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Consertar o carro – o maior desafio está no diagnóstico do defeito e que vai resolver!


Não importa o modelo ou ano do carro, pois cada um que entra na oficina pode exigir o máximo de conhecimento do reparador e isso fica mais difícil quando o cliente já não tem mais paciência e dinheiro

Por: Diogo Vieira - 03 de outubro de 2019

Neste mês continuarei o relato do diagnóstico do Corolla equipado com motor 7AFE, com dificuldades de partida e falhas de funcionamento.

Para que entrasse em funcionamento, o proprietário “injetava tensão” com uma caneta de polaridade e quando o veículo funcionava, o acelerador deveria ser acionado constantemente, pois o carro não conseguia estabilizar a marcha lenta.  

Consertar o carro

Na edição passada, relatei os itens que foram trocados para teste e fiz uma breve descrição do funcionamento do sistema de ignição deste veículo.  Hoje mostrarei o passo a passo do diagnóstico.

     No diagnóstico de veículos que não entram em funcionamento, o primeiro passo é a verificação do “Pentágono da Combustão”.

O “Triângulo do fogo” e o “Pentágono da Combustão”. Pentágono da Combustão? 

O termo pode parecer esquisito a princípio, mas já já você irá entender.  O conceito de “triângulo do fogo” certamente é conhecido por todos da reparação automotiva. 

Consertar o carro

O triângulo do fogo é a representação gráfica dos três elementos necessários para que haja uma combustão (queima).  

Esses elementos são: o combustível, que fornece energia para a queima; o comburente, que é a substância que reage quimicamente com o combustível; e o calor, que é necessário para iniciar a reação entre combustível e comburente. 

Combustível: É tudo que é suscetível de entrar em combustão (madeira, papel, pano, estopa, tinta, alguns metais, etc.)

Comburente: É associado quimicamente ao combustível, é capaz de fazê-lo entrar em combustão (o oxigênio é o principal comburente).

Energia de ativação ou ignição: É o calor necessário para que a reação inicie, após isso o próprio incêndio se torna a fonte de calor.

Sabemos que dentro da câmara de combustão do motor de ciclo Otto existe uma combustão: o comburente (ar atmosférico) entra pela válvula de admissão juntamente com o combustível e a vela de ignição fornece o calor necessário para queima.  Entretanto o check destes três elementos não é suficiente para um diagnóstico de veículo que não entra em funcionamento: combustível, comburente e ignição são suficientes apenas para a formação da chama. No funcionamento do motor ciclo Otto teremos que acrescentar mais dois elementos. 

Consertar o carro

A introdução do diagrama do “Pentágono da Combustão” representa as cinco arestas a serem verificadas pelo reparador automotivo:

• Combustível.  Alguns carros não entram em funcionamento por falta de combustível, seja por defeito na bomba de gasolina, injetores ou chicote elétrico.  Esta etapa é de fácil verificação.  Se jogarmos combustível no TBI e o veículo entrar em funcionamento, a causa da falta de combustível deverá ser investigada 

• Comburente: o ar na admissão.  Filtro de ar do motor, mangueiras, juntas do coletor de admissão devem ser checados pelo reparador.  A carbonização excessiva no coletor ou válvulas também atrapalha o fluxo de ar para o cilindro.  

• Ignição.  A mistura tem que inflamar.  Um teste prático para o check do sistema de ignição é a instalação de um centelhador ou algo metálico como uma chave de fenda, no cabo de vela, e deixar muito próximo da massa do veículo.  Quando o motor entrar em funcionamento, a faísca deverá saltar no milimétrico espaço da ferramenta à massa do veículo. Se não houver centelha, a causa deve ser investigada.

• Compressão.  Entra em cena o quarto elemento da nossa figura geométrica.  Se temos combustível para queimar e uma boa centelha, essa mistura deve ser comprimida para que ocorra uma boa explosão e possibilite o funcionamento do motor. Baixas compressões podem impedir o funcionamento do motor ou deixá-lo com pouco desempenho.  Desgaste no motor, problemas nas válvulas ou sincronismo errado são as principais causas. 

• Eletroeletrônica do veículo:  a UCE pode bloquear a partida do motor por alguma estratégia de funcionamento ou mesmo o sistema de imobilizador pode interferir na partida. O diagnóstico deverá ser executado preferencialmente com um scanner automotivo e osciloscópio.

     Estes são os cinco pilares a serem checados em veículos que não entram em funcionamento.  Veja a aplicação do Pentágono da combustão no Corolla: 

 No Corolla em questão, existia combustível no tanque e este chegava nos injetores.  Os injetores eram acionados corretamente e a qualidade do combustível também foi verificada.  Com osciloscópio, capturamos um sinal característico. 

Consertar o carro

 Procurei no coletor de admissão algum problema de vedação ou carbonização.  Nada de errado foi encontrado.

 Quanto à ignição, foi verificada com centelhador a centelha, que saltava nos quatro cabos de vela.  O osciloscópio mostrou um sinal característico do sistema. 

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 Prosseguindo os testes agora na parte mecânica do motor, percebi uma pequena alteração na CR (compressão relativa) e ao checar o vácuo do coletor de admissão com uma fermenta específica, o TVA (transdutor de vácuo na admissão), encontramos um problema. 

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Nesta foto, temos o sinal de vácuo juntamente com sinal de fase (G1) que evidentemente mostra falha em pelo menos dois cilindros. Todavia seria essa a causa do motor 7AFE não entrar em funcionamento?  

 Havia uma falha mecânica no motor pelos testes de CR e TVA, isso era fato.  Porém as alterações nos sinais eram poucas e conclui que o motor deveria pegar, mesmo falhando.  Dei prosseguimento com os testes na parte eletroeletrônica do veículo.  

Vai a dica:  

O reparador pode ter esses cinco pilares em suas anotações pessoais para a elaboração de uma estratégia de diagnóstico nos veículos que chegam na oficina, observe a figura 3.

   Chegou a hora de espetar o osciloscópio em sinais vitais para o funcionamento do motor:  Sensor de rotação (letra A) e no sinal de primário de ignição (letra B), conforme mostra a figura 7.  

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Os pontos destacados com a letra “P” sinalizam o momento que o motor começa a girar.  Sinais são gerados no Canal A e no círculo em Amarelo, vemos os primeiros pulsos de ignição.  Logo em seguida vemos o motor entrando em funcionamento, destacado pelo retângulo amarelo.  

A análise mostra que o distribuidor enviava um sinal de rotação para a UCE (unidade de controle eletrônico) e esta enviava os comandos de ignição e injeção. O próximo passo foi a captura do sinal de rotação (sinal NE conforme explicado na edição anterior) e o sinal de fase (G1).

Consertar o carro  

No canal A temos o sinal de disparo da pinça indutiva no cilindro 1, no canal 2 o sinal de fase e no canal 3 temos o sinal de rotação.  O círculo em Vermelho chama atenção para o formato da onda.  Algo de errado estava acontecendo ali.  

No manual técnico Toyota que encontramos no Google, havia a representação gráfica padrão do sinal de rotação e fase. 

Consertar o carro

Fica evidente o contraste entre o sinal padrão do manual e o que encontramos no veículo, destacado em vermelho.  O que estaria ocasionando a deformação da onda? Falha no sensor?  Falha no eixo do distribuidor? Falha elétrica?  Olhando atentamente para o sinal de rotação, parece que tínhamos o desenho da “cadeirinha” do sistema de ignição junto ao sinal de rotação.  Desconfiamos de uma possível interferência eletromagnética, pois a bobina apresentava rachaduras e o corpo ferroso da bobina, o trafo, estava magnetizado.  Sobre esse assunto de interferência eletromagnética e construção da bobina de ignição, minhas dúvidas foram sanadas nos canais de suporte técnico de duas empresas, para as quais deixo registradosmeus agradecimentos:  Microcar e NGK.  As informações colhidas foram fundamentais para o meu diagnóstico.

Chegou a hora de testar o chicote elétrico, pois certamente havia um curto. Mas onde? Numa inspeção visual do chicote, achamos dois pontos onde provavelmente haveria um curto: na parede corta-fogo do motor, onde havia atrito com uma mangueira e dentro do veículo, no chicote que passava próximo ao pedal do acelerador. 

Consertar o carro  

Consertar o carro

Realmente havia alguns fios com isolamento comprometidos.  Efetuados os reparos e ao testar novamente o sinal do sensor de rotação, o sinal permanecia distorcido.  

Procurando por curto-circuito do sinal de rotação quanto à massa, positivo e entre outros fios do distribuidor, abrimos o circuito do sensor de rotação próximo à parede corta-fogo.  Esse procedimento mostraria onde estaria o curto: no cofre do motor ou dentro do veículo.  O fio de sinal de rotação deveria ter resistência infinita com os sinais de controle do distribuidor de ignição, positivo e negativo.  Porém havia uma resistência de cerca de 280 Ohms com um dos fios do distribuidor de ignição.  Correndo o chicote de 6 pinos do distribuidor achamos a pane: um defeito colocado (o pior de todos!) dentro da tomada que encaixava no distribuidor.  Algum reparador tentando recuperar a tomada, soldando os fios, deixou que um pouco de estanho escorresse para dentro da tomada. 

Consertar o carro

Após reparo no conector, veículo entrou em funcionamento normalmente e manteve uma marcha lenta estável.  Uma análise detalhada nos pinos do distribuidor  após o reparo, encontramos respectivamente os sinais de: rotação (NE), fase (G1), acionamento do módulo de potência (IGT) e o sinal IGF.  Veículo foi liberado com a observação da pane no cabeçote. 

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