Notícias
Vídeos

Em tempo de crise no setor automotivo o porto seguro é o mercado de reposição


No mercado real, aquele que acontece no dia a dia das oficinas, a falta de peças é considerado um grande problema. Peça é um insumo crítico na oficina e na falta das soluções usuais

Por: Marcelo Gabriel - 12 de maio de 2014

Há alguns meses que venho colecionando recortes de jornal e revistas, além de impressão de páginas da Internet que, como diria o saudoso “Gabo” (Gabriel García Marquez), já pre diziam uma morte anunciada. Vamos a alguns destes recortes. Em 21 de outubro de 2013 o jornal meio&mensagem trazia estampado em sua capa: “Recorde de marcas agita mercado automobilístico” e no corpo da matéria alertava os profissionais de Marketing das montadoras que o número recorde de fabricantes e a ampla oferta de modelos iria tornar cada vez mais difícil a luta por pontos de market share, pois além da concorrência nas concessionárias a atenção dos potenciais compradores seria dividida entre mais mensagens e mais apelos.

 Em 12 de março de 2014 o jornal Valor Econômico trouxe reportagem intitulada: “Montadoras vivem nova fase com foco no preço”, numa clara alusão ao ciclo econômico que se afigurava no horizonte, onde a oferta sendo superior à demanda força os fabricantes a disputar market share no caminho inverso da diferenciação, partindo para guerra de preços e que traz, como efeito colateral, desgaste no relacionamento com os fornecedores.

 Daí para a próxima má notícia se passaram apenas 14 dias. Em 26 de março de 2014, no mesmo jornal Valor Econômico a chamada: “Montadoras cortam a produção” e a reportagem atribui a queda nas exportações para a Argentina e o desaquecimento do consumo doméstico como principais motores da desaceleração produtiva.

Passado o mês de março, a notícia trazida pelo jornal Valor Econômico em 1º de abril de 2014 traz mais um prenúncio da eminente situação em Valor Econômico que destaca: “Venda de veículos novos cai para o nível mais baixo em 13 meses”, protagonizando assim uma queda de 15,2% nas vendas de março de 2014 quando comparadas a março de 2013.

Passada uma semana, a notícia trazida pelo jornal Valor Econômico de 08 de abril de 2014 chama a atenção pelo inusitado do título: “Carro de luxo dribla trimestre ruim e bate recorde de vendas”. Na contramão do que se vive nas montadoras locais, os registros de importação apontaram em direção contrária e as montadoras alemãs Audi, BMW e Mercedes-Benz registraram novo recorde de vendas. Apenas a Audi vendeu no 1º trimestre de 2014 o equivalente a 42% da venda em todo o ano de 2013. Na mesma matéria é apontada a derrocada das quatro grandes, com uma variação negativa no market share que em 2013 foi de 67,5%, passando para 66,9%. Podemos dizer que 0,6% não é uma queda expressiva mas lembram do que avisou meio&mensagem em outubro de 2013 e Valor Econômico em 12 de março de 2014? Eis a crônica da morte anunciada de Gabriel García Marquez.

E por fim a constatação pública do que vimos apregoando há mais de uma década estampa as páginas do jornal Valor Econômico de 28 de abril de 2014: “Reposição salva venda de pneus”. Alberto Mayer, presidente da ANIP, destaca que a despeito da queda de encomendas das montadoras, a produção dos fabricantes nacionais de pneus segue em alta, como resultado da agressividade no mercado de reposição que concentra quase metade das vendas. Destacamos o papel da reposição no mercado de pneus na edição de dezembro de 2013 do Jornal Oficina Brasil que trouxe os resultados da pesquisa sobre Hábitos do Reparador em relação a Pneus.

Em conversa recente com alguns executivos de importantes fabricantes de autopeças o sentimento é muito similar ao expressado pelo presidente da ANIP, ou seja, com esta redução nas vendas para as montadoras é chegado novamente o momento da turma da reposição salvar as vendas. Mas a dúvida que assola a grande maioria dos líderes é a seguinte: e quando as montadoras voltarem a comprar? Vamos continuar dando desculpas aos parceiros comerciais pela falta de peças e deixar espaço para outras marcas, outras fontes, outros players?

No mercado real, aquele que acontece no dia a dia das oficinas, a falta de peças é considerado um grande problema. Peça é um insumo crítico na oficina e na falta das soluções usuais (marcas conhecidas, canais conhecidos) algumas opções vêm ganhando espaço e relevância (veja matéria publicada na seção Mercado da edição de abril de 2014), principalmente a concessionárias que, por sua vez, salvam as vendas perdidas das montadoras. É para refletir.

 

Boa leitura!

 

Marcelo Gabriel é Diretor  da CINAU