Nesta matéria vamos dar continuidade ao tema:
A prática do Diagnóstico Avançado promove a redução do desperdício e aumento da produtividade na oficina.
Abordaremos nesta matéria o tópico planejamento do Ciclo PDCA que evita o MURI (o desperdício causado pela irracionalidade).
Entretanto, antes de apresentar o assunto planejamento, devemos inseri-lo no contexto da formação do técnico automotivo no que se refere ao desenvolvimento de suas capacidades.
Quando se fala da formação plena de um técnico automotivo devemos levar em consideração o desenvolvimento de suas capacidades em três categorias: Básicas, Técnicas e de Gestão.
Básicas: referem-se aos conhecimentos, às bases cientificas, tecnológicas e aos saberes universais identificados como pré-requisitos para o fazer técnico e para o desenvolvimento das competências;
Técnicas: expressam os requisitos atitudinais específicos que subsidiam o bom desempenho técnico, ou seja, sua capacidade de aplicar conhecimentos, tecnologias, normas, e outros conhecimentos adquiridos;
Gestão: habilidades organizativas do fazer técnico que, em geral, abordam as relações no ambiente de trabalho, bem como os princípios de qualidade e respostas frente às novas e /ou imprevistas situações problema.
Vamos apresentar, agora, alguns exemplos de capacidades básicas, técnicas e de gestão a fim de identificarmos em qual categoria o planejamento está inserido.
Observando a figura 1, ficou fácil identificar que o planejamento está inserido na categoria das capacidades técnicas, ou seja, para planejar sua atividade o técnico já deverá ter adquirido algumas capacidades básicas como, por exemplo, identificar o sistema relacionado com a anomalia e interpretar dados e informações, a fim de elaborar seu plano de ação produto final do planejamento.
É a partir do domínio das capacidades que poderemos avaliar se o técnico é competente ou não. As capacidades são desenvolvidas para garantir que o técnico consiga realizar determinadas tarefas, como realizar manutenção no sistema de carga e partida, por exemplo. Isso só é possível se ele desenvolver a capacidade básica de identificar os sistemas eletroeletrônicos e a capacidade técnica de reparar anomalias nos sistemas eletroeletrônicos e assim se forma o conceito de competência profissional.
Agora que contextualizamos o planejamento, vamos apresentar um exemplo prático de sua aplicação, no qual foi requerido pelo proprietário do veículo que o técnico realizasse o diagnóstico de falha no sistema eletroeletrônico do veículo relacionado ao indicador do nível de combustível.
O proprietário de um veículo Chevrolet Celta 1.0 ano 2015 chegou à Oficina L.Rabelo Manutenção Automotiva, sediada no município de Caucaia no estado do Ceará, relatando que o marcador de nível de combustível não estava mais indicando corretamente a quantidade de combustível presente no tanque. Desta forma, solicitou ao técnico automotivo que realizasse o diagnóstico deste inconveniente.
Como o foco dessa matéria está na aplicação do planejamento, vamos apresentar o passo a passo de registro e montagem do plano de ação para encontrar a causa da falha no veículo. A figura 3 exibe a ordem de serviço deste caso.
Para se chegar à identificação da causa da falha, foi preciso planejar o passo a passo das ações que seriam tomadas, que em nosso caso, chamei de fluxograma do diagnóstico. A figura 4 apresenta de forma didática a sequência das verificações, testes e reparos necessários para solucionar esse caso.
Execução do passo a passo do fluxograma
Leitura e interpretação da ordem de serviço
Após o registro das informações relatadas pelo cliente foi necessário a realização da interpretação. Assim, sabíamos que o problema exigiria vários testes, como funcionamento do sensor de nível em bancada, teste do chicote elétrico e painel de instrumentos. O mais importante era que estava claro para nós o que estava incomodando o cliente.
Verificar se o relato do cliente procede
Para garantir que realmente o indicador de nível de combustível estava com problemas, tivemos que abastecer o veículo de forma a quase encher seu tanque por completo, para garantir que a quantidade de combustível ficasse superior a meio tanque. Após o abastecimento fomos conferir o indicador de nível no painel. A figura 5 mostra o posicionamento do ponteiro.
Assim, confirmamos que o problema realmente existia e, desta forma, partimos para o próximo passo.
Identificar o sistema relacionado
Identificamos, de pronto, dois sistemas que teríamos que realizar os testes: sistema eletroeletrônico do sensor de nível, assim como o sistema que compõe o funcionamento do painel de instrumentos, logo tínhamos dois sistemas para realizar a análise.
Realizar os testes necessários no sistema identificado
Decidimos iniciar testando o funcionamento do mostrador de nível de combustível do painel, utilizando um scanner automotivo, no teste de atuadores, devido à rapidez e facilidade de se realizar o teste. A figura 6 exibe o teste realizado bem como o seu resultado.
Ao realizá-lo, vimos que o ponteiro se movimentava normalmente até a posição de tanque cheio, o que indicava que o painel de instrumentos estava em perfeito estado.
O próximo teste foi a análise da alimentação do sensor de nível de combustível. Mas, antes de realizar o teste tivemos acesso ao diagrama elétrico, figura 7, que indicava que a alimentação do sensor de nível vinha direto do módulo de controle do motor e que tinha um valor de aproximadamente 5,0 volts. Realizamos a medição com o multímetro e constatamos que o sensor recebia a alimentação positiva de acordo com o especificado. Em seguida, realizamos o teste de continuidade do sensor com a massa do veículo, confirmando assim que o mesmo está recebendo alimentação elétrica tanto pelo lado positivo quanto pelo lado negativo.
A figura mostra o resultado dos testes através de nosso relatório técnico de diagnóstico.
Reparar o inconveniente
Diante do resultado das análises feitas, concluímos que o problema seria o sensor de nível. Então substituímos o mesmo sem nenhum tipo de problema durante o procedimento.
Verificar se o problema foi solucionado
Após a substituição, ligamos o veículo e comprovamos a assertividade do diagnóstico. A figura 9 mostra o mostrador de combustível marcando corretamente a quantidade de combustível que estava no tanque.
Entrega do veículo
Com a confirmação da solução do defeito, explicamos ao cliente como se deu a resolução do caso, mostrando a peça defeituosa e finalizamos o serviço com todos os envolvidos satisfeitos e nós, particularmente, com a sensação de dever cumprido.
Caros amigos reparadores, procurei nesta matéria apresentá-los à importância do planejamento e das capacidades técnicas para se realizar diagnósticos de forma rápida e sem imprevistos oriundos da irracionalidade (MURA), devemos sempre criar um fluxograma ou passo a passo dos testes e reparos que iremos realizar.
Até a próxima!