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Perto dos 400.000Km rodados, Zafira enfrenta o reparador de cabeça erguida


Encontramos na oficina independente uma Zafira “inteira” apesar da alta quilometragem. Com projeto relativamente simples e robustez elogiada, o carro da GM tem falhas recorrentes, conforme apontam os profissionais nesta matéria

Por: Da Redação - 15 de maio de 2013

O modelo que é bastante conhecido nas oficinas e está no mercado desde 2001, ofereceu para os consumidores um apelo familiar. Logo, caiu nas graças dos taxistas, principalmente por conta do seu espaço interno.

Apresentou-se inicialmente com o mesmo projeto de motor 2.0 8V dos antigos Monzas e possuía manutenção considerada simples pelos reparadores, além de possuir peças mais em conta se comparado a outros concorrentes da mesma categoria. Era comercializado somente com transmissão manual e a partir do modelo 2003 surgiram as primeiras versões com caixa automática.

Já em 2005, o motor 2.0 8V de 121cv recebeu alterações básicas para poder rodar tanto com gasolina, quanto com etanol. E em 2009 sua potência que era de 121cv, passou para 140cv. Sua história teve fim em 2012, quando foi substituída pela “Spin”.

Acompanhamos uma Zafira 2.0 8V 2002, na oficina Gigio´s Car, localizada no bairro do Ipiranga, que apresentou falha no sistema de trambulador. Os reparadores Gerson de Oliveira e Danilo José Tinelli comentaram sobre a manutenção desta Zafira e também falaram sobre a experiência que tiveram com outros carros do mesmo modelo.

ALTA QUILOMETRAGEM
Um fato muito curioso e que chamou a atenção da equipe do Jornal Oficina Brasil foi a quilometragem do carro: 398.544 Km. O veículo que faz parte de uma frota do governo é um carro que “sofre” com o chamado “de mão em mão” e por este motivo impressiona pela conservação dos componentes mecânicos. “São elogiáveis, já que um veículo que tem diversos condutores necessita de reparação mais frequente e criteriosa”, avaliou Gerson.

“Este veículo está na oficina para reparo no sistema de trambulador, pois os condutores reclamaram de dificuldades para a seleção das marchas 1ª, 2ª, 5ª e ré, além de revelar que o veículo não tinha força para sair em 1ª, apenas com a 3ª e 4ª marchas com engate normal, onde todos estes sintomas apontam para desgaste no conjunto”, comentou Gerson.

Foto 1“Ao desmontarmos a proteção plástica que envolve a alavanca de marchas, notamos que o cabo de seleção das marchas estava com o embuchamento de fixação gasto, tornando sua substituição necessária”, completou o reparador Gerson, que também acredita que esta falha foi causada por desgaste natural, considerando a alta rodagem do veículo. (Foto 1)

O reparador conta que o acesso aos cabos é relativamente simples, porém sua substituição requer maior intervenção, pois o espaço disponível para remoção é bem pequeno e de difícil acesso pelo túnel.

Questionado sobre as manutenções já realizadas no veículo, Gerson é enfático. “Conversando com o controlador de pátio onde o veículo é guardado, ele revelou que o carro efetuou ao longo dos anos apenas manutenções preventivas e em apenas duas oportunidades necessitou de descarbonização devido a borra, mas ocasionada por descuido do motorista. No mais, manutenções corretivas somente em freios, suspensão, pneus e coxins, ou seja, nada além da normalidade. Esse fato me deixou espantado com a robustez deste carro”.

DEFEITOS RECORRENTES

MOTOR

Foto 2“Essa marca é uma velha conhecida das oficinas em geral e não temos dificuldade em repará-los”, comentou Gerson. Para ele, o sistema de coxim do motor, principalmente o de reação (central) (Foto 2) costuma danificar-se com facilidade, independente se possui transmissão manual ou automática, apresentando danos com a mesma frequência em ambas as versões.

“Percebo que este modelo possui um defeito recorrente no sistema de arrefecimento, onde é comum ocorrer superaquecimento do motor. Mesmo após várias intervenções como troca de válvula termostática e limpeza do sistema de arrefecimento, o defeito não é solucionado, diminuindo apenas a frequência e a intensidade da ocorrência”, informou Danilo Tinelli.

Danilo também faz uma observação quanto ao óleo. “Deve-se ter uma atenção especial também com a especificação correta do óleo do motor, onde o correto é o SAE 10w40 API SJ e após 2008 5W30 SM, pois, se colocar um diferente, pode ocorrer ruídos anormais no motor como batidas de válvulas provenientes da demora dos tuchos carregarem, principalmente com o motor frio”, acrescentou.

INJEÇÃO ELETRÔNICA
“Outro defeito característico deste modelo é na sonda lambda que costuma travar em 445mv, o que ocasiona mau funcionamento do motor, como por exemplo ‘vazios’ na aceleração, marcha lenta irregular e emissão de CO acima do especificado para seu ano de fabricação”, comentou Gerson.

“Com sistema de injeção Bosch (Foto 3), outro defeito comum está no corpo de borboleta antigo, com sistema de engrenagens movida e motora de mesmo tamanho, que costumavam apresentar quebra de dentes de engrenagens, causando irregularidades na aceleração e na marcha-lenta. Já no novo sistema (Foto 4), com alteração do tipo de material e de tamanho das engrenagens movida e motora, este defeito não ocorre mais’, acrescenta Danilo.

Foto 3 e 4Falamos também com o reparador Anderson Balmant, que é técnico mecânico na oficina SICC. “Em particular, motores fabricados após o ano de 2008 costumam apresentar o acendimento da luz de injeção, que costuma piscar e o motor morre, não pegando mais. Isso ocorre devido a erro na interpretação do módulo com relação ao sinal recebido do sensor de temperatura. Para resolver o caso, é necessária a troca dos conectores e do próprio sensor, que oxida de dentro para fora. Em casos mais extremos é preciso substituir a central da injeção eletrônica”, afirma.

CÂMBIO
O especialista Marcel Nakandakari, da ABC Câmbios localizada em Santo André, informa que o câmbio da Zafira possui basicamente a mesma plataforma que equipava Monza e Corsa, tendo como principal defeito o desgaste no rolamento de esfera do pinhão, fazendo com que produza ruído por causa do desgaste da cimentação no dente do pinhão. Para solucionar a falha, somente trocando o conjunto coroa e pinhão.

FREIOS
Foto 5Danilo Tinelli comentou que a substituição do fluído de freios  não é uma prática comum entre os reparadores, porém é de extrema importância para manter a eficiência dos freios. “Este fluido é higroscópico (Foto 5), ou seja, retém umidade quando a temperatura sobe. Para reduzir o problema, recomendo aplicar o fluido DOT4 que possui ponto de ebulição maior que no DOT3. Outro ponto crítico da umidade no fluido é acelerar o desgaste nas guarnições e retentores, causando principalmente vazamentos no sistema”, alerta o reparador.

SUSPENÇÃO
“A dianteira (Foto 6) é do tipo McPherson e a traseira (Foto 7) é com barra de torção semi independente, e os reparos mais comuns estão nas bieletas, axial da caixa de direção já aos 30.000Km rodados. Já as buchas e amortecedores necessitam de substituição apenas após os 50000Km, e depois disso, com uma frequência de 50000km em 50000km’.

Foto 6 e 7AR CONDICIONADO
A Zafira tem um sistema de ar condicionado muito parecido com o do Astra, com quem compartilha algumas peças. Quem já teve uma Zafira, certamente já visitou alguma oficina de ar condicionado. 

Peças de ar condicionado da Zafira são comuns em oficinas especializadas, como: filtro secador, filtro antipólen válvula de serviço de alta, vedações de compressor, rolamento da polia de compressor, transdutor de pressão, compressor CVC Delphi, mas se a Zafira for abaixo de 2002, o compressor é mais difícil de encontrar (Denso 7SB16).

Vamos citar os problemas mais comuns, sendo que alguns deles ocorrem sem que o cliente perceba e outros problemas acabam afetando e danificando outros componentes (efeito dominó).

Até 2002 a Zafira utilizava o compressor Denso variável de sete cilindros e 160 cm³, um ótimo compressor, mas em caso de substituição, é mais difícil de encontrar um novo original (Fotos 8 e 9).

Foto 8 e 9Nestes modelos a mangueira de alta também era um grande problema por ser muito sinuosa e muito próxima do escapamento do motor (Fotos 10 e 11).

Foto 10 e 11Foto 12Após 2002 o sistema foi equipado com um compressor CVC Delphi(Foto 12), com 6 pistões e 135 cilindradas variáveis, utiliza cerca de 180ml de óleo PAG 46 e cerca de 700g de fluido refrigerante R134a. É muito comum a troca das vedações deste modelo de compressor “CVC” em oficinas especializadas.

Com qualquer um dos modelos de compressor Denso ou Delphi, se ao ligar o ar condicionado houver um forte ruído interno do compressor, deve-se considerar a troca do compressor, o filtro secador e a limpeza completa interna dos dutos, mangueiras, evaporador e condensador. Um serviço que não sai barato, podendo passar de dois mil reais.

Foto 13

O condensador (Foto 13) é assistido por dois eletroventiladores que trabalham no sistema série/ paralelo. Os eletros só entram em funcionamento na 1ª velocidade quando a pressão do fluido refrigerante na saída do filtro secador chega próxima dos 16 bar.

Após 2010 o condensador mudou e perdeu o eletroventilador frontal, ficando apenas eletro de trás do radiador. A carga de fluido refrigerante foi reduzida. O filtro secador passou para dentro do condensador, do tipo “cartucho”. O Vectra e o Astra 2010 partilham o mesmo condensador. Outros modelos da GM 2010 também sofreram reduções na quantidade de fluido refrigerante.

A 2ª velocidade da ventoinha é acionada quando a pressão do fluido refrigerante após o filtro secador passa dos 20 bar.

Esta pressão do fluido refrigerante é medida no transdutor de pressão que fica na saída do filtro secador.

Foto 14, 15 e 16Este filtro secador é pequeno (igual ao do Astra 98 e Vectra 2006) (Fotos 14, 15 e 16).

Foto 17

Quando este filtro secador satura, a pressão que chega ao transdutor é menor do que a do condensador. Ou seja, quando o transdutor realmente deveria pegar a sobrecarga de pressão, pela posição em que o transdutor está este não monitora isso. Isso resulta em desgaste prematuro e quebra do compressor, queima da bobina do compressor (Foto 17), vazamento no compressor, vazamento na mangueira de alta, vazamento na válvula de serviço de alta e muitos outros danos, além de afetar a eficiência do sistema.

Geralmente muitas oficinas sabendo deste problema, providenciam a troca deste filtro secador por volta dos 60 a 80 mil km ou antes

O teste para a verificação da obstrução do filtro secador é relativamente simples:

Foto 18

Deve-se observar a pressão na linha de alta com um manômetro e comparar com a pressão que o transdutor marca através de um scanner.  Se a pressão indicada no scanner for muito menor que a pressão do manômetro, há indícios de obstrução no filtro secador.

A válvula de serviço de alta (Foto 18) fica na entrada do condensador e costuma vazar fluido refrigerante, apenas conectando e desconectando o engate rápido de serviço de alta.

O engate de serviço de baixa fica na mangueira de baixa, na frente do coletor de escapamento do motor.

Após 2002 a Zafira mudou também as mangueiras, mas continuou alvo de vazamentos, causados pela vibração, atrito, trincas, temperatura do escapamento, etc.

Foto 19

O compressor geralmente é um grande suspeito a vazamentos de óleo e fluido refrigerante pelo “lip seal” (Foto 19). O fluido refrigerante quando vaza aos poucos, vai para a atmosfera, mas o óleo segue escorrendo em direção á vedação do rolamento da polia.

Quando se troca o jogo de vedações, se recomenda também trocar o rolamento da polia do compressor, que já teve sua graxa “lavada” pelo óleo do compressor. Esse procedimento “casado” diminui os riscos de problemas posteriores e aumenta o faturamento da oficina.

Foto 20 e 20AEventualmente o rolamento trava e roda em cima do alojamento, que é a carcaça do compressor, neste caso o recomendado é trocar o compressor, pois esta carcaça não é vendida separadamente. O calor gerado neste atrito pode queimar a bobina do compressor (Foto 20 e 20A).

Foto 21

O sistema de ventilação também pode apresentar problemas, um agravante é o fato do filtro de cabine estar depois do ventilador (Foto 21), o que permite a entrada de sujeira direto para o motor da ventilação, o que afeta sua durabilidade, além de manter a caixa de ventilação sempre suja.

Dependendo do uso, o filtro de particulas (antipólen ou microfiltro), pode ser substituído a cada 15mil km ou a cada 6 meses, o ideal é colocar um filtro de carvão ativado (como vem o original) que reduz muito os odores da ventilação, funcionando como uma espécie de “catalizador “de odores. 

Foto 22

O filtro antipólen saturado pode afetar a sensação térmica, diminuindo a vazão do ar nos difusores e reduzindo a eficiência do sistema.

A tampa do alojamento do filtro antipólen é presa por grampos.

O ventilador interno sujo (Foto 22) fica desbalanceado e vibra o painel nas velocidades maiores. 

Foto 23

O eixo da portinhola do sistema de recirculação pode se quebrar, o que pode gerar ruído atrás do porta luvas, uma espécie de estalo continuo. Este kit recirculação pode ser trocado, mas é difícil de ser encontrado, por isso muitas oficinas travam este sistema.

O módulo de variação de velocidades do ventilador interno digital (Foto 23) pode apresentar defeito também. Ele pode ser encontrado nas concessionárias. 

O gotejamento interno de água de condensação, só quando liga o ar condicionado também pode ocorrer, e uma das soluções é adaptar uma mangueira junto à saída do dreno da caixa evaporadora (problema que ocorre no Astra também) (Fotos 24, 25 e 26).

Foto 24, 25 e 26Foto 27Alguns modelos com o painel digital também podem apresentar problemas no acionamento do ar quente, onde a engrenagem do atuador elétrico da válvula de ar quente (Foto 27) quebra e mantém a válvula fechada, desta forma não sai ar quente nos difusores, mesmo aumentando a temperatura no display (Foto 28).
Foto 28


O funcionamento desta válvula de ar quente pode ser eliminado, deixando-a instalada, mas com sua portinhola aberta com passagem do fluxo de água para o radiador de ar quente e o motor elétrico que a aciona não será mais conectado. O controle de temperatura será feito apenas pelo damper de ar quente, como o da Zafira e Astra 2006 em diante.

A Zafira possui difusores instalados na parte traseira do console central, porém eles têm pouca vazão de ar e é comum encontrar seus difusores quebrados, os passageiros traseiros podem facilmente bater os pés nesses difusores.

Foto 29

O evaporador (Foto 29) pode apresentar vazamentos e para substituí-lo não é necessário remover o painel. 

Os comentários e dicas descritos aqui visam mostrar as características, os principais problemas e alguns procedimentos para manutenção vividos em situações de oficina. É possível que algum técnico tente fazer a restauração de algum componente, isso não é impossível, mas nem sempre é viável técnica e comercialmente. Trabalhar com manutenção de ar condicionado automotivo deve ser prazeroso e bastante lucrativo. Por isso fica a dica para alguns colegas do setor, repense a forma de montar e passar o orçamento para os clientes valorize o seu conhecimento, a sua estrutura, seu estoque, seu nome, seus impostos, etc. Não queime o mercado, pense no mantenimento e na sustentabilidade de sua empresa, além de um ótimo técnico você tem que ser um ótimo administrador de sua empresa. Se o seu concorrente está trabalhando por trocados, não se iguale a ele. Veja se não está na hora de mostrar ao mercado o seu diferencial ou até mudar de clientes.

Conversamos também com o reparador Jânio Cleinton da Frio Art, localizada em Santo André e ele compartilhou suas experiências com as manutenções do modelo. “As mangueiras do sistema de arrefecimento ficam posicionadas muito próximas ao coletor de admissão e, com isso, a troca de calor é maior entre os componentes, tornando o índice de manutenções neste caso, mais frequentes”, conta.

Jânio afirma que o sistema é muito bom e de reparação simples, principalmente por não precisar remover o painel para intervenções no evaporador. “As manutenções que tenho feito, na grande maioria, são após os 80000km do veículo, sendo que o mais comum é a troca da embreagem do compressor, das bobinas magnéticas, além de alguns reparos devido a ruídos externos, substituição do gás R143a e dos filtros”, finaliza.

PEÇAS E INFORMAÇÕES 
“Por ser um monobloco semelhante aos utilizados pela marca desde os anos 90, o reparador não encontra muita dificuldade em encontrar peças, são fáceis de achar. Quanto a informações técnicas, não encontro dificuldades, pois como já recebo esse carro faz anos, tenho experiência na oficina”, comentou Danilo.

Gerson contou sobre sua preferência de compra. “Costumo comprar 70% das peças no mercado de originais e os outros 30% no mercado paralelo. Procuro preservar a originalidade e a qualidade nos meus serviços usando peças originais”.

“Os distribuidores representam 80% da minha demanda de peças e as concessionárias, 20%. Não costumo encontrar dificuldades para comprar peças para este modelo e também escolho pelo desconto que posso conseguir na compra”, relatou o reparador Jefferson da Retífica Removel.

Já o reparador Marcel, demostrou encarar outro cenário. “É muito difícil encontrar peças de câmbio mesmo em concessionárias. Em autopeças costumo comprar apenas juntas e rolamentos, mas quando se trata de engrenagens tenho que me ‘virar’ para encontrar itens e terminar o serviço com rapidez. Informações técnicas também são muito difíceis na minha área. As poucas que tenho, obtenho das fabricantes de autopeças”.

“Compro tudo em uma distribuidora especializada do segmento de ar condicionado e não encontro dificuldades em achar peças”, comentou o especialista Jânio Cleiton.