Notícias
Vídeos

Parte 1 – Sistema de carga da bateria: problema elétrico, a culpa é sempre da bateria?


Saiba como identificar a causa e avaliar as condições do sistema que é responsável em carregar e manter carregada a bateria e verificar possíveis fugas de corrente

Por: Paulo José de Sousa - 13 de junho de 2009

Muitos mecânicos substituem a bateria da motocicleta sem haver a real necessidade disso. Responsabilizar a bateria por qualquer pane no sistema elétrico não é o melhor caminho e não resolve o problema. A culpa nem sempre é dela.

A bateria é uma das principais peças que compõem o circuito elétrico da motocicleta, repleto de fios e componentes que exigem um determinado critério em qualquer análise. O diagnóstico inadequado ou até a falta de diagnóstico pode significar ter que fazer o serviço novamente, o que certamente irá aborrecer o cliente. Consequentemente, a oficina irá arcar com os prejuízos. Para complicar ainda mais a situação, o técnico responsável pelo serviço estrá demonstrando para a sua clientela que não detém as competências necessárias que possibilitem efetuar reparos no sistema elétrico da motocicleta.

A solução para esse problema é conhecer o sistema elétrico da motocicleta e entender como funciona cada componente e quais os diagnósticos recomendados.
 
A bateria deverá apresentar voltagem mínima de 12,8 volts (motor e consumidores desligados)
 
EQUILÍBRIO ELÉTRICO
O fabricante da motocicleta desenvolveu um alternador adequado, capaz de abastecer a bateria que supre os demais componentes consumidores elétricos originais. Para o caso de instalação posterior de um acessório adicional que geraria um consumo extra, como por exemplo alarme, rastreador, lâmpada do farol mais potente, lâmpada auxiliar, buzina etc., o alternador original pode não conseguir gerar energia suficiente capaz de completar a carga da bateria, a qual, por sua vez, não tem capacidade de suprir a demanda excessiva ocasionada pelos acessórios instalados.

A bateria deverá apresentar voltagem mínima de 12,8 volts (motor e consumidores desligados)
O resultado será certamente uma bateria com carga incompleta que trará complicações no momento em que for mais solicitada, apresentando dificuldades na partida, comprometendo assim a sua vida útil.

Normalmente, a instalação de uma bateria maior e de um alternador mais potente exigiria alterações na estrutura da motocicleta, além de estarem limitados ao espaço físico que ocupam, portanto as alterações não são recomendáveis.

Para manter o equilíbrio elétrico é necessário manter todos os componentes originais, ou similares que apresentem o mesmo consumo.
 
FALHAS
A correta instalação da bateria é importante para que o sistema de carga supra a demanda exercida sobre a mesma.

Certifique-se que o fusível está bom e os cabos da bateria (positivo e negativo) estão  encaixados nos respectivos terminais e seus parafusos corretamente apertados e livres de ferrugem e demais oxidações, que provocam queda de tensão durante o processo de carregamento e funcionamento da motocicleta.

Avalie a resistência da bobina de carga, regulador retificador de voltagem e demais conexões do sistema de carga.
 
BATERIA FRACA
De acordo com a fabricante de baterias Yuasa, para uma bateria com 75% de sua carga, o sistema de carga da motocicleta é capaz de carregá-la até completá-la. Porém, a utilização do veículo ou a pouca utilização proporcionam um suprimento de carga inferior ao consumo geral da motocicleta, proporcionando assim a curto tempo uma carga insuficiente para a bateria. Nesse caso não há defeito na bateria e nem no sistema de carga da moto; a solução é rever a maneira de utilização da motocicleta, tal atitude é comum na época do inverno.

Procedimento Yamaha/ Verificação de fuga de corrente  (padrão Honda)Outra atitude que implica no carregamento da bateria é quando o usuário utiliza seu veículo e não percebe que seu pé direito está repousando sobre o pedal de freio traseiro acionando assim a luz de freio, que proporciona um consumo elevado da carga da bateria, pois o sistema utiliza uma ou mais lâmpadas na faixa entre 21 a 23 Watts. É importante estar atento aos usuários que permanecem com a mão direita sobre o manete do freio dianteiro.

Outro ponto importante que também gera consumo excessivo da carga da bateria é a dificuldade na partida, que geralmente força o condutor a solicitar a partida elétrica por inúmeras vezes, nesse caso o problema pode ser de ordem mecânica e a causa está relacionada a regulagens.

E por último existe um tipo de usuário que deixa o farol da motocicleta ligado com o motor desligado, provocando assim descarga da bateria.
 
HIBERNAÇÃO
Quando a motocicleta é pouco utilizada ou usada apenas nas épocas mais quentes do ano (sazonalmente), carregue a bateria e armazene-a em um local ventilado longe do alcance de crianças e animais.

Se for necessário que a bateria permaneça na motocicleta, desconecte o terminal negativo. Verifique a tensão da bateria mensalmente e, se estiver abaixo de 12,8 V, recarregue-a.

A carga poupará a bateria de um processo destrutivo que ocorre quando está descarregada. Esse processo é conhecido como sulfatação e, dependendo da condição, poderá ser irreversível.
 
DESCARGA
Toda bateria tem uma tendência natural a descarregar, esteja ela em uso ou não, mesmo que não haja nenhum componente ligado. E nem sempre é por isso que a mesma tem de ser substituída, normalmente é só questão de repor a carga.

Ao longo do tempo, toda a energia armazenada na bateria tende a desaparecer e o processo é proporcional à tecnologia aplicada na bateria e também da idade da mesma.

As variáveis temperatura e umidade ambiente também colaboram. Quanto maior a temperatura e a umidade, mais carga é perdida. Denominamos este processo de autodescarga.

As motocicletas mais sofisticadas são providas de alguns acessórios originais de fábrica que consomem energia mesmo com o interruptor principal desligado, como os computadores de bordo, painel equipado com relógio, leds que piscam todo o tempo e até outros dispositivos de segurança que estão entre os itens que mais consomem.
 
SOBRECARGA
Não adianta trocar a bateria sem saber a real causa da pane na peça. Sobrecarga quer dizer carga excessiva, ou seja, um aumento da corrente de carga é o que causa o efeito da sobrecarga e provoca a alta temperatura, proporcionado pelo processo de carregamento da bateria da motocicleta.

O regulador/retificador de voltagem defeituoso pode ser a peça responsável pela carga excessiva na bateria. Para as baterias convencionais vale lembrar que o consumo excessivo do eletrólito da bateria pode ser um indicador da sobrecarga.
 
FUGA DE CORRENTE
O processo pelo qual a corrente (A) da bateria descarrega é causado geralmente por um curto-circuito em algum componente.
A fuga é detectada quando todos os componentes da motocicleta estão desligados e mesmo assim é registrado um consumo de energia elétrica.

Se o consumo for alto, a bateria em breve descarregará ou permanecerá parcialmente descarregada. Ambas as condições comprometerão sua vida útil e, por isso, é um defeito e deve ser corrigido.

MEDIÇÃO
O procedimento para medir a fuga de corrente ou “corrente em vazio”, é o seguinte:

1. Desligue a motocicleta e remova a chave do interruptor da ignição.
 
2. Com um multímetro, utilize a escala DCA (para medir amperagem). Dica: é conveniente deixar uma margem de segurança no aparelho selecionando a escala mais alta para poupar o amperímetro de um dano.
 
3. Faça o ajuste fino da escala para dar mais precisão à leitura.
 
Tensão de carga da bateria com o motor a 5.000 rpm
 
Tensão da bateria (padrão Honda) a 20°C 13,0 ~ 15,0V a 5.000 rpm

Tensão de carga da bateria com o motor a 5.000 rpm/ Tensão da bateria (padrão Honda) a 20°C 13,0 ~ 15,0V a 5.000 rpm
YAMAHA
De acordo com o manual de serviços Yamaha, o procedimento para avaliar fuga de corrente deve ser o seguinte:
 
1. Solte o cabo positivo da bateria da motocicleta;
 
2. Com o multímetro em mãos, instale a ponta de prova preta do aparelho ligado em série com cabo positivo da motocicleta; e a ponta de prova vermelha do multímetro ao polo positivo da bateria. Dica: para multímetros digitais não há ordem de instalação;
 
3. A fuga máxima de corrente permitida de acordo com os manuais de serviços da Yamaha é igual a zero “0”.
 
HONDA
De acordo com o manual de serviços básicos da Honda o procedimento deve ser o seguinte:
 
1. Solte o cabo negativo da bateria da motocicleta;
 
2. Com o multímetro em mãos, instale a ponta de prova vermelha do aparelho ligado em série com cabo negativo da motocicleta e a ponta de prova preta do multímetro ao polo negativo da bateria;
 
3. A fuga máxima de corrente permitida de acordo com os manuais de serviços da Honda atuam na faixa média de 0,10 ~ 0,15 mA.
 
4. Nesse caso é importante certificar-se do valor correto da fuga de corrente permitida para a motocicleta que está sendo avaliada.
 
Para ambos os casos, se a fuga for diferente do limite estabelecido no manual de serviços da motocicleta, significa que o sistema opera com um curto-circuito. Assim, localize a causa desligando os componentes da motocicleta, um a um, até que o problema desapareça e depois execute a operação de montagem na ordem inversa e execute o reparo.
 
INSPEÇÃO
Outro procedimento de avaliação do sistema de carga é checar o valor de tensão (V) que entra na bateria no momento do funcionamento da motocicleta. Para a exatidão do teste é necessário que a bateria esteja com a carga completa. Uma vantagem desse teste é que ele não necessita remover nenhum terminal da bateria.
 
1. Com um multímetro utilize a escala DC 20V em paralelo;
 
2. Conecte a ponta preta do multímetro no pólo negativo da bateria e a ponta vermelha do multímetro no polo positivo da bateria;
 
3. Dê a partida no motor e acelere até cerca de 5.000 rpm;
 
4. Confira a voltagem no aparelho;
 
5. O valor da voltagem de carga deverá estar entre 14V ~ 15V;
 
6. Se a tensão estiver muito abaixo ou acima do valor estabelecido, verifique bobinas de carga, regulador/retificador da bateria e conexões.
 
REMOÇÃO E INSTALAÇÃO
As motocicletas modernas de médio e grande porte são equipadas com sistemas elétricos sensíveis, como computadores de bordo, ABS, módulos, amortecedor de direção eletrônico etc.

Por isso não remova ou instale a bateria sem conhecer os procedimentos recomendados pelo fabricante de cada modelo, pois na instalação os componentes podem exigir algum procedimento de reinicialização e a limpeza de defeitos memorizados na ECU.

Ao remover uma bateria inicie pelo polo negativo e em seguida desconecte o polo positivo e, para o processo de instalação, inicie primeiramente instalando o polo positivo e, em seguida, o polo negativo.