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Chevrolet Marajó SE 1987, prática e econômica perua familiar que está tornando-se colecionável


Derivada do sedã Chevette, a Marajó ganhou mais conforto e um visual mais harmonioso na linha 1987, em que o destaque era a versão de luxo SE

Por: Anderson Nunes / Fotos: Renan Oliveira de Souza - 05 de outubro de 2021

Com o fim da produção do Fusca, em agosto de 1986, a linha Chevette passou a ser herdeira e sucessora do besouro, como a de veículo de menor preço do mercado. Entretanto, essa honraria deixava a General Motors do Brasil em uma posição mercadológica desconfortável. Segundo a empresa, o Chevette causava prejuízo na ordem de mil cruzados (moeda corrente à época) por unidade. 

A solução foi incrementar para a linha 1987 o modelo, o batizando de SE com itens diferenciados e que convenceram os membros da CIP (Conselho Interministerial de Preços) de se tratar de melhorias suficientes para um aumento de preço  na ordem de 6 a 10 % em relação ao modelo SL. Com as atualizações da linha Chevette apresentadas pela GM naquele ano, a empresa mostrava o cuidado e empenho em dar um dinamismo maior ao primeiro degrau dos seus produtos – já que seu pequeno sedã era o segundo carro em vendas da companhia e o quarto no mercado global de veículos nacionais. 

A adição da nova versão SE, com diferenciais de estilo e acabamento, colocavam o Chevette em posição de destaque no segmento de carros de entrada, e que também possibilitava a GM um ganho de preço final do veículo, já que permitia amortizar um pouco os prejuízos com as outras duas versões da linha – o Standard e o SL, que continuavam produzidos normalmente.

SEMELHANÇA AO MONZA

Para a linha 1987, o departamento de marketing da GM optou por rejuvenescer a aparência da linha Chevette, oferecendo ao modelo um perfil semelhante ao do Monza, uma clara política de uniformizar o aspecto de seus carros e assim dar um “status” de superior ao seu modelo de entrada. Desse modo, o capô foi rebaixando em forma de cunha, que resultou em uma pequena melhora aerodinâmica. Uma nova grade e um spoiler mais baixo com quatro tomadas de ar ampliadas fechavam o pacote estético dianteiro.

Novos também, os para-choques passaram a ser confeccionados em plástico injetados e do tipo envolventes, com pequenos frisos cromados nos modelos SL e SE. As molduras de proteção lateral na versão SE eram mais largas, e para dar um aspecto mais sofisticado as maçanetas, fechaduras e contorno dos vidros recebiam um acabamento em tom preto. Na traseira foram adicionados um novo conjunto de lanternas, sendo que no SE havia o acréscimo de uma faixa escura. Além disso, toda linha Chevette 1987 recebeu novos espelhos retrovisores externos aerodinâmicos fixados na coluna das portas e com controle remoto interno. E por fim, no modelo SE as rodas ganharam calotas plásticas do tipo envolventes. 

INTERIOR ACONCHEGANTE

No interior, a novidade eram os bancos que ganharam uma nova estrutura, deixando-os mais largos lateralmente e com apoios de cabeça agora reguláveis em altura. Na versão SE o revestimento dos bancos era em tecido navalhado podendo ser nas cores preto, cinza e marrom. Já os painéis das portas também recebiam o mesmo acabamento dos bancos, e passaram a adotar um descanso-braço com puxador integrado e luz de cortesia.

Outra novidade foi a introdução de travas internas das portas deslizantes que além de mais seguras também dificultavam o acesso no caso de uma incidência de roubo. Também foram redesenhados a alavanca que aciona os indicadores de direção, lavador e limpador do para-brisa. 

Outra inovação no Chevette SE era o novo quadro de instrumentos, agora com mostradores retangulares para velocímetro e medidores de temperatura do motor e nível de combustível. Na parte central havia um relógio digital e luzes indicadoras de consumo (duas luzes de led, verde para indicar consumo normal e a vermelha para consumo elevado). Além disso, o velocímetro recebeu hodômetro parcial. Para facilitar a leitura os instrumentos recebiam iluminação indireta na cor verde.

Outra preocupação foi quanto ao silêncio a bordo com a aplicação material fonoabsorvente na parte interna do capô, parede corta-fogo e sobre o painel esquerdo do interior do porta-malas.   

FAMÍLIA AMPLIADA

Em outubro de 1980 era apresentada oficialmente a perua derivada do Chevette, batizada de Marajó. O modelo era uma reprodução do Opel Kadett Caravan C, e chegou para disputar mercado com a Ford Belina e a Fiat Panorama. A Marajó já trazia os aperfeiçoamentos mecânicos adotados no Chevette meses antes, tais como o ventilador do motor comandado por uma embreagem eletromagnética que era acionada automaticamente quando líquido do circuito de refrigeração atingia os 90º C. 

A Marajó adotava o visual apresentado no sedã, em 1978, com a dianteira levemente inclinada, com grade dividida em dois retângulos, uma clara inspiração nos Chevettes norte-americanos. O capô agora chegava até o para-choque e na versão SL havia filetes cromados em torno das molduras dos faróis e grade. A perua media 4,20 metros de comprimento, porém o recurso estético dos três vidros laterais separados fazia com que o modelo familiar parecesse maior que o sedã, o entre-eixos era mantido em 2,39 m. O porta-malas comportava 469 litros em posição normal e podia ser ampliada até 1.282 litros com o banco rebatido.

Com quase três anos de mercado, em agosto de 1983, a Marajó recebia alterações visuais, com a inclusão de linhas mais retas. A frente contava agora com faróis retangulares, luzes dos piscas nos cantos, grade única com frisos horizontais e novo capô. A traseira mantinha a mesma tampa de porta-malas, de formato mais arredondado, que destoava do restante da carroceria mais vincada. As lanternas passaram a ser tricolores.    

Um retrocesso foi a adoção das janelas com quebra-ventos, o que atendia a um pedido dos consumidores da época. Por dentro vinha com um novo painel mais envolvente, saídas de ar em formato retangular, além do volante com desenho do “V” invertido. No conjunto mecânico as novidades eram a adoção do motor 1,6 litro a álcool, com 72 cv e 12,3 m.kgf, tendo como novidade a opção do câmbio de cinco marchas. O 1,6 a gasolina era padrão em toda a linha (o 1,4 ficava restrito à exportação), com potência de 69 cv e 11,8 m.kgf. Em ambos os combustíveis a alimentação se dava por um carburador de corpo simples. Já a ignição eletrônica era a novidade para a linha 1985. 

MAIS REQUINTE 

A exemplo do Chevette, a Marajó também ganhou sua versão SE, que passava também a ser a versão topo de linha da perua. O modelo ganhava um visual mais harmonioso, acabamento mais esmerado, o que a deixava 15% mais cara do que a tradicional versão SL, mesmo assim ainda mantinha o título de ser a perua mais barata do mercado brasileiro. Com o lançamento da linha 1987 a GM aproveitou para corrigir alguns pontos no desenho da Station Wagon do Chevette.

A mais visível foi na traseira, onde a tampa arredondada destoava do conjunto da carroceria, de linhas retas. Isso tornou-se ainda mais evidente a partir de 1983, com a reestilização da frente. Assim foi adicionado uma nova tampa com saliências nas laterais e na parte de cima, chegando a lembrar um pequeno aerofólio. Havia agora uma reentrância na parte central da tampa pintada em preto. O contorno da vigia traseira recebia uma pintura em preto-fosco, para passar a impressão de uma maior área envidraçada.

Uma novidade apresentada na Marajó SE para linha 1987 era a opção do rádio toca-fitas e que quando equipado com o conjunto de som também era adicionado um porta-fita, instalado no console central, à frente da alavanca de freio de mão. Por ser acessório caro para época, poucos carros acabaram saindo com sistema de som de original de fábrica. Aliás, a lista de opcionais eram bem farta para um veículo de entrada, estando disponíveis inclusive o ar-condicionado e o câmbio automático de três velocidades. 

A linha Chevette SL e SE 1987 estava disponível em oito novas cores externas: Amarelo Trigo, Bege Itapema, já os tons metálicos eram o Preto Granito, Azul Platina, Azul Búzios, Dourado Itapuã, Verde Tropical e Marrom Canela. Foram mantidos no catálogo as nuances Vermelho Bonanza, Preto Formal, Branco Everest e Prata Andino metálico. 

Na segurança, o sistema de freios foi todo revisto. O diâmetro do servofreio foi aumentado para 7 polegadas, também foi redesenhado cilindro mestre e recalibrado a válvula equalizadora. As pastilhas, bem como as lonas de freio ganharam materiais mais resistentes, com isso houve uma significativa melhora no espaço de frenagem até a parada total do veículo.

Os pedais foram revistos, ficando com a base mais estreita, o que aumentou o espaço livre entre um e outro.

Na parte mecânica havia a especulação de um novo motor 1,6 litro que traria virabrequim, pistões e bielas mais leves, anéis mais finos e carburador de corpo duplo. Porém, os consumidores tiveram que aguardar a chegada da linha 1988, quando o SE passou a se chamar SL/E, padronizado às linhas Monza e Opala. Isso será tema para uma outra reportagem.

FÃ DA LINHA CHEVETTE 

A cultura automobilística brasileira foi alicerçada sob os modelos V8, caso dos Dodges, Mavericks e Galaxie 500 e no outro extremo a configuração seis cilindros dos Opalas. Essas duas formas de motores ainda hoje despertam o desejo e muitas pessoas, inclusive de jovens que nem viveram na época áurea desses grandes trens de força. Entretanto existe uma parcela desses novos colecionadores que estão de olho em carros mais econômicos, práticos e pasmem, de configuração de acabamento específica. É o caso do colecionador Renan Oliveira de Souza, 24 anos, Bacharel em Direito, morador da cidade de Cachoeirinha, RS.

O Chevrolet Chevette faz parte de sua vida desde a tenra idade. Seu pai foi proprietário de um modelo Hatch 1980, e a bordo desse carro, Renan era colocado para dormir com uma simples volta na quadra de sua casa. O tempo passou e em 2012, aos 16 anos, Renan adquire seu primeiro veículo, um Chevette SE, ano 1987, na cor branca. “Foi a partir de Chevette que eu resolvi simplificar o meu gostar e focar em um único automóvel e versão em específico. No ano seguinte, tive que vender esse Chevette, pois precisava de um carro mais condizente para o dia a dia, mas sempre fiquei com o pensamento em ter outro Chevette SE”, explicou.

Em junho de 2015, seu pai, que possui uma loja de automóveis dentro de um complexo com outras revendas, soube que no espaço havia um Chevette SE Marron Canela, sendo ofertado por um colega de trabalho. O veículo já tinha despertado a atenção de um potencial cliente, porém decidiu não fechar o negócio, já que os valores estavam acima do seu poder de negociação. 

“Meu pai assim que soube que o Chevette não havia sido vendido, fez uma contraproposta e pagou o Chevette à vista. Fui ter ciência da compra do meu tão sonhado Chevette SE, quando estava no portão da escola em que meu irmão, que na época tinha 7 anos, para buscá-lo às 17 horas, quando meu celular tocou e recebi a notícia do meu pai, que havia encontrado e comprado o Chevette”, recorda sorridente. 

Um ano depois, em agosto de 2016, Renan Oliveira soube que um amigo também apreciador da linha Chevette estava colocando à venda uma rara Marajó SE Branco Everest para adquirir um Chevette SL/E com o interior cinza. “A Marajó SE foi uma feliz compra, pois já conhecia todo o histórico do carro e do proprietário, João Otávio, admirador da linha Chevette. Agora tenho em minha garagem uma versão de cada carroceria no acabamento SE”, diz Oliveira. 

Tanto o Chevette quanto a Marajó não precisaram passar por um processo de restauro, pois já se encontravam em excelente estado de conservação, sendo realizadas apenas melhorias, como troca de algumas peças, devido ao desgaste natural do tempo. O proprietário ressalta que os pontos fortes desses modelos é o acabamento, que na época possuía detalhes requintados, tais como rádio toca-fitas e porta-fitas, luz de cortesia nas portas, econômetro, sem contar que a parte mecânica é bem simples. O ponto fraco apontado é no caso a falta de comércio de peças, e muitas vezes quando encontradas os valores estão bem altos. 

A saga em busca de outros modelos com a insígnia SE não acabou para a Renan Oliveira, que diz estar à caça de mais outras duas versões da família Chevette. “Meus amigos sempre me incentivaram tanto na compra do segundo automóvel que foi a Marajó SE, assim, como dizem que tenho que ter um terceiro automóvel, e, ainda, de preferência tem que ser uma Chevy SE ou Chevette Hatch SE”, saliente. Bem, nós da Seção Do Fundo do Baú ficaremos na torcida para que futuramente possamos exibir esses dois modelos aqui em nossas páginas.