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Estamos na era em que o diagnóstico toma mais tempo, equipamentos sofisticados e sabedoria


O conhecimento do reparador é colocado à prova em carros como um Fiesta 1.0 2014 com luz da injeção acesa acusando código de falha P0343 que aparentemente seria apenas mais um serviço na oficina

Por: Diogo Vieira - 18 de abril de 2019

O diagnóstico do veículo começa na conversa do reparador com o cliente. Nesta conversa, detalhes importantes como: 

• Quando começou a ocorrer este defeito? 

• Foi após uma manutenção em alguma oficina?  Se sim, qual serviço foi realizado? 

• Qual e quando a última revisão feita no veículo? 

• O veículo possui algum sistema de bloqueio de combustível ou rastreador? 

• Abastece geralmente com qual tipo de combustível? 

• Qual o último combustível usado no abastecimento? 

• O defeito se manifesta em que momento do dia? 

• O defeito acontece mais com o veículo quente ou frio? 

• Qual a média de consumo de Km/Litro? 

• Já tentou resolver este defeito em outra oficina e não teve êxito? 

A entrevista consultiva revela detalhes importantes para podermos montar o nosso mapa mental e resolver o problema.  Entretanto, no caso do Fiesta isto não foi possível.  O veículo pertencia a uma grande empresa que não gerenciava a manutenção de sua frota e o motorista não tinha informações a nos passar.  A falta destas informações dificulta e pode deixar o serviço um pouco mais demorado, mas não o torna impossível de diagnosticar.  Municiados de um scanner, osciloscópio e diagrama elétrico, hora de ir ao combate! 

O ponto de partida foi a falha mostrada no scanner:  P0343 – Circuito do sensor de posição do Came – entrada alta. 

Quando o equipamento de diagnóstico se comunica com a UCE (unidade de comando eletrônico) do veículo e pede informações referentes à falha, a UCE fornece apenas o código de falha.  A descrição do código de falha (neste caso:  Circuito do sensor de posição do Came – entrada alta) é inserida pelo fabricante do equipamento de diagnóstico.  Isto posto, fica outra dica:  consulte o código de falha em uma plataforma online.  Talvez a descrição na tela do seu equipamento não seja muito clara ou pode conter erros.  No caso do Fiesta, checamos o DTC (DIAGNOSTIC TROUBLE CODES) na plataforma Diag app da Ciclo Engenharia.

Como as descrições do scanner e aplicativo apontaram para o sensor de Fase (sensor de cames), o reparador resolveu capturar o sinal deste sensor com o seu osciloscópio.    

Vemos nesta imagem o sinal do sensor de rotação ou CKP (do inglês crankshaft position sensor) no canal amarelo e em verde, o sinal do sensor de fase.  Por que o reparador capturou o sinal de fase juntamente com o de rotação?  Justamente para ver o sincronismo do motor.  Alguns sistemas de injeção eletrônica apontam erro no sensor de fase e na realidade o erro é no sincronismo no motor. Entenda a lógica da UCE:  a central tem em seus mapas internos a posição ideal do sensor de fase em relação ao sensor CKP. No veículo que está com o sincronismo errado, a posição do sinal enviado pelo sensor “não bate” com o sinal gravado internamente na UCE. Com esta implausibilidade, a UCE faz acender a luz espia de injeção eletrônica e grava a falha na memória. 

  Voltando para a figura 3, vamos fazer uma análise do sinal: 

• O sinal CKP mostra que temos uma roda fônica de 60-2 dentes.  Para chegar a esta conclusão, o reparador deve contar os dentes (parte alta do sinal) que somam 58 com a falha no sinal de dois dentes.  Na marcha lenta, os dentes da roda fônica apresentam amplitude de quase 6 volts. 

• No sinal do sensor de fase, vemos apenas a marcação de um dente, destacado no círculo vermelho.  Repare que temos uma tensão constante de quase 5 Volts (cinco volts) no canal verde e após 11 dentes do sinal CKP, a tensão cai a 0 volts (zero volts) mostrando o dente no eixo comando de válvulas. 

No canal verde temos um sinal de fase e no scanner acusa falha neste sensor.  O que estaria acontecendo?  Senhores, vejam a importância do osciloscópio nos nossos diagnósticos. Outra ferramenta, no teste deste sensor, certamente nos conduziria ao erro. Um multímetro por exemplo, medindo a frequência em Hertz do sinal, certamente marcaria algum valor.  Medir a tensão média neste fio, lógico que marcaria algum valor em volts ou então o uso de uma caneta de polaridade... certamente o LED verde piscaria.  Então você leitor poderia pensar: “Olha, está pulsando, então não tem defeito.  Deve ser defeito no módulo!”  Então, viram como é fácil um diagnóstico errado sem as ferramentas certas?   

O diagnóstico avançado com osciloscópio parte do princípio de que a imagem capturada deve ser comparada com uma imagem de um componente em boas condições de funcionamento.  Funciona com a onda de ignição, em que comparamos o nosso sinal da “cadeirinha” com um sinal PADRÃO daquele veículo. De modo igual acontece com os sinais de fase e rotação:  capturamos um sincronismo destes sensores e guardamos em nosso banco de dados.  Se não temos a imagem de referência em nossos arquivos, então consultamos nossos colegas ou pesquisamos no Fórum.  São muitos veículos, centenas de sistemas e milhares de sinais a serem capturados, é impossível um profissional conseguir todos estes sinais.  Daí a importância do compartilhamento de imagens.   

No Fórum oficina Brasil existe uma imagem de sincronismo de referência postada pelo reparador Joelson Santos, de um Ford Ka 2009 com o mesmo motor ROCAM do veículo testado (figura 4 ou leia com seu Smartphone o QRCode A). Notem que este sensor de fase da foto de referência mostra 3 dentes no comando! Opa, algo de errado por aí...

O reparador desmontou a tampa de válvulas e encontrou o erro:  comando de válvulas com aplicação errada. Este comando com apenas um ressalto, marcado em vermelho, é usado em motores ROCAM mais antigos que usam um sensor de fase indutivo, que tem apenas 2 fios no conector.  

No Fiesta testado na Montese Autocenter, o sensor é de efeito Hall e tem 3 fios como mostra a figura 6. Para este sensor de fase de 3 fios, o comando correto é o mostrado na figura 7, em que vemos 3 ressaltos de tamanhos diferentes. 

Ainda no Fórum Oficina Brasil, na seção Casos de Estudo, outro reparador deu uma contribuição importantíssima para o fechamento do diagnóstico:  o reparador Osair Xavier, da Auto mecânica Xavier, mostra a diferença do sinal do sensor de fase indutivo do sinal de fase com sensor de efeito Hall. Confira no QRCode B com seu smartphone. 

Após a instalação do comando de válvulas correto, o reparador com seu scanner conseguiu apagar o código de falha tranquilamente.  E aí, o amigo reparador ainda tem dúvidas que o osciloscópio é essencial no diagnóstico eletromecânico?  Venha para o mundo do diagnóstico avançado.  Os carros mudaram e as ferramentas também.  Falta apenas você! Acesse nosso fórum e fique por dentro do que há de mais moderno em diagnóstico automotivo.  Até a próxima.