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Ford Ecosport Storm 2.0 AT 4WD mistura terra com asfalto para ser 4x4 com jeitão de caipira da cidade


Versão aventureira do pioneiro entre os SUV compactos inova ao trazer câmbio automático acoplado à tração integral. Mas reparadores advertem: veículo é bom para uso urbano e, no máximo, uma estradinha de terra sem emoção

Por: Antônio Edson - 16 de abril de 2019

Pau pra toda obra. Poucas expressões espelham tão fielmente a disposição dos veículos 4x4 que, no passado, não faziam cara feia na hora de enfrentar pirambeiras, taludes e picadas que só com boa vontade podiam ser chamados de estradas. Em um País cuja industrialização é recente e as lembranças da vida rural marcam ainda as memórias urbanas há muito o que se contar sobre como esses jipes, jardineiras, caminhões, paus-de-arara e caminhotes ajudaram os brasileiros a conhecer o Brasil. O papel explorador desses veículos é tão forte que alguns chegaram a receber nomes de desbravadores como Bandeirante e Candango. A própria capital do País deve sua construção a eles, cujos sobreviventes ainda rodam por um Brasil profundo e desconhecido. Nos rincões, os 4x4 até ganham aplicações improváveis com pequenos produtores rurais utilizando a tomada de força de seus diferenciais em máquinas de moer capim, palha e bater arroz.  

Mas a urbanização exige outras demandas. Se em 1950, 64% dos brasileiros viviam no campo, em 2010, 84% estavam nas cidades. Os 4x4 antes imprescindíveis para integrar o País hoje também servem para deslocamentos confortáveis em trajetos curtos rumo ao sítio, uma praia isolada ou uma trilha cheia de adrenalina – não que ruas e estradas ruins tenham sumido do Brasil, ao contrário. Luxuosos e acessíveis a uma casta endinheirada, os 4x4, hoje, são objetos mais de desejo e menos de necessidade. Alguns até são considerados lights ou destinados ao uso urbano, indispostos a sujar os pneus no barro. Como o Ford Ecosport Storm 2.0 AT 4WD lançado em 2018. Primeira no mundo a produzir, em 2003, um SUV compacto com o mesmo Ecosport, a montadora do oval azul inovou de novo com uma versão do modelo que traz câmbio automático acoplado à tração integral por um preço “módico” – R$ 104.650,00 – em relação à concorrência. Em resumo, o Ecosport Storm é o único crossover compacto flex e 4x4 à venda no País. 

Quis a sorte que, entre fevereiro e março, período mais chuvoso da cidade de São Paulo, a reportagem do Oficina Brasil Mala Direta fosse contemplada pela Ford com um modelo, para teste, do Ecosport Storm. O SUV, modelo 2019 com 9.935 km rodados, foi recebido sob chuva e devolvido sob garoa, fazendo, merecidamente, jus ao nome – Storm é tempestade em inglês. Sob essas águas, fechando o verão, e sobre pistas escorregadias e nem sempre conservadas, o 4x4 urbano pode ser testado em condições ideais por três oficinas previamente pinçadas do Guia On Line de Oficinas Brasil: a Binho Car Service, da região do ABCD; a Tuca Auto Shop Peças e Serviços Automotivos, da Casa Verde; e a High Torque Car Service, da Mooca. Os responsáveis pela análise foram ... 

Fábio Alves Pereira. Aos 41 anos e com 26 de profissão, Fábio foi empreendedor precoce. Aos 17 anos, por gostar de mexer com a eletrônica automotiva, insistiu com os pais para ser emancipado e abrir a própria oficina. A Binho Car Service, segunda oficina de Fábio, está há 19 anos em São Bernardo do Campo (SP), na Avenida do Taboão, 2409, bairro do Taboão. Paralelamente ao trabalho, o reparador foi instrutor do Senai por 15 anos até abrir, ano passado, a própria escola de reparação, a Mec-Tec, no bairro do Carrão, zona leste de São Paulo (SP). “Após fazer cursos por mais de 10 anos resolvi passar à frente minha experiência”, justifica Fábio, que dispõe de oito colaboradores que o ajudam a dar conta de um movimento mensal de aproximadamente 150 ordens de serviço. “Atendemos todas as necessidades de um carro: suspensão, motor, alinhamento, geometria, parte elétrica e eletrônica, injeção e câmbio”, lista o reparador. 

 

Ismael Ramos Cardoso Jr. Fundada em 1974 por Ismael Ramos Cardoso, 80 anos, e, desde então, no mesmo ponto – Rua Reims, 476, no bairro da Casa Verde, em São Paulo (SP) –, a Tuca Auto Shop Peças e Serviços Automotivos hoje é comandada pelo reparador e advogado Ismael Ramos Cardoso Jr., 49 anos. “Conciliei as atividades, mas a oficina é o carro chefe, tanto que minha carteira de clientes como advogado é oriunda daqui. Respondo pela assessoria jurídica das frotas que fazemos manutenção”, confirma Ismael Jr. Com o apoio de quatro reparadores, uma auxiliar administrativa e do pai, Ismael Jr. atende cerca de 140 veículos/mês realizando trabalhos de mecânica leve, ciclo Otto, undercar, injeção eletrônica e câmbio mecânico.  

 

 

 

Fúbia Lima, Guilherme Guimarães, Guilherme de França e Lucas Orlando. Após trabalhar em multinacionais do setor automotivo, o engenheiro mecânico Guilherme Guimarães, 37 anos, optou por empreender. Em 2016, ao lado da esposa Fúbia, engenharia de controle e automação, ele abriu a High Torque Car Service na Rua Madre de Deus, 1284, Mooca, zona leste de São Paulo (SP). Em menos de três anos, o casal conseguiu estabelecer um padrão de atendimento diferenciado que começa por um visual clean da oficina, passa pelo acompanhamento online por parte do cliente e por um pós-venda. “Atendemos com transparência, valorizamos a manutenção preventiva e nosso sistema faz a parametrização do cliente, o lembrando de quando será a próxima revisão”, resume Fúbia. A High Torque conta com seis colaboradores, entre os quais Guilherme de França, 24 anos, reparador desde os 20 anos, e Lucas Orlando, 29 anos.  

 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES 

 

Logo à primeira vista, o Ecosport Storm 2.0 deixa claro que sua vocação aventureira é urbana. Apesar da grade diferenciada , inspirada na picape F-150 Raptor comercializada nos Estados Unidos, para-choques reestilizados e faixas negras que nascem no capô e percorrem a lateral, os reparadores, de cara, identificaram sua real disposição através das rodas de 17 polegadas. “O carro está calçado com pneus 205/50, iguais aos da versão Titanium. Um off-road raiz viria com pneus lameiros ou, no mínimo, de uso misto”, aponta Fábio Alves. De fato, pneus 205/50 não são próprios para um 4WD, sigla para Four Wheel Drive, recurso que permite ao veículo rodar com a tração dividida entre os dois eixos, ou nas quatro rodas, conforme a necessidade – quando a tração 4x4 é permanente é chamada de AWD ou All Wheel Drive. 

O interior do Ecosport Storm acompanha o padrão da Titanium, ganhou apliques no painel e revestimento soft além de costuras em cor laranja no volante e bancos de couro. “Já tivemos uma Ecosport e nos sentíamos apertados nos bancos da frente. O problema continua. Mas gostei do acabamento em tom escuro no teto e da ergonomia. Já a tela multimidia, flutuante, não parece segura para quem tem criança. Deveria ser embutida no painel. No geral, o interior é bonito”, opina Fúbia Lima. “Aprovo a praticidade da chave presencial, o conforto dos bancos e o cinto de três pontas para todos, mas o porta-malas de 356 litros é pequeno e a espessura da coluna A compromete a visibilidade”, completa Guilherme Guimarães.  

Proprietário de uma Ecosport 2015, Fábio Alves não viu grandes diferenças na versão Storm, mas também chamou atenção para a praticidade da chave presencial e o ponto cego gerado pela coluna A. “Gosto do Ecosport devido a sua altura e a boa posição de dirigir”, reconhece. “Essa nova versão segue o padrão das F250 e F150 norte-americanas. É bonita, mas já foi o tempo de carregar estepe atrás. A Ford deveria universalizar os pneus run flat utilizados na versão Titanium. Seriam 13 quilos a menos”, calcula Ismael Jr. 

AO VOLANTE 

Dirigir um crossover 4WD foge ao lugar comum. Mesmo com pneus 205/50 e longe da terra é possível acompanhar pelo computador de bordo a ação sob demanda da tração 4x4. Isso ocorre mesmo no asfalto quando o carro pega uma superfície escorregadia, proporcionando aderência. Aumentando a segurança, o Ecosport Storm conta com controles de tração e estabilidade. A sensação é completada com a percepção de rapidez e suavidade do acelerador, resultado da injeção direta e do torque de até 22,5 kgfm. “A estabilidade é excelente, a gente sente o carro na mão. As respostas são imediatas, com bom arranque. O variador aciona automaticamente a tração 4x4 e isso diminui o arrasto desnecessário e ajuda na economia de combustível”, descreve Ismael Jr., que conferiu nota 10 à dirigibilidade ao crossover. 

 

Testando o veículo por ruas de paralelepípedo da Mooca, Guilherme Guimarães também teve percepção favorável. “A suspensão tem comportamento macio e o carro é agradável de guiar. Sua suavidade condiz com a tradição Ford de produzir carros confortáveis. Mesmo em pistas de calçamento, ele mostrou baixo nível de ruído na cabine”, observa o reparador.  

Privilegiado por testar o crossover em ciclo rodoviário – trecho urbano da Via Anchieta –, Fábio Lima elogiou sua estabilidade, “responde bem nas curvas, indicando bom acerto na suspensão”, mas entendeu como lentas as retomadas de velocidade, “talvez em função da transmissão automática de seis velocidades”. Segundo ele, um câmbio automatizado de dupla embreagem, tipo DSG, daria comportamento mais ágil ao veículo.  

MOTOR 

O Ecosport Storm conta com o conhecido propulsor quatro cilindros Duratec 2.0 – 1.999 cm³ reais – Direct Flex que entrega 176 cavalos (e) a 6.500 rpm e gera torque máximo de 22,5 kgfm (e) a 4.500 rpm. Com injeção direta, o motor ficou 29 cavalos mais potente em relação ao Duratec de injeção multiponto e ganhou 15% em torque – o antigo motor chegava a 19,7 kgfm (e). Outra diferença é sua taxa de compressão, aumentada de 10,8:1 para 12:1. O propulsor tem duplo comando variável de válvula para admissão e escape e utiliza tuchos mecânicos que dispensam manutenção. Com essa configuração, o crossover chega aos 180 km/h e vai de 0 a 100 km/h em 10,7. Segundo sua ficha técnica, o motor rende até 11,4 km/l (g) em circuito rodoviário e 8,5 km/l (g) na cidade.  

Sob o capô do Ecosport Storm, os reparadores viram pouca diferença para o motor Duratec de injeção multiponto. “A novidade é a injeção direta, com a bomba de alta pressão que traz ganho de torque e economia de combustível. Se antes havia um solenoide que abria e fechava com um pulso para a passagem do combustível agora ele é injetado sob alta pressão direto na câmara de combustão”, resume Fábio Alves. “Basicamente é o motor Duratec com injeção direta”, concorda Ismael Jr. De acordo com Lucas Orlando, da High Torque, trata-se de uma tecnologia nova entre as oficinas independentes. “Ainda não pegamos nenhum motor com essa configuração, mas pelo que sabemos as primeiras gerações de propulsores com injeção direta que chegaram ao País apresentaram alguns problemas, como acúmulo de carbonização no coletor e no pistão”, recorda o reparador.  

Para Fábio Alves, o motor do Ecosport Storm apresenta uma arquitetura fácil de trabalhar, sem dificuldade de manutenção. “O coletor de admissão passa por baixo das bobinas e das velas e se encaixa no cabeçote. Atrás, o coletor de escape  não traz dificuldade de acesso à sonda lambda”, descreve o reparador, para quem o eletroventilador e o sistema de arrefecimento do crossover continuam com um acesso difícil. “As dimensões físicas do motor não mudaram”, admite Fábio, para quem algo ficou faltando sob o capô do Ecosport Storm. “Um turbocompressor. Com ele sua litragem poderia ser reduzida e mesmo assim a cavalaria e desempenho seriam iguais ou maiores. Sem falar que seria mais fácil de trabalhar, pois as dimensões seriam menores”, projeta.  

“A única diferença é mesmo a injeção direta, mas ela muda tudo”, entende Ismael Jr. “Mudam o torque, o consumo de combustível e seu desempenho”, garante o reparador, para quem as oficinas precisam se capacitar para trabalhar com motores com essa tecnologia. “Essa manutenção requer treinamento e equipamento específicos. Já para o proprietário do veículo o custo do reparo pode ser mais elevado, mas compensa pelos benefícios proporcionados pelo motor”, acredita o reparador, que só deixou de atribuir uma nota 10 ao motor pela dificuldade de chegar aos bicos injetores. “É o outro lado dessa tecnologia, pois a injeção multiponto não apresentava essa dificuldade. Para chegar até eles é preciso remover o coletor de admissão”, aponta. “Na injeção multiponto, a flauta é mais acessível. Já com a injeção direta é preciso mais cuidado pois, afinal, estamos mexendo com uma bomba cuja pressão excede os 100 bars. Um descuido e pode acontecer um acidente”, alerta Guilherme Guimarães. 

Quanto aos componentes periféricos do motor, os reparadores não viram problemas. “O coxim principal do motor, aparentemente hidráulico, promete não ser muito exigido em razão do câmbio automático ter comportamento linear e ser pouco sujeito a trancos. Quem mais fará ele sofrer será a buraqueira das pistas”, calcula Guilherme Guimarães.  “A central do ABS está acessível, assim como o módulo da injeção e o corpo de borboleta. Enfim, é um motor que merece nota 9 devido às suas excelentes acessibilidade e reparabilidade. Só não leva 10 porque a Ford tem a mania de colocar o filtro de cabine do Ecosport em um local difícil, embaixo dos pedais”, justifica Guilherme Guimarães.  

TRANSMISSÃO E TRAÇÃO 

A caixa automática de seis velocidades do Ford Ecosport Storm é a mesma 6F35 desenvolvida em parceria com a General Motors que equipa as demais versões automáticas do crossover. Essa transmissão pode ser comandada por borboletas posteriores ao volante com a possibilidade de uso alternado da função Drive. Segundo a Ford, a caixa traz um conversor de torque de alta eficiência, proporciona trocas gradativas e suaves além de excelente desempenho em baixas rotações. A novidade é a tração integral acoplada a ela, uma vez que a geração anterior do Ecosport dispunha apenas de uma versão 4x4 com uma transmissão manual de seis velocidades.  

Ao contrário do que ocorre em jipes e picapes pesados, o crossover não conta com uma caixa de redução de marchas para pisos soltos e as rampas mais inclinadas. A tração 4x4 é comandada eletronicamente e opera através do controle inteligente de torque, ou ITCC na sigla em inglês, que reúne sensores que analisam as condições de uso do Ecosport Storm, distribuindo o torque entre as rodas dianteiras e traseiras de acordo com a necessidade. Conforme as condições da pista as rodas traseiras podem, automaticamente, tracionar. Isso porque o eixo cardã ou a árvore de transmissão está continuamente em rotação e existe uma embreagem multidisco montada junto do eixo traseiro, que faz às vezes de diferencial. O acoplamento demora cerca de um décimo de segundo após os sensores do veículo detectaram a necessidade e a força nas rodas traseiras varia infinitamente de zero até 50%.  

Apesar do recurso, o manual do Ecosport Storm alerta que o veículo não deve ser usado fora de estradas, mas, no limite, em rotas não asfaltadas com inclinações ou obstáculos não muito exigentes. Para os reparadores é bom as orientações serem seguidas. “Pela estrutura leve do veículo sua proposta é urbana. O fato de contar com uma tração 4x4 apenas visa melhorar sua dirigibilidade em pisos de baixa aderência”, justifica Ismael Jr. “Ele tem um recurso inteligente, um 4x4 automático, que ajuda o condutor a dirigir em situações urbanas mais difíceis, para livrá-lo de algumas dificuldades”, explica Fábio Alves. “É um 4x4 leve”, resume Guilherme Guimarães.  

Os reparadores entenderam a proposta do Ecosport Storm, mas estranharam a precoce e exagerada oxidação (foto 28) do seu eixo cardã – lembrando: o veículo somava poucos meses de uso e menos de 10 mil km rodados. “O carro é produzido em Camaçari, litoral baiano, e talvez a ferrugem resulte da maresia local, caso ele tenha permanecido muito por lá”, supôs Guilherme de França. “Se essa oxidação vier da maresia acho bom a Ford dar melhor tratamento às peças. Afinal o Brasil tem mais de sete mil quilômetros de litoral”, recorda Fábio Alves. “Peças do eixo traseiro oxidaram, enquanto outras, não. Deve ter faltado um tratamento adequado a certos componentes, como um revestimento zincado ou de epóxi”, justifica Ismael Jr.  

FREIO, SUSPENSÃO E DIREÇÃO 

Com eixo cardã e diferencial, o Ecosport Storm pesa 110 kg a mais do que a versão Titanium 2.0, ou 1.469 kg no total, o que levou a montadora a fazer mudanças em seu undercar. O Storm ficou oito mm mais alto do que as demais versões do Ecosport – o vão do solo chega a 200 mm – e ganhou uma suspensão traseira independente do tipo multilink além de novas molas, amortecedores e buchas. Da mesma forma, sua caixa de direção com assistência elétrica na coluna passou por um reajuste. À frente, o crossover dispõe de uma suspensão independente do tipo MacPherson e freios a discos ventilados nas rodas que receberam um acréscimo de 17 mm no curso da suspensão, além de uma recalibragem nas molas. Nas rodas traseiras os freios permanecem a tambor. Como resultado das alterações, a Ford informa que a melhoria na absorção de impactos foi de 15% e o nível de vibração do volante foi reduzido em 40% em relação às demais versões do modelo.

 

Sob o elevador, os reparadores apontaram detalhes do undercar do Ecosport Storm. “Ele não tem protetor de cárter e pontos de fixação para adaptar algum, o que reforça a recomendação para não o colocar em pisos agrestes. Outra razão para não fazê-lo é a posição vulnerável do compressor do ar-condicionado, cuja conexão, para piorar, fica na parte baixa da peça”, confirma Fábio Alves, que gostou da posição da corpo de válvula da transmissão, que dispensa desmontar a caixa inteira no caso de algum reparo. “O acesso ao filtro de óleo está tranquilo e o agregado  da suspensão não traz novidades, é parecido com o das versões anteriores do Ecosport. As bandejas trazem os pivôs prensados e a manga de eixo não aparenta dificuldades. Enfim é um carro fácil de fazer a geometria”, julga Fábio.  

“Os braços da suspensão traseira sugerem fragilidade em razão de suas finas espessuras, mas certamente estão dimensionados para a proposta do veículo”, acredita Guilherme Guimarães, que, a exemplo dos colegas, não gostou da exposição das linhas de combustível e de fluido de freio. “Deveriam estar protegidas, mesmo para um veículo com 20 cm de vão do solo”, recomenda o reparador. “O filtro de combustível, acima da mangueira do gargalo, ficou escondido e dará trabalho no caso de uma substituição”, aponta. 

Entre outras observações, Ismael Jr. destacou o acesso tranquilo ao coxim inferior do câmbio e a caixa da direção bem protegida, acima do agregado, “como deve ser”. O reparador não interpretou como frágeis os braços da suspensão traseira. “Hoje temos têmperas que permitem forjar peças mais enxutas e resistentes. A Ford não seria irresponsável para colocar peças deficientes em um sistema tão fundamental”, acredita. Mas ele não gostou do sistema de frenagem das rodas traseiras. “Tratando-se de um SUV 4x4, preocupado com a dirigibilidade e a segurança, discos traseiros seriam melhores do que esses arcaicos tambores”, sustenta.   

ELÉTRICA, ELETRÔNICA E CONECTIVIDADE 

A lista de itens de série do crossover justifica seu posicionamento no topo de linha da gama Ecosport. Constam no pacote do veículo controles de tração e estabilidade, sistema anticapotagem, controle de velocidade de cruzeiro, ar-condicionado digital, teto solar com acionamento elétrico, central multimídia Sync 3 com tela tátil de oito polegadas, GPS integrado e conectividade com Android Auto e Apple CarPlay, sistema de som premium projetado pela Sony com nove alto-falantes, sete airbags, faróis de xenônio com luzes diurnas de LED, sensores crepuscular e de chuva, sensor de monitoramento da pressão dos pneus e assistente de partida em rampa. 

De acordo com os reparadores, o suporte a todo esse aparato eletroeletrônico está garantido. “O carro dispõe de um alternador aparentemente pilotado e com voltagem variável, o que otimiza o consumo e o desempenho de energia. Ele só recarrega aquilo que a bateria precisa e monitora a sua carga o tempo todo”, afirma Ismael Jr. “A bateria conta com um gerenciador eletrônico no seu polo negativo para saber o quanto o alternador estará mandando de carga para ela. Ele é necessário porque cada vez mais os veículos têm elementos eletrônicos e sistemas independentes que necessitam de uma alimentação individual”, completa Guilherme Guimarães.   

INFORMAÇÕES TÉCNICAS 

A página do reparador Ford da internet – https://www.reparadorford.com.br – é acessada pelos reparadores ouvidos nesta matéria, que externaram pontos de vista semelhantes a respeito dela. De modo geral, a iniciativa é classificada como positiva e a ser seguida pelas montadoras que ainda não têm uma política de aproximação formal com o reparador independente, mas poderia ser “menos tímida” na opinião, por exemplo, de Ismael Jr., que elege o intercâmbio entre colegas como primeira alternativa de fonte de informações técnicas. “Um grupo de reparadores disposto a trocar dicas é mais confiável. Além de sempre podermos contar uns com os outros ganhamos força para nos aproximarmos de fabricantes e distribuidores de autopeças e fazer parcerias que resultam em cursos e treinamentos”, aponta. Outra alternativa do reparador são os fóruns especializados da Internet. “O da Oficina Brasil mesmo é ferramenta imprescindível no dia a dia”, classifica Ismael, que fecha seu ciclo de fontes com as enciclopédias automotivas digitais.  

Idênticas receitas são seguidas na High Torque, de Guilherme Guimarães, e na Binho Car Service, de Fábio Alves, que, no entanto, lança um alerta aos colegas. “A análise de uma informação técnica exige cuidado, pois uma solução que deu certo em um contexto pode dar errado em outro, mesmo em carros do mesmo modelo e ano. Em certo sentido, um veículo é semelhante a um ser humano: um remédio que curou uma doença do seu vizinho pode não resolver o seu problema de saúde, por mais parecido que seja, e ainda complicá-lo.  É preciso analisar cada situação de modo isolado”, explica. “O importante é contar com o maior número possível de fontes”, conclui.  

PEÇAS DE REPOSIÇÃO 

Possivelmente como resultado indireto da criação da Omnicraft, uma divisão segmentada da Ford que fornece peças de reposição aos veículos das concorrentes, a montadora do oval azul parece ter revertido uma incômoda fama de fornecer peças originais Ford – no caso, as produzidas pela Motorcraft – com preços além da conta. “Motorcraft e Ominicraft estão se aproximando das oficinas independentes e isso facilita a aquisição de componentes por um preço justo”, testemunha Guilherme Guimarães, que admite comprar 50% das peças – índice elevado para oficinas independentes – em concessionárias. “Tratando-se de revisões preventivas básicas, o que sobra para os distribuidores é o sistema de freio, com pastilhas e discos”, admite.     

Fábio Alves prefere buscar peças Ford em distribuidores especializados na marca, até porque em São Bernardo do Campo, um dos berços da Ford no Brasil, não há concessionárias da montadora. “A que tinha aqui fechou”, informa o reparador, para quem o comércio especializado em peças Ford oferece qualidade, sem falar de preços mais em conta e maior oferta do que as próprias concessionárias. “Como até onde eu sei é uma mesma fábrica que fornece peças genuínas para todo mundo gostaria de entender melhor a política de logística da Ford e o motivo dessa diferença”, manifesta Fábio.   

Seja qual for o fornecedor, o importante, para Ismael Jr., é que há oferta e as peças não faltam. “Recentemente precisei do bico injetor de um Fusion e o encontrei sem dificuldade. De modo geral, o custo das peças nas concessionárias não é baixo, mas está alinhado com o mercado e não tão alto como antes”, reconhece o reparador, que segue um método baseado em uma escala ascendente de preços quando vai à cata de peças da marca. “Primeiro, os distribuidores independentes, depois os distribuidores especializados em peças Ford e, por último, concessionárias. Faço uma cotação da mesma peça nessas três fontes porque já tivemos algumas surpresas, como encontrar preço menor na concessionária”, garante o reparador. Em sua oficina, em média, 50% das peças são fornecidas pelos distribuidores independentes e os outros 50% se dividem entre concessionárias e distribuidores especializados na marca.  

RECOMENDAÇÃO 

Mesmo o Ford Ecosport Storm 2.0 AT 4WD não sendo um 4x4 na acepção tradicional do termo, mas de uso urbano e, portanto, limitado, os reparadores construíram um conceito favorável do veículo. Confira... 

“O carro está aprovado. Recomendaria a meus clientes. É robusto, tem boa manutenção e fácil reparabilidade. Mas o seu uso deve se limitar ao tráfego urbano e, quando muito, uma estrada de terra, sem aventuras radicais”. - Guilherme Guimarães 

“Recomendo. Sua montagem nada deixa a desejar e por seu preço não se encontra outro veículo dessa categoria no Brasil. Ele tem manutenção e reparabilidade fáceis, além de boa dirigibilidade no trânsito urbano. Só deixo claro que não é para uso off-road.” - Fábio Alves   

“O carro não demonstra problemas crônicos. Ao contrário, tem boa reparabilidade, facilidade de manutenção e de peças. Recomendo sua compra, desde que seja usado predominantemente no circuito urbano”. - Ismael Jr.