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Técnicas apuradas na reforma de uma transmissão automática não garantem um resultado duradouro


Os controles computadorizados atuais podem arruinar a reforma de uma caixa automática, a menos que você dê ao sistema a chance de reiniciar, reconhecendo os novos componentes e se ajustando às novas referências

Por: Carlos Napoletano Neto - suporte@apttabrasil.com - 17 de novembro de 2016

Há algum tempo atrás, se você desejasse realizar um trabalho de reforma excelente nas caixas automáticas, deveria ir um pouco mais além em seu trabalho: substituir as buchas, ajustar as folgas, talvez instalar kits de melhoria em alguns componentes. Talvez até atualizasse a transmissão com os reparos mais recentes, de uma das empresas especializadas em encontrar e corrigir pequenos problemas e falhas de projeto que poderiam gerar danos à transmissão.

Isto é um bocado de trabalho, mas faz a diferença. Com um pequeno esforço extra, poderíamos montar uma transmissão que duraria muito mais anos de serviço, e efetuar trocas de marcha ”melhores que quando nova”.

Porém, hoje, estes trabalhos extras não são o bastante. Mesmo com trabalho extra para que a transmissão seja remanufaturada com qualidade, não somos os árbitros finais de como a transmissão irá se comportar.

Porque hoje as transmissões são controladas por computador. E o computador decide como e quando a transmissão irá realizar as mudanças de marcha.

Isto não é necessariamente uma coisa ruim. Quando eles funcionam direito, estes controles por computador realizam um trabalho realmente excelente. Mas adicionam um passo importante ao conjunto: adaptações de mudança.

ADAPTAÇÕES DE MUDANÇA

O computador monitora constantemente o comportamento da transmissão e ajusta (ou adapta) a mesma às condições de operação. Coisas como desgaste das embreagens e freios, temperatura, e mesmo o comportamento do motorista afetam as adaptações de mudança.

Novamente, uma boa coisa, pois devido a este controle as transmissões modernas operam tão bem. Mas, agora temos mais uma preocupação: precisamos resetar estes parâmetros adaptativos após cada reparo de transmissão. Eis o porquê:

à medida que a transmissão se desgasta, o computador fica ocupado adaptando-se a este desgaste. Ele monitora quanto tempo leva para uma embreagem ou freio aplicar, e altera o funcionamento hidráulico para ajustar o tempo e sensibilidade das mudanças.

Agora, quando reformamos uma transmissão ... ou talvez somente executamos um reparo, tudo está novo e de acordo com os padrões da montadora, enquanto o computador ainda está ajustando as mudanças baseado naquele desgaste ... desgaste que não existe mais.

Os resultados podem ser catastróficos.

Em alguns casos percebem-se somente algumas mudanças de marcha mais estranhas até que o sistema se adapte novamente às novas condições. Mas em outros casos, a aplicação das embreagens e freios pode se sobrepor uma à outra, causando um dano real aos seus componentes ou mesmo falha total da transmissão.

A solução? Reiniciar os parâmetros adaptativos de mudança da transmissão.

Quando resetamos os parâmetros adaptativos, estamos na verdade realizando duas coisas: primeiro, estamos pondo o sistema de volta aos seus ajustes iniciais, de maneira que o sistema possa trabalhar sem danificar nada. Segundo, o computador sabe que os parâmetros foram resetados, de maneira que acelera o processo de aprendizado para ter o sistema o mais rápido possível em operação correta.

RESETANDO O SISTEMA

Como podemos resetar o sistema? Na maioria dos carros é muito fácil. Tudo o que precisamos é de um bom escanner com o último programa para o veículo em que estamos trabalhando.

Enquanto existem algumas pequenas diferenças de um sistema para outro, o procedimento geral é simplesmente selecionar o RESET DE PARÂMETROS do menu do escanner. Isto deve limpar as memórias de adaptação na maioria dos veículos. Estamos então prontos para executar o procedimento de aprendizado.

PROCEDIMENTO DE APRENDIZADO INICIAL

Uma vez que tenhamos resetado os parâmetros a zero, precisamos dirigir o veículo e assim ajudar o computador a iniciar seu processo de reaprendizado.

Em muitos casos podemos analisar o funcionamento da transmissão com três passos simples:

1. Faça com que o motor e a transmissão atinjam a temperatura normal de funcionamento.

2. Execute 5 ou 6 acelerações leves – cerca de 15%. Certifique-se que a transmissão mude todas as marchas, desde a 1ª marcha até a última marcha, incluindo a aplicação da embreagem do conversor de torque (LockUp).

3. Execute 5 ou 6 acelerações com aceleração média – cerca de 30% a 40% de abertura da borboleta. Uma vez mais, certifique-se que a transmissão mude todas as marchas desde a 1ª até a última, incluindo a aplicação da embreagem do conversor de torque (LockUp).

Agora a transmissão deverá mudar as marchas de maneira suave e o veículo está pronto para ser entregue ao dono. Certifique-se de verificar uma vez mais a memória de avarias, e não esqueça de informar ao cliente que a transmissão continuará a se adaptar à sua maneira de dirigir nas próximas semanas.

TÉCNICAS NISSAN

Isto é o que se precisa fazer com a maioria das transmissões. Mas existem exceções, tais como as transmissões dos veículos NISSAN e VW/AUDI. De acordo com a NISSAN, será necessário o escanner CONULT original para resetar os parâmetros de adaptação da transmissão. Porém já consegui resetar os parâmetros de muitas transmissões NISSAN utilizando um escanner fornecido no mercado comum.

O procedimento para os veículos NISSAN depende do tipo de transmissão em que você estiver trabalhando. Para a transmissão NISSAN de 5 marchas, o procedimento é fácil:

1. Chave ligada, motor desligado.

2. Alavanca em PARK.

3. Conecte o escanner usual.

4. Selecione o escanner no sistema A/T (transmissão automática)

5. Selecione o suporte de trabalho.

6. Selecione “inicialização”.

É tudo o que se necessita. Após este procedimento, ande com o veículo para executar o procedimento de reaprendizado dos parâmetros.

Se estivermos trabalhando em uma transmissão CVT da NISSAN, o procedimento é um pouco mais complicado:

1. Chave ligada, motor desligado.

2. Aplique o freio de estacionamento (Isto é importante, pois será necessário movimentar a alavanca seletora em várias posições mais tarde durante o procedimento).

3. Conecte a ferramenta escanner.

4. Selecione o sistema “transmissão”.

5. Selecione e imprima a “Calibração de Dados” para posterior comparação.

6. Apague a memória EEPROM.

• Aplique o freio com seu pé esquerdo e mantenha o pedal de freio acionado.

• Mude a alavanca da transmissão para Ré.

• Aplique o acelerador na metade de seu curso. Precisamos que o acelerador saia tanto da posição de acelerador fechado quanto da posição de acelerador totalmente aberto.

• Selecione “APAGAR” (“ERASE”) na ferramenta scanner.

7. Movimente a alavanca seletora de volta para a posição PARK.

8. Libere o pedal de freio.

9. Desligue a chave de ignição.

10. Aguarde 5 segundos.

11. Acione novamente a chave de ignição, mas com o motor desligado.

12. Selecione e imprima os dados de calibração novamente.

Compare os dados de calibração inicial com a segunda leitura. A nova impressão deverá ser diferente da primeira, indicando que a memória adaptativa foi reinicializada.

Ande novamente com o veículo para iniciar o processo de aprendizado.

TÉCNICAS VW/AUDI

O procedimento VW/AUDI para reinicializar os parâmetros de adaptação envolvem também a utilização do escanner VAS original com seu programa original. Sem problemas, se tivermos um à mão. Mas se não, eles não são baratos.

Felizmente, existem alguns atalhos para isto. Um dos mais fáceis é quando se trabalha em um Volkswagen ou Audi equipado com câmbio ZF. Para eles, apenas desconecte o conector elétrico da transmissão e dirija o veículo por algumas quadras. Desligue então o motor e reconecte o conector elétrico da transmissão.

Isto é tudo o que se precisa nestes casos. Os parâmetros autoadaptativos da transmissão são reinicializados do zero. Dirija novamente o veículo para que o computador aprenda rapidamente os novos parâmetros de dirigibilidade.

Para reinicializar os veículos AUDI e VOLKSWAGEN mais recentes, equipados com transmissão 09G de 6 velocidades, será necessário executar o que a Volkswagen chama de ajuste de KickDown. Eis como executá-lo:

1. Chave ligada, motor desligado.

2. Conecte seu escanner normalmente e escolha o veículo em que você está trabalhando, pelo menu.

3. Certifique-se que não existam códigos armazenados nas memórias dos módulos TCM e ECM. Limpe os códigos caso seja necessário. Este reset não funcionará se houver algum código de falha de motor ou de transmissão na memória dos módulos.

4. O alinhamento do corpo da borboleta de aceleração deve ter sido bem sucedido. A menos que você tenha trabalhado no corpo de borboleta, o ajuste deverá estar OK.

5. Não toque no acelerador durante este procedimento.

6. Siga estes passos em seu scanner:

[Selecione]

[02 – Transmissão Automática]

[Ajustes básicos – 04]

Selecione o grupo para 001

[Go!]

Não toque no pedal do acelerador

Será possível ler: SYSTEM IN GRUNDEINSTELLUNG no display.

[Feito, Volte]

Isto é tudo; a adaptação do sistema estará completa. Execute o reaprendizado da transmissão dirigindo o veículo por alguns quilômetros para iniciar o processo, e então o veículo estará pronto para ser devolvido ao cliente.

Tanto hoje quanto no passado, ainda é importante andar alguns passos a mais quando se repara uma transmissão. Mas tenha certeza que ainda não cruzamos a linha de chegada até reinicializarmos os parâmetros adaptativos e executarmos o procedimento de reaprendizado inicial nas transmissões eletrônicas modernas.

Até a próxima!