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Falar de lubrificante não é “chover no molhado”, há sempre algo novo para aprender


”Que atire a primeira pedra” quem souber tudo! Semanalmente trocamos muitos litros de óleo, mas nem sempre questionamos se as informações do rótulo da embalagem estão em conformidade com o motor em serviço

Por: Paulo José de Sousa - 01 de março de 2018

Embora haja verdades, o óleo do motor é cercado de mitos que influenciam clientes e reparadores na hora da escolha.

A missão básica do óleo é reduzir ou eliminar o atrito, também influencia diretamente no desempenho e na vida útil do motor. Ano a ano as máquinas evoluem, surgem novos materiais, novas ligas, adoção da injeção eletrônica, e também sistema flex de combustível, e o resultado só pode ser um: motos mais potentes, econômicas e robustas.

Para atender à demanda imposta pela evolução, cada fabricante tem como missão substituir os óleos já consagrados que abasteciam as motocicletas por lubrificantes modernos e eficientes.

Do outro lado, sem querer generalizar, até no balcão de motopeças as opiniões são equivocadas, não se sabe de onde vem o embasamento técnico. São vendidos óleos com promessas” milagrosas”, preço baixo e durabilidade alta, tudo em descompasso com as literaturas de fábrica.

Por isso, na hora da decisão pode pairar um “dilema” na mente do mecânico: como escolher um lubrificante, aquele tradicional de marca ou o especificado pela fábrica da motocicleta?

A pergunta que deve ser feita é: qual é o critério de escolha do lubrificante mais adequado para a motocicleta?

Para essa e outras dúvidas, a conclusão virá até o final do texto.

Deixando de lado as propagandas, os melhores lubrificantes trazem como proposta uma série de benefícios ao motor, meio ambiente e quem sabe ao bolso do cliente.

Porém ao reparador que está em dúvida, cabe um pouco de bom senso, basta consultar qualquer manual de serviços, ao ler irá notar que a vida útil do lubrificante é definida pelo fabricante da motocicleta, e está limitada em quilômetros rodados ou tempo de utilização (tempo de abastecimento), independente da marca e especificação.

A marca do lubrificante está relacionada ao acordo comercial entre o fornecedor do óleo e a fábrica da motocicleta, porém a especificação técnica é o que define se ele atende ou não às exigências do motor, por isso o lubrificante adequado pode ser produzido nas diversas marcas. Cabe ao reparador definir seus interesses junto ao seu cliente.

Confusão técnica

O mecânico de motocicleta deve ter em mente que lubrificante de automóvel não é compatível com o motor da motocicleta, se fosse estaria escrito no rótulo da embalagem.

Vamos às justificativas: na maioria dos motores das motocicletas o óleo que lubrifica pistão, anéis, cilindro, virabrequim e peças do cabeçote é o mesmo que circula entre os inúmeros discos do conjunto de embreagem, feitos de papel e cortiça, os aditivos do óleo de carro pode fazer o mecanismo patinar, além disso o lubrificante banha as engrenagens do câmbio, buchas, roletes e rolamentos por salpico e pressão da bomba. Em outras palavras o óleo tem que suportar todas as modalidades de esforços.

Cuidado para não cair na “pegadinha do óleo”, é bem fácil confundir os lubrificantes, ao ler na embalagem que o óleo é para motores 4 tempos não quer dizer que é compatível com a motocicleta 4t, tem que estar escrito 4 tempos moto junto à especificação. Fig.1 – Fig.2

 

 

A aparência do lubrificante não serve de parâmetro para escolha, praticamente é tudo igual, as características físico-químicas são imperceptíveis.

Aproximadamente 80% da frota circulante no Brasil é composta de motocicletas de até 250 cilindradas arrefecidas a ar, nestes motores o volume do óleo é no máximo de 1,5 litros (pouco né?) e a rotação do motor é alta, chega até 10.000 rpm, bem diferente de um carro.

As características descritas acima aceleram a degradação do lubrificante, por isso na moto o intervalo de troca é mais reduzido, portanto o óleo é desenvolvido para atender a todas as solicitações impostas e assegurar inúmeros efeitos protetivos.

Evolução do óleo

O lubrificante que abastecia as motocicletas de antigamente em geral só atendia às exigências dos motores da mesma época, nas motocicletas modernas os requisitos são outros, por isso o produto pode ser até um pouco mais caro.

Independente do processo de fabricação e composição, os lubrificantes têm que atender às seguintes condições:

Melhorar o desempenho, garantir a durabilidade do produto, baixar consumo de combustível e também estar alinhado com as estratégias de controle ambiental na redução de emissões de monóxido de carbono.

Outro ponto importante, para cada fabricante sempre irão considerar as exigências de engenharia, além do custo / benefício.

Evolução e classificação do lubrificante de motor

As categorias de serviço da API (American Petroleum Institute) são melhoradas para atender ao desenvolvimento dos motores, evidentemente um óleo da escala superior é tecnicamente melhor e possui propriedades e desempenho acima das anteriores. Mesmo com estas informações o critério de escolha do lubrificante ainda é o determinado pelo fabricante da motocicleta.Fig.3

Fig. 3 - Escala da evolução do lubrificante

Óleo mineral, sintético e semissintético, qual é o melhor?

Mineral

Simplificando, o óleo de base mineral é produzido a partir do refinamento do petróleo.

Lubrificante semissintético

É o resultado da combinação de proporções de óleo mineral junto ao sintético, o objetivo é buscar melhor resultado com a mistura dos lubrificantes.

Base sintética

Já o lubrificante de base sintética resulta das combinações químicas produzidas em laboratório, sempre buscando melhor performance.

De modo geral, das descrições acima o melhor é o lubrificante sintético, porém o mais adequado ao motor é o definido pelo fabricante da motocicleta.

É importante observar que em algumas regiões do Brasil os lubrificantes mais comuns continuam nas prateleiras do comércio, já os óleos mais modernos em sua maioria só serão encontrados nas concessionárias das diversas marcas ou grandes distribuidores.

Informações do rótulo da embalagem de lubrificante

A sigla "JASO" (Japanese Automotive Standards Organization), normalmente indicada nas embalagens de lubrificantes de motores de motocicletas 4T, estabelece um conjunto de especificações que asseguram que o lubrificante pode ser aplicado em motores de motocicletas 4tempos com embreagem banhada a óleo.

Vamos esclarecer dúvidas com relação às vantagens do óleo de menor viscosidade aplicado em algumas motocicletas atuais.

Entre todos os benefícios da menor viscosidade de alguns lubrificantes modernos está ao ligar o motor. Nas primeiras partidas obtém-se uma redução no atrito dinâmico das peças móveis, principalmente durante a fase de aquecimento, se há redução no atrito, ocorre a redução de desgastes.

Sendo assim, o desempenho do motor principalmente na fase inicial de funcionamento será mais eficiente e teremos facilidade nas partidas a frio, além de outras vantagens relacionadas ao desempenho, redução de emissões já descritas anteriormente.

Outra observação importante quanto ao óleo tradicional é verificar se ele atende a motocicleta bicombustível.

Essa investigação fica a critério do reparador, que terá que dar uma olhadinha nas informações técnicas do produto disponível na prateleira da oficina.

É certo que o álcool pode alterar o lubrificante e trazer prejuízos ao motor, por isso, cuidado!

Alta temperatura, vibração e o ruído no motor são sinais de deficiência na lubrificação

Volume e qualidade do lubrificante podem ser as causas, o atrito do “ferro no ferro” pode ser a indicação de falta ou falha do lubrificante, a alta temperatura, vibração e o ruído são os sintomas mais frequentes.

Em edições anteriores já abordamos o sistema de lubrificação nos quesitos, bomba de óleo e também as folgas do motor, por isso nesta edição estamos apresentando como causa de problemas apenas o lubrificante.

A fina camada de lubrificante que preenche o vão entre as peças do motor pode perder a eficiência ou até desaparecer, nessa condição ocorre o atrito excessivo das partes em movimento, a consequência disso é a rápida elevação da temperatura, desgastes e a quebra do motor, assim sucessivamente.

Comando de válvulas, balancins, roletes, rolamentos, bronzinas, mancais, pistão, anéis, bielas e outras peças, tudo perdido.

Na foto abaixo, ao abrir o motor foi detectado sinais indicando que o óleo “fritou” embaixo do topo do pistão.Fig.4

Fig. 4 - Parte de baixo do pistão e pino

Normalmente ocorre uma formação de carvão, resultado do lubrificante jateado no topo da biela e na parte inferior do pistão, os sinais indicam que houve falha na lubrificação e o óleo não conseguiu regular a temperatura das peças, a consequência é a coloração azulada na parte superior da biela. Fig.5

Fig. 5 - Topo da biela, sinais de calor excessivo

No cabeçote e no cárter ocorre a formação de uma “maionese preta” conhecida como borra, ela impede a circulação do lubrificante, entope canais e galerias.

Normalmente é resultado da combinação da alta temperatura, evaporação do lubrificante junto a outras ações químicas dentro do motor.

Tudo isso é resultado da falta de manutenção preventiva, entre elas está a troca do óleo no intervalo correto, em que o comum é apenas completar o nível.

O filtro de óleo também pode ser o “vilão” dessa história, o processo de filtragem retém as impurezas capazes de comprometer a vazão do lubrificante.Fig.6

Fig. 6 - Troca de filtro de óleo, item essencial da manutenção preventiva

Cuidado, há lubrificantes que mesmo após muitos e muitos quilômetros continua limpo e claro, isso pode não ser um bom sinal, significa que os resíduos da queima do combustível, desgastes da embreagem e outros continuam aderidos nas partes internas do motor.

O bom óleo contém detergente e outros componentes com a função de limpar o motor, por isso após alguns tempo de uso é normal que ele escureça, na troca do lubrificante a sujeira vai embora e o motor fica limpo internamente.Fig.7

Fig. 7 - Drenagem do óleo do motor, aspecto bem escurecido

Algumas causas de falta ou falha na lubrificação:

O lubrificante pode ter a deterioração acelerada quando em contato com combustível e excesso de vapores. A água quando misturada ao óleo pode gerar espuma devido à presença de detergentes no lubrificante, normalmente a infiltração é causada por falhas na bomba d’água. Assim ocorre uma troca, parte da água do radiador irá para o cárter e o óleo do motor irá para o radiador.

A ausência total ou parcial do lubrificante provocada pela queima ou vazamento, somado a outras ações químicas no óleo que o transforma em ácido, provoca danos aos componentes do motor.

Excesso de lubrificante no motor pode trazer prejuízos

Engana-se quem pensa que é bom deixar o lubrificante acima do nível, esta ação pode trazer alguns incômodos e os efeitos são:

  • Vazamento de óleo pelas juntas, parafusos, eixos de balancins, anéis de vedação;
  • Óleo subindo para caixa do filtro de ar, vazamento pelo respiro do motor;
  • Excesso de pressão no cárter e expulsão de retentores do motor.

Vareta de nível

Em motores que utilizam vareta, a verificação do nível de óleo deve ser realizada sem que a peça seja rosqueada (salvo regra especial) Fig.8

Fig. 8 - Vareta de óleo, (1) nível máximo (2) nível mínimo

Visor de nível de óleo

O método de verificação é mais prático, porém a peça pode escurecer, pois está sujeita a acúmulo resíduos do lubrificante contaminado, impossibilitando a verificação do nível. Fig.9

Fig. 9 - Visor de nível de óleo, (F) nível máximo (L) nível mínimo