, sem trancos e não faz o motor gritar. É um espetáculo nesse sentido”, elogia Gerson de Oliveira. “O CVT é, ainda, a melhor resposta de qualidade e reparabilidade depois de tantos problemas causados pelas transmissões automatizadas: comportamento suave, seguro e com boa manutenção”, emenda Richard Abdias que, no entanto, enxergou potenciais problemas ao examinar a caixa de transmissão do JAC T50. “A alavanca seletora do câmbio está bastante exposta. É a primeira vez que veja essa peça na parte de baixo da caixa. Normalmente, ela se situa na parte superior e é melhor protegida”, indicou. Por outro lado, ele identificou o filtro do fluido da transmissão, que normalmente fica no interior da caixa, do seu lado de fora. “Facilita a troca do fluido e do filtro e, por tabela, da manutenção”, aprovou. Outra diferença positiva foi apontada por Gerson. “Aqui temos dois coxins inferiores do câmbio, um à frente, perto do radiador, e outro atrás, junto ao agregado. Na maioria dos carros temos apenas um. Isso, certamente, aumenta a segurança”, compara. “Também facilita a desmontagem”, completa Walter Harada.  

FREIO, SUSPENSÃO  E DIREÇÃO  

Em relação ao T5, a suspensão do JAC T50 1.6 AT, 110 quilos mais pesado do que o antecessor, foi recalibrada e ganhou em desempenho. Tem a aptidão de trabalhar em silêncio – qualidade elogiada por qualquer reparador – e absorver com maciez a maior parte dos defeitos do piso brasileiro sem cair no oposto de ser molenga nem rolar demasiadamente a carroceria nas curvas. À frente, ela traz um sistema MacPherson clássico, independente, e nas rodas traseiras, eixo de torção com uma barra de reforço em seu miolo. A direção trabalha com uma caixa mecânica assessorada por um motor elétrico. De acordo com os reparadores ela se mostrou eficiente, com leveza no circuito urbano, facilitando os esterçamentos, e segurança no circuito rodoviário, impondo resistência nas maiores velocidades. Os freios são a disco nas quatro rodas: ventilados à frente e sólidos atrás.  

Na análise feita no undercar do JAC T50, sob o elevador, Richard Abdias confirmou que, por baixo, o acesso ao coletor de escape é melhor do que por cima – “Temos bom espaço para trabalhar” – e mostrou-se surpreso com a amplitude proporcionada pelo agregado de constituição leve delgada. “Chega a passar uma impressão de fragilidade, pois um SUV exige sempre um quadro mais espesso. Mas examinando de perto nota-se que ele é formado por chapas duplas”, confere o reparador. “Permite baixar o cárter do motor e, possivelmente, a caixa da transmissão sem maiores transtornos”, completa Gerson de Oliveira, que aprovou as bandejas com pivôs parafusados e travas. “Não é toda montadora que toma esse cuidado”, observa Gerson, que também gostou da posição bem definida do filtro de óleo. “Outro cuidado elogiável são as linhas de combustível e de fluido de freio estarem cobertas e acima das canaletas, o que as protege de obstáculos nas pistas”, arremata o reparador. 

Richard Abdias aprovou o sistema de homocinética com tulipa na ponteira no semieixo  e a manga de eixo dotada de roda fônica  que faz a marcação da rotação e, provavelmente, do velocímetro e hodômetro. “Torna a frenagem mais eficiente e dificulta um travamento das rodas”, segundo ele. Na parte traseira, o reparador atentou que é possível trocar as molas independentes e os amortecedores por baixo do veículo, dispensando a intervenções internas, via porta-malas. “Temos dois parafusos de suporte aqui em baixo que facilitam um trabalho menos invasivo e sem fazer muita sujeira”, indicou.  

Fazendo um balanço da análise do undercar, Richard Abdias considerou o JAC T5 1.6 AT um SUV mais urbano do que off-road. “Não é frágil, mas também não muito preparado para trilhas radicais. Como a maioria dos SUVs 4x2, enfrenta uma estrada de terra para chegar ao sítio, em um final de semana, mas sem exageros. O destaque fica por conta da excelente reparabilidade”, classifica. “Tem uma estrutura enxuta, sem novidades e fácil de trabalhar”, resume Gerson de Oliveira.  

ELÉTRICA, ELETRÔNICA E CONECTIVIDADE 

Ao dar atenção especial ao acabamento do T50, a JAC Motors, por tabela, caprichou na qualidade dos itens de série do SUV, que não deixam a desejar no quesito tecnológico. O veículo testado ainda dispunha do chamado pack 3, com conteúdo mais completo que eleva o valor do carro para R$ 87.990, e traz o sistema de multimídia com tela flutuante de oito polegadas e espelhamento para smartphones chamado Carbit – pouco intuitivo, na verdade. Seu destaque fica por conta da imagem de 360 graus com efeito 3D gerada por quatro câmeras – uma à frente, na grade, outra na traseira e duas nas laterais, sob os retrovisores externos – que ajuda sensivelmente nas manobras e encantou os reparadores. “Ela dá uma imagem de cima para baixo do veículo e reproduz tudo a sua volta. Ainda não tinha visto isso. Impressionante”, admira Richard Abdias. “Pelo que sei, só em carros de categoria premium, importados, encontramos esse item”, afirma Walter Harada.  

O pacote traz ainda uma quinta câmera posicionada no para-brisa frontal (foto 43), a JAC Connect Front Câmera, sob o retrovisor interno, que grava o que se passa à frente do veículo, inclusive em movimento. “Uma das aplicações desse recurso é, caso o condutor se envolva em um algum acidente, utilizar as imagens para provar o que realmente aconteceu. Em tese, isso deveria reduzir o valor do seguro do veículo”, acredita Gerson de Oliveira, que aprovou o volante multifuncional do SUV e as informações fornecidas pelo computador de bordo através do display central localizado entre o velocímetro e o conta-giros, mas nem por isso deixou escapar alguns pênaltis “indesculpáveis” cometidos no acabamento da parte elétrica do motor. “Os chicotes da caixa de fusível foram mal finalizados e deveriam estar melhor isolados, faltou capricho. Da mesma forma, a tampa da caixa traz uma folha plastificada muito mal colada com a tradução do funcionamento de relês e fusíveis. Dá a impressão de um trabalho amador e feito às pressas”, comenta o reparador.  

INFORMAÇÕES TÉCNICAS 

O reparador Gerson de Oliveira emprega o exemplo da folha improvisada na caixa de fusível do JAC T50 para ilustrar a precariedade das informações técnicas disponibilizadas pela montadora. “Se com uma informação tão básica, como a relativa a fusíveis e relês, há tal descuido imagine com uma informação mais complexa. Não dá para esperar muito da JAC e estamos, nesse quesito, entregues à própria sorte”, afirma. Em outras palavras, como sempre, os reparadores precisam correr atrás. No caso da oficina de Gerson, da rede Bosch Car Service, há um suporte técnico, mas mesmo assim é preciso ir além, com mais de um scanner de diagnóstico – ali são quatro –, assinaturas de enciclopédias automotivas e a internet. “Sobre essa última é preciso cuidado para filtrar as informações. Há muitos fóruns em que participam curiosos ou gente sem muito conhecimento. Se tivesse que recomendar um seria o do Oficina Brasil, onde temos quase sempre informações de credibilidade”, orienta.   

Para Richard Abdias não há dificuldade técnica em relação à parte mecânica do JAC T50, mas o mesmo não se diga em relação à eletroeletrônica. “Em algumas situações é difícil até pegar um serviço. Já tivemos dois casos aqui com veículos da JAC, fora de garantia, que não conseguimos resolver. A dificuldade nem é de scanner, mas de obter um esquema elétrico”, admite. Walter Harada confirma que a falta de informações técnicas, atualmente, com veículos chineses é dramática. “No Brasil, nem nos fóruns especializados, reunindo profissionais, encontramos muita coisa. Uma alternativa tem sido a pesquisa em sites da Europa e da China, desde que não estejam em mandarim”, indica.  

PEÇAS DE REPOSIÇÃO 

A precariedade das informações técnicas com os carros chineses só não é maior que a dificuldade com a reposição de peças. Walter Harada lembra que, agora, com a parceria entre o Grupo Caoa e a Chery o problema, talvez, comece a ser resolvido para esses veículos. Mas e com a JAC? “Não há peças entre os importadores e distribuidores independentes e as concessionárias da marca são poucas e não dão conta de suprir a demanda. Aqui perto, na Avenida Ricardo Jafet, no Ipiranga, tinha uma concessionária da marca, mas fechou. Isso compromete a imagem da montadora, ainda que ela ofereça seis anos de garantia a seus veículos. Se a JAC quer que seus produtos sejam bem aceitos precisa de um bom pós-venda. Mais de um cliente meu que era proprietário de veículo da JAC o vendeu por dificuldade em repor as peças”, testemunha.   

O aftermarketing é, de fato, o gargalo da JAC, agravado por uma diminuta rede de concessionárias – segundo o site da montadora, essas são 36 no País, cinco das quais em São Paulo e em sua região metropolitana. “Está aí o desafio da JAC. Se é uma troca de lâmpada ou óleo tudo bem, mas algo além disso como alternador, cilindro mestre, embreagem, que nem são coisas tão complicadas assim, o carro fica na oficina por tempo indeterminado esperando a peça. Logo, não há como pegar o serviço”, confirma Richard Abdias. Gerson de Oliveira reafirma que as peças precisam estar no mercado porque, na prática, os seis anos de garantia não existem. “Devido ao alto custo da manutenção do veículo na concessionária ele vem para as oficinas independentes após dois ou três anos de uso. O problema é que se já na concessionária não há peça para repor aqui também ela faltará”, resume.  

RECOMENDAÇÃO 

Um produto, por melhor que seja, fica comprometido caso a pós-venda não esteja à altura de sua qualidade. E essa verdade cabe perfeitamente ao JAC T50 1.6 AT, que dividiu a opinião dos reparadores na hora do veredito: recomendar ou não? 

“O SUV tem muitos itens de série, boa reparabilidade e é confortável. Mas na hora que precisarmos de informação técnica e, principalmente, peça de reposição não é certeza que encontraremos. Na dúvida, não posso recomendar sua compra para um cliente. Ao menos por enquanto. É uma pena.” - Walter Harada 

“Tem gente que fica com um carro só por um ou dois anos. Então, para esse, posso recomendar. O JAC, afinal, tem bom custo-benefício, boa dirigibilidade, muitos itens de série, é confortável e econômico. Mas se a pessoa tiver planos para ficar com o carro durante muito tempo, do jeito que a reposição de peças da JAC está hoje, não recomendaria.” - Richard Abdias  

“Eu recomendaria a meu cliente que se informasse bem sobre as condições de garantia, o valor da manutenção durante esse período e, principalmente, a reposição de peças. Se as respostas forem positivas não vejo porque não comprar. O carro é bom, bonito, com muita tecnologia e, havendo peça, a reparabilidade é excelente.” - Gerson de Oliveira.