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Conheça detalhes importantes dos componentes da relação de transmissão: corrente, coroa e pinhão


Um olhar atento sobre o sistema é a chave fundamental para que os reparadores adotem procedimentos corretos nas rotinas de manutenção, prolongando a vida útil dos componentes e otimizando a performance da motocicleta

Por: Paulo José de Sousa - pjsou@uol.com.br - 19 de setembro de 2016

Falar da transmissão secundária da motocicleta não é “chover no molhado”, o sistema é simples, os reparadores conhecem bem o mecanismo, mas parece que nem todos seguem as orientações dos fabricantes, consequência disso é a redução na vida útil do conjunto corrente, coroa e pinhão e outras peças relacionadas, além de afetar o consumo de combustível e o desempenho da motocicleta.

A “relação”, como é conhecida, ou transmissão secundária, é responsável por transmitir a rotação do motor até a roda traseira da motocicleta, e nas reduzidas o conjunto também atua no freio motor.

O conjunto: corrente, coroa e pinhão é confeccionado em aço especial, os materiais utilizados tornam os elementos capazes de suportar todas as solicitações impostas, os mecanismos trabalham em alta rotação, recebem indiretamente os impactos da suspensão e diretamente alguns esforços, atritos, vibrações, calor, pó e água são justificativas para que a manutenção seja meticulosa, mas mesmo sabendo há mecânicos que aplicam técnicas de ajustes diferentes e utilizam alguns lubrificantes que não estão listados nos manuais de serviços.

O sistema de transmissão a corrente é mais barato, simples e leve, do motor até a roda traseira o percentual de perda de rendimento é baixo, é por isso que o sistema está presente na maioria dos modelos de motocicletas. 

Mas porque as correntes quebram ou escapam das engrenagens?

Independente da marca e modelo de motocicleta, o conjunto da transmissão original normalmente é de boa qualidade e tem vida longa, a segurança do condutor da motocicleta depende diretamente da qualidade do conjunto. É comum que os reparadores saibam em média qual a vida útil da relação, mas há casos em que a durabilidade do conjunto é encurtada, é bom ter em mente que mesmo os conjuntos das melhores marcas não suportam maus tratos, falta de lubrificante ou manutenção.

De acordo com o manual do proprietário a responsabilidade de ajuste e a lubrificação do conjunto pertencem ao usuário da motocicleta, algumas oficinas oferecem o serviço a baixo custo ou em forma de cortesia na intenção de atrair e fidelizar o cliente.

Indo um pouco mais fundo no assunto

A corrente é estruturada em chapas de aço, projetada para suportar uma determinada carga admissível ou carga de trabalho, quando o limite é excedido a corrente atinge sua ruptura, ou seja, as placas esticam, trincam e quebram. 

Os elos são organizados em: placas, pinos, rolos e buchas, cada parte feita de um tipo de aço especificado pela SAE, as características da matéria-prima utilizada e o tratamento do metal conferem ao conjunto uma vida longa, as boas marcas seguem diversas normas de especificação de uso em motocicletas, que são diferentes das normas de aplicação em máquinas, por isso a corrente de equipamento industrial não pode ser utilizada em motocicletas.

A corrente quando tracionada deve envolver as engrenagens (coroa e pinhão) precisamente copiando o seu formato, assim a exatidão de encaixe proporcionará baixa emissão de ruídos e vibrações, nesta condição o desgaste será mínimo.

A folga padrão recomendada nos manuais dos fabricantes é um dado importante, que tem o objetivo de evitar os danos causados pelo excesso de tensão (muito esticada) ou a falta de tensão (muito solta).

Durante a pilotagem da motocicleta, no movimento da suspensão a distância entre o eixo do pinhão e o eixo da roda traseira se altera, provocando um tensionamento da corrente e trancos em todo o conjunto, se o ajuste da folga estiver fora do recomendado ocorrerão esforços nos eixos secundário do motor (eixo do pinhão) e por consequência, danos nos rolamentos internos do câmbio, vazamento no retentor do eixo, falha na lubrificação das partes internas da corrente e desgastes na relação, quebras de dentes das engrenagens, danos no cubo da roda e desgaste excessivo nos coxins ou buchas da coroa.

Após um período de utilização normal a corrente se alonga, ou seja, fica com folga e até produz ruído de batida no chassi da moto, no excesso de folga ocorrem oscilações, ondulações e a corrente pode escapar das engrenagens provocando danos a motocicleta e também ao condutor.

Outras falhas de manutenção na corrente e as consequências na motocicleta

Posição do grampo da emenda da corrente

Algumas correntes possuem emenda, por isso é necessário seguir a recomendação de posicionamento do grampo trava da emenda, sendo: o lado fechado da trava deve estar alinhado com o sentido de rotação da corrente para que durante o movimento ele não se abra e a emenda se solte. (fig.1) 

Figura 1

Ajuste do freio traseiro da motocicleta

Em motocicletas equipadas com freio traseiro a tambor o reparador deve verificar a folga do pedal do freio traseiro sempre que ajustar a corrente, há riscos do freio ficar sem folga, a consequência será aquecimento excessivo no sistema e amarelamento no cubo do freio traseiro da motocicleta.  (fig. 2)

Figura 2

Inversão da posição da corrente

Alguns manuais recomendam que a corrente seja tirada da motocicleta para a limpeza, por isso ao montar a corrente na motocicleta a posição de funcionamento deve ser mantida, do contrário irão ocorrer ruídos na transmissão. 

Desalinhamento do eixo da roda traseira

Ao ajustar a tensão da corrente é necessário manter o alinhamento do eixo da roda, o desalinhamento da posição do eixo irá acelerar o desgaste do conjunto e provocar outras consequências como:  quebra da corrente e também pode deixar a motocicleta instável, ao ser conduzida ocorre a sensação da moto estar puxando para o lado, ainda como consequência há o desgaste irregular do pneu traseiro. (fig.3)

Figura 3

Manutenção periódica: Limpeza
 

Durante a limpeza aplica-se um sabão desengraxante com um pincel, direcione o jato de água fria de baixa pressão e faça a remoção da sujeira, seque com ar comprimido e em seguida faça a lubrificação. 

Frequência da lubrificação 

Normalmente os fabricantes de motocicletas recomendam o óleo SAE 80 ~ 90, e determinam que a lubrificação seja executada a cada 500 km ou sempre que necessário,  para as regiões de muita poeira é aconselhável reduzir este intervalo, sempre que for lubrificar verifique se há necessidade de lavar a corrente para remover a crosta impregnada de óleo com poeira.  

O uso da graxa não aparece como lubrificante recomendado,  pode acelerar o desgaste do conjunto, a viscosidade é muito alta e impede o contato do lubrificante com as partes internas da corrente, as graxas também causam uma falsa sensação da corrente estar sempre lubrificada, porém o pó adere na graxa, transformando-se em uma pasta abrasiva que irá acelerar o desgaste do conjunto. (fig.4)  

Figura 4

Cuidados com a corrente autolubrificada

A corrente autolubrificada segue a mesma regra da corrente comum, porém ela é previamente lubrificada pelo fabricante, utiliza graxa especial entre os pinos, buchas e roletes, é montada com anéis de borracha que fazem a vedação do lubrificante  interno, assegurando que as partes internas fiquem sempre lubrificadas, a lubrificação externa deve ser realizada normalmente.

Durante a lavagem da motocicleta alguns procedimentos devem ser praticados:  não utilize solvente, água em alta pressão ou temperaturas muito elevadas.

Os anéis de borracha podem ser danificados e ocorrer a remoção do lubrificante especial, também não é recomendável lubrificantes em forma de spray, geralmente são compostos por solventes que também são agressivos aos anéis de borracha.(fig.5)

Figura 5

Inspeção da folga

Posicione a motocicleta em uma superfície plana de modo que a roda traseira fique livre, gire a roda procurando o ponto de referência em que a corrente fique mais tensionada e, neste ponto execute a verificação da folga movimentando a corrente para cima e para baixo.

Se a corrente exceder o limite de folga execute o ajuste conforme a recomendação do fabricante da motocicleta.

Para a exatidão da aferição de folga e ajuste é conveniente que a corrente esteja limpa e lubrificada.

Diagnóstico final da vida útil da transmissão

O final da vida útil da corrente e das engrenagens é indicado pelo sistema de ajuste, após alguns milhares de quilômetros não será possível tirar a folga da corrente, os ajustadores chegaram ao final de seu curso, indicando assim o  limite de uso da transmissão secundária, nessa condição as engrenagens já estão com desgastes no contorno,  dentes desalinhados ou tortos, mas o aspecto nem sempre é visível.(fig. 6)

Figura 6

Portanto o conjunto deve ser substituído, tirar um par de elos da corrente na intenção de prolongar a vida útil do conjunto pode ser perigoso, durante a pilotagem da motocicleta a corrente pode quebrar, comprometendo assim a segurança do motociclista e da motocicleta. Siga a recomendação do fabricante.

fatores que reduzem a vida útil da relação        

Além das causas citadas acima, a durabilidade da transmissão pode ser comprometida pela forma de conduzir a motocicleta e também pelos fatores abaixo:

• A ação química de produtos utilizados na lavagem da motocicleta;

• A ação química do ácido da bateria; (fig.7);

Figura 7

• Lubrificante não especificado;

• O uso de óleo queimado como lubrificante não é recomendável, o óleo usado contém substâncias químicas  derivadas da combustão  e também  limalhas geradas pelos atritos internos do motor, que  são abrasivas e aceleram o desgaste.

 

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