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Passeio Dodginhos na Estrada, uma forma de fortalecer a paixão pelo pequeno notável da Chrysler


Criado em 2013, para comemorar os 40 anos do Dodge 1800/Polara, o evento acabou por se tornar um encontro anual e mostra que o Dodginho tem uma legião de fãs

Por: Anderson Nunes - 24 de maio de 2019

O Dodge 1800/Polara completou, no dia 2 de abril, 46 anos do início de sua produção aqui no Brasil. E para comemorar a data um grupo de proprietários e entusiastas colocaram seus Dodginhos para rodar e apreciar as belas paisagens da Serra da Mantiqueira. Sábado, dia 6 de abril, às 8:30 da manhã, treze Dodginhos reuniram-se em um posto de conveniência à beira da Rodovia Governador Carvalho Pinto, em Caçapava, para mais uma aventura.  

O Passeio batizado de “Dodginhos na Estrada” tem como intuito congregar um grupo para trocar informações e fortalecer ainda mais a paixão pelo pequeno Dodge, fabricados aqui no país entre 1973 a 1981. A ideia de criar o passeio surgiu no longínquo ano de 2012, por iniciativa do empresário taubateano Luiz Gustavo Cabbet, colecionador e apaixonado pelo “pequeno notável”. Na época, Cabbet criou um grupo em uma rede social batizado de “Dodginho – O Pequeno Notável”. “A intenção com este grupo era poder trocar mais informações e experiências, dicas de manutenção e localizar outros colecionadores pelo Brasil, enfim fortalecer a paixão pelo Dodginho”, explicou o empresário.  

Como faltavam poucos meses para o aniversário de 40 anos de lançamento do Dodginho, Luiz Cabbet teve a ideia de idealizar um passeio que contou com a colaboração de Daniel Giglio e João Fusco, dupla esta também apaixonada pelo compacto da Dodge. Surgiu daí a ideia de se fazer anualmente um encontro para reunir os apreciadores do Dodge 1800/Polara. “Algo que eu tinha em mente desde o início era que o evento não poderia ser estático, tinha que ser em movimento para que pudéssemos curtir os Dodginhos e apreciar as paisagens”, disse Cabbet. Ao todo já foram realizadas sete edições: a primeira em 2013 foi intitulada como “40 anos do Dodginho” e as seis seguintes já como “Dodginhos na Estrada”.   

 

DODGINHOS  NA ESTRADA 

Sábado de manhã, aos poucos os Dodginhos, seus respectivos proprietários e familiares começaram a chegar, e a se concentrar no estacionamento do posto de conveniência. A escolha por este estabelecimento à beira da rodovia Carvalho Pinto foi estratégica, já que local ficava relativamente no meio do caminho entre São Paulo e o Rio de Janeiro. Além disso, a região do Vale do Paraíba guarda diversas belezas naturais, boa culinária e estradas bem sinuosas que foram palco para o teste de resistência dos Dodginhos. A programação do evento tinha como destino a cidade de Campos do Jordão, com duas paradas – a primeira na cidade de Santo Antônio do Pinhal e depois em São Bento do Sapucaí.   

Após colocar o papo em dia, trocar dica de manutenção, pausa para fotos e transeuntes admirando aquela concentração de pequenos Dodges, era hora de pegar a estrada. Coube ao organizador do encontro, Luiz Gustavo Cabett, fazer as honras e dar início ao passeio. Cabett, colecionador dos Dodges 1800 e Polara, estava com um dos seus 6 modelos. Para o evento, ele levou seu Dodge 1800 GL Azul Nobre 1973, veículo este pertencente à primeira “fornada”. O modelo, que prima pela originalidade, traz entre os itens exclusivos as rodas esportivas pintadas em preto, já no interior o painel recebe acabamento imitando madeira, além de portas revestidas com uma tira de carpete e porta-objetos. 

Nós do Jornal Oficina Brasil seguimos viagem a bordo do Dodge Polara Vermelho Verona e interior vinho 1978, do empresário e colecionador João Fusco. Fusco já é conhecido das páginas da seção Do Fundo do Baú, pois seu Dodge Dart 1972 e o Polara Standard 1973 já ilustraram nossas reportagens lá nos primórdios da coluna mensal de antigos.   

Para o jornalista que vos escreve foi um prazer acompanhar e ver in loco aquele número considerável de compactos da Chrylser, seguir viagem e ouvir o ronco peculiar do seu motor de quatro cilindros de 1,8 litro (daí o nome das primeiras versões, alusivo ao deslocamento em cm³), alimentado por um carburador horizontal subindo a serra com maestria. O chamariz do Dodge Polara de Fusco era sem dúvidas a combinação de cores, neste caso vermelho Verona com acabamento monocromático vinho que foi oferecido somente nos anos de 1977 e 1978.  

Nota-se nessa versão todo trabalho de melhorias técnicas feitas pela Chrysler para que fosse apagada a má reputação que o veículo alcançou nos primeiros anos de produção. Para começar, os engenheiros da Chrysler fizeram pequenos reajustes no carburador SU-175 para tornar o carro mais econômico. Visualmente, os dois pares de faróis circulares foram substituídos – a exemplo do que ocorreu com o Hillman Avenger inglês – por dois faróis retangulares com piscas na cor âmbar. Internamente os bancos revestidos em veludo ganharam encostos com regulagem milimétrica e espelho retrovisor com posição dia-e-noite.  

A primeira etapa da viagem foi vencida com maestria pelos carros e todos chegaram ao destino programado na planilha, no portal da cidade Santo Antônio do Pinhal. Antes uma pausa para fotos e na sequência todos os participantes seguiam até o armazém e boteco A Bodega. O local é uma loja de produtos artesanais, tem como chamariz a cachaça e as tábuas de frios como salames e queijos artesanais. 

 As dependências do armazém merecem ser apreciadas com calma, a arquitetura rústica combinada com antigos tonéis de carvalho e móveis campestres são um convite a esquecer do relógio e admirar cada canto do local.    

Após apreciar tudo de bom que o local oferecia, os participantes aproveitaram para fazer algumas compras e voltamos a colocar o pé na estrada, ou melhor, os Dodginhos. Já era hora do almoço e nossa próxima parada seria a cidade de São Bento do Sapucaí. A pequena e pacata cidade recebeu os Dodginhos com alegria. Nas ruas as pessoas sorriam, acenavam para os participantes, foi algo muito emocionante.  

A pausa para o almoço foi no restaurante Sabor da Serra. Localizado próximo à praça central, o espaço funciona em um casario do início do século XX e o ambiente é uma volta ao passado. A fachada tomada por janelas coloridas oferece um ambiente aconchegante e bem amplo. A comida tipicamente mineira é feita em fogão a lenha. Foi um ótimo lugar para descansar e “reabastecer” o estômago antes de partimos para a nossa última atividade do dia. 

 

SUBIR A SERRA 

De volta à estrada, os valentes Dodginhos tiveram que encararar um desafio e tanto. Nosso ponto de chegada seria a bela cidade de Campos do Jordão. Para acessar a “Suíça Brasileira”, o roteiro programado foi contornar a Pedra do Baú, pela serra do Paiol. Trata-se de um caminho estreito e íngreme que exigiria muito do motor 1,8 litro. 

Por motivos de logística para a volta a cidade em que eu moro, pegamos carona com Clayton Pereira, entusiasta e colecionador de Alfa Romeo. Ele compareceu ao evento com seu Alfa Romeo 2300 TI4 1985. Foi muito boa oportunidade de apreciar todo o tempo o coure sportivo engolindo cada curva com maestria. Bem, voltemos ao Dodges. Dois carros à frente do que eu estava pude apreciar o Dodge Polara GL 1981 automático do colecionador Geraldo Lima. 

O Polara de Geraldo pertence ao último ano de fabricação e tem como característica além do câmbio automático de quatro marchas – primeiro veículo nacional nessa configuração, lançado em 1979, o teto-solar instalado em concessionária. Outro dado curioso refere-se à plaqueta de fabricação com dos dizeres: Fabricado pela Volkswagen Caminhões.  

A transmissão automática de quatro velocidades imprimia um bom ritmo ao Polara nas curvas íngremes da Serra do Paiol, mostrando que o acerto deste tipo de transmissão ao motor de deslocamento mediano casava de forma perfeita. Pena que o custo de aquisição de tal equipamento era caro, por ser importado, o câmbio automático encarecia em 12% o valor final do Polara.  

Uma parada foi feita próxima à chegada a Campos do Jordão para que o comboio se reunisse novamente. Conforme os veículos foram chegando foi possível notar que os Dodginhos enfrentaram aquele raid com coragem e boa forma. Entretanto a tarde de sol foi trocada uma forte chuva que resolveu nos acompanhar até nosso destino final.  

A chuva foi mais um lavar de almas, já que o desafio havia sido vencidos por todos os participantes. A jornada final foi encerrada em Campos do Jordão em uma loja de chocolates próxima ao portal da cidade. Agora é aguardar o próximo passeio para 2020.