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Batida de válvulas: ruído na parte superior do motor é defeito ou característica de um modelo?


Confira como a falta ou a falha na regulagem causa perda de potência, marcha lenta irregular, dificuldade na partidae consumo excessivo de combustível

Por: Paulo José de Sousa - 13 de março de 2015

As válvulas são dispositivos confeccionados em aço especial, que têm seu acionamento determinado pelos cames (ressaltos) do(s) eixo(s) de comando(s). 

A rotação do eixo promove o abrir e fechar das válvulas: em outras palavras, o controle de entrada da mistura ar/combustível na câmara de combustão do motor e a saída dos gases queimados.

Após alguns “milhares” de quilômetros rodados, pode surgir, na parte superior do motor, um barulho metálico – a famosa “batida de válvula(s)”. Geralmente, esse ruído é acompanhado da diminuição no rendimento da motocicleta, que nem sempre é perceptível, pois o usuário compensa a perda de potência abrindo um pouco mais o acelerador, e esta é a justificativa para o aumento no consumo de combustível.

O contrário também pode acontecer: a folga de abertura da válvula diminui, não há ruído excessivo e o consumo de combustível aumenta.

Ruído como característica. Até onde o ruído é normal? - No motor, todas as peças em movimento necessitam de uma folga de trabalho. O ajuste possibilita a dilatação térmica e faz com que o óleo circule livremente, lubrificando e retirando o calor do conjunto. Portanto, sempre haverá emissão de ruído.

No processo de fabricação, todas as peças do motor são submetidas ao controle de qualidade; porém, existem as chamadas tolerâncias definidas pelo fabricante para saber se uma peça está boa ou não para uso.

Este controle garante que o conjunto terá durabilidade máxima. No entanto, em um lote de peças aprovadas, podemos encontrar tamanhos ligeiramente diferentes. Essa variação dimensional não é prejudicial ao motor, mas pode fazer com que o barulho dos motores seja levemente diferente entre eles.

Na linha de produção, quando as peças são combinadas em um motor, todos os ajustes são considerados para que este seja o mais silencioso possível, e a emissão de ruído esteja de acordo com a política de emissões ambientais determinada pelas autoridades. Este limite geralmente é citado no manual de proprietário, por isso os fabricantes se preocupam com o controle do nível de ruído.

Porém, se pensarmos que cada peça em movimento emite um ruído, então a somatória de todas elas mais o som da combustão irá compor o barulho característico de um motor, algo que nem sempre será um defeito, mesmo quando comparado a outra motocicleta ligeiramente mais silenciosa.

O óleo também tem um papel fundamental na redução de ruídos, visto que, por preencher as folgas, acaba criando o efeito amortecedor, desde que esteja novo.

O ouvido do reparador pode falhar como ferramenta de diagnóstico - Como citamos anteriormente, as falhas nos mecanismos relacionados às válvulas nem sempre produzem ruídos, ao contrário: uma válvula presa será sempre silenciosa. 

Ruídos de outros pontos podem ser refletidos na parte superior do motor e confundir quem ouve a batida. A solução não está no ajuste das válvulas.

Algumas ações equivocadas como solução de problemas:
• Estrangular as válvulas (deixar com a folga abaixo do especificado) para eliminar ruídos: a ação provocará vazamento de compressão e queima de sede e, se a válvula for a de escape, a atenção deve ser redobrada. Uma falha na vedação poderá provocar aquecimento excessivo do escapamento, algo desaconselhável principalmente para motocicletas equipadas com escapamento cromado. Nestas, certamente haverá mudanças na coloração da curva de seu escape, em decorrência do excesso de calor.

• Deixar com a folga acima do especificado para a motocicleta andar mais: também não é recomendado. Poderão ocorrer desgastes no parafuso de regulagem e na cabeça da válvula.

• Deixar a moto amaciar para fazer a verificação e ajuste se necessário: na fase de amaciamento, a atenção deverá ser redobrada. A válvula poderá desregular rapidamente, ficando presa ou folgada.

É lógico que a experiência de quem atua na linha de frente na oficina deve ser considerada, mas os procedimentos de diagnósticos devem ser sempre seguidos.

Possíveis causas de ruídos na parte superior do motor
Para batida de válvula causada por danos ou desgastes das peças internas do motor, a solução não está no ajuste das válvulas, e sim na substituição das peças defeituosas.

As peças mais suscetíveis a problemas são: 
- Válvula com a cabeça danificada;
- Válvula com a borda quebrada;
- Desgaste na haste da válvula;
- Válvula empenada;
- Guia de válvula solta;
- Sede da válvula solta;
- Mola de válvula quebrada ou com a pressão abaixo da especificação;
- Comando de válvulas com ressaltos gastos;
- Folga nos mancais do(s) comando(s);
- Folga axial ou radial nos balancins;
- Parafuso de ajuste de válvula solto ou danificado.

Regular válvula nem sempre significa diminuir a folga excessiva. Às vezes é necessário aumentar a folga existente - Durante seu trabalho, a válvula exerce uma pressão de retorno. Por isso, devido à ação da mola, pode haver deformação na sede de assentamento e, consequentemente, redução da folga entre a extremidade da válvula e o parafuso de regulagem, localizado no balancim, ou redução de folga entre a válvula e a pastilha.

Há casos em que tentar eliminar um ruído da parte superior do motor através do ajuste das válvulas não é a solução. O melhor caminho é encontrar a causa correta do ruído e efetuar o reparo necessário. Também são identificados casos em que a sincronização das válvulas está incorreta, e o pistão acaba tocando as mesmas, provocando ruídos.

O ajuste de válvula feito no motor fora de ponto também pode ser causa de folgas excessivas.

A temperatura de ajuste deve ser igualmente considerada.

Como evitar a batida de válvula - A manutenção preventiva é a melhor saída, pois custa menos e é mais rápida do que a corretiva.

Para cada modelo de motocicleta, há uma folga específica e um intervalo para sua verificação. A revisão periódica deve ser feita mesmo que não haja ruído.

Diagnóstico da pressão da compressão do motor - É possível diagnosticar uma pane mecânica sem a necessidade de abrir o motor. O diagnóstico é um procedimento válido para qualquer modelo e marca de motocicleta de motor a 4T. 

Para avaliar a condição interna do motor:
• Aqueça o motor até a temperatura normal de funcionamento;
• Desligue o motor e remova a vela de ignição;
• Instale o relógio medidor de compressão do cilindro;
• Acelere completamente (abra o acelerador) e acione o botão de partida várias vezes, por no máximo sete segundos cada tentativa, até que o ponteiro do medidor estabilize;
• Se a compressão estiver alta, indica carbonização excessiva na câmara de combustão e/ou no topo do pistão;
• Se estiver baixa, coloque de 2 a 4 cc de óleo do motor (limpo) através do orifício da vela de ignição, movimente o motor para o óleo se espalhar internamente na câmara e verifique novamente o valor da compressão;
• Se a compressão aumentar em relação ao valor anterior, analise o cilindro, pistão e anéis;
• Se ela não mudar, verifique se existem vazamentos de compressão no cabeçote ou nas válvulas, conforme lista acima.

Motor normal Kasinski Mirage 150

Se após o teste da pressão do motor for constatado vazamento nas válvulas ou no cabeçote, a desmontagem será necessária para a avaliação do problema.

Cabeçotes pastilhados - Após a constatação de folga irregular, é necessário selecionar novas pastilhas para o ajuste. Só assim será possível elaborar um diagnóstico mais preciso da parte interna do motor.

O ajuste incorreto pode alterar a área efetiva de abertura da válvula - Quando a folga de válvula está muito elevada, há uma interferência em seu curso, pois sua abertura também é influenciada pela folga. Consequentemente, o desempenho da motocicleta será reduzido. Outro problema é o choque entre as peças móveis, reduzindo a vida útil do conjunto e aumentando o ruído do motor.