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Chevrolet Kadett GS, o esportivo nato que a General Motors trouxe para o começo de uma nova década


Aerodinâmico, visual próprio e recheado de itens conforto e tecnologia, o Kadett GS impôs um novo padrão de veículo esportivo  

Por: da redação - 21 de maio de 2016

Brasil, década de 1980. Em meio ao caos da hiperinflação, mercado fechado e o vai e vem de moedas, o setor automotivo era um dos mais prejudicados pela desordem nacional. Num tempo em que não havia concorrência de modelos importados os fabricantes instalados em solo verde e amarelo se davam ao luxo de fazer meros retoques cosméticos e de acabamento em seus veículos. Nessa época era muito comum a mídia especializada dar destaque a uma nova calota, faróis redesenhados e painel com grafismo diferenciado, que davam um alento aos entusiastas automotivos.

O cenário estava prestes a mudar no início de 1989. A General Motors, que está instalada no Brasil desde 1925, na ocasião podia ser considerada a fabricante mais conservadora. Naquele período havia lançado apenas três carros – Opala, Chevette e Monza. Mas o panorama estava prestes a se alterar com a chegada de um modelo que iria revolucionar o mercado. A mídia especializada já sabia que se tratava do Kadett, modelo desenvolvido pela subsidiária alemã Opel. Tanto que antes mesmo do lançamento o modelo já havia ilustrado a capa das principais revistas automotivas. 

Para desenvolver o Kadett a GM investiu o montante de 220 milhões de dólares na planta localizada na cidade de São José dos Campos, interior de São Paulo, e quatro anos de pesquisas e desenvolvimento para a adaptação do modelo à realidade brasileira. Apresentado em abril de 1989, já no final daquele mês foi disponibilizado ao mercado, quebrando um jejum de cinco anos consecutivos sem o lançamento de uma linha de automóveis inédita no país. Além disso, o Kadett preenchia uma lacuna entre o Chevette e o Monza. Entre os concorrentes diretos havia o Ford Escort, contemporâneo do novo Chevrolet na Europa. 

Com a vinda do Kadett a Chevrolet ousou em trazer um modelo inovador em termos estéticos e aerodinâmicos, além disso nós brasileiros estávamos em compasso com os europeus. Para a General Motors também era o primeiro passo para uma leva de novos lançamentos que ela faria seguidamente nos anos subsequentes ao lançamento do Kadett. 

KADETT GS, O ESPORTIVO 

Para o mercado brasileiro a GM lançou três versões do Kadett – a básica SL, a luxuosa SL/E, e a esportiva GS. Todos com carroceria hatch de duas portas e diferenciando-se entre si pelos níveis de acabamento, desempenho e opcionais disponíveis. Em estilo, seguiam as mesmas características básicas: frente baixa e inclinada, grade com linhas horizontais finas, às quais eram integrados os faróis e lanternas em formato trapezoidal, parachoques envolventes, amplas portas e traseira suavemente inclinada.

Suas dimensões eram compactas, media 3,99 metros de comprimento, 1,39 m de altura e entre-eixos de 2,52m. A carroceria era lisa, sem vincos ou saliências, o que contribuía para a baixa resistência do ar. A capota não tinha calhas e os vidros traziam o inédito sistema de fixação por cola na chapa, sendo a borracha utilizada somente para dar acabamento entre o vidro e lata. As grandes molduras plásticas laterais em formato triangular serviam como saída de ar do interior e também disfarçavam as grandes colunas traseiras (coluna C).  

Chamariz da linha Kadett sem dúvidas foi a versão esportiva GS, que ocupava o espaço deixado pelo Monza S/R e que iria disputar mercado com modelos como Gol GTS e GTi, Escort XR3 e Uno 1.5R. Diversos detalhes diferenciavam a versão GS das outras duas, a começar pelo motor de 2 litros movido somente a etanol, com potência de 110 cv a 5.600 rpm, torque de 17,3 m.kgf a 3 mil rpm e taxa de compressão de 12,0:1. Os demais modelos SL e SL/E usavam o trem de força de 1,8 litro. O câmbio do esportivo era somente manual de cinco, sendo a quinta real sem Overdrive e de relações mais curtas. Já as rodas traziam desenho exclusivo aro 14 cobertas com pneus de perfil baixo na medida 185/60. Para ele estavam reservadas quatro cores: Preto Formal, Branco Everest, Vermelho Bonanza e Cinza Escuro.

Outra inovação do modelo GS era a suspensão traseira regulável em altura que ajudava a manter a altura ideal quando carregado. O sistema funcionava da mesma forma que se calibrava o pneu, inclusive com o bico de ar semelhante, localizado no interior do porta-malas. O sistema de ar comprimido era acoplado aos amortecedores traseiros e não alterava a carga deles, apenas a altura do veículo. Com carga total admissível, o sistema deveria ser carregado com 44 lb/po² o que era suficiente para manter a altura original. Já totalmente carregado a pressão nunca deveria ser inferior a 12 lb/po². A pressão máxima que o sistema comportava era de 72 lb/po². 

Visualmente o Kadett GS destacava-se pelo formato em cunha, comumente chamado de “formato gota”: soluções aerodinâmicas eram vistas no spoiler dianteiro integrado ao parachoque, grade em formato de colmeia, faróis de longo alcance, duas saídas de ar no capô e retrovisores com carenagem aerodinâmica. Nas palhetas do limpador de parabrisa havia defletores para evitar a flutuação das hastes em alta velocidade. Na traseira o para-choque apresentava uma luz de neblina embutida do lado esquerdo e aerofólio integrado, isso fazia com que o limpador fosse fixado diretamente no vidro. Tudo isso contribuía para um coeficiente aerodinâmico (Cx) de apenas 0,30, o menor naquela ocasião. 

Essa facilidade que o Kadett GS tinha de “furar o ar” refletia em seu desempenho. O modelo fazia de 0 a 100 km/h em 10,6 segundos e atingia velocidade final de 174 km/h, números pouco abaixo do seu concorrente direto Gol GTi. Entretanto, por ser abastecido com etanol a autonomia do Kadett esportivo era baixa, pois seu tanque comportava somente 47 litros e isso dava uma autonomia de apenas 350 quilômetros, já que seu consumo médio era de 7,15 km/l. 

TRAJE ESPORTE FINO

Se o exterior do Kadett GS chamava a atenção, o seu interior também trazia destaques para uma condução esportiva e confortável. Ao abrir a porta o chamariz ficava por conta os bancos esportivos Recaro de grandes abas laterais que abraçavam o condutor. Outra novidade era a regulagem de altura do banco do motorista, que era feira por meio de uma manivela que fazia o assento se mover para cima ou para baixo, isso conjugado com o volante de três raios de desenho exclusivo e a coluna de direção que podia ser regulada em cinco posições e dos pedais bem posicionados, que deixavam o posto de pilotagem mais agradável.

 

O painel de instrumentos rico em informações era o mesmo do Monza. Nas extremidades do lado esquerdo o velocímetro e à direita conta-giros e ao centro pequenos módulos da temperatura da água, nível de combustível, voltímetro e vacuômetro, todos com grafismo vermelho. O destaque tecnológico ficava por conta do check control e o computador de bordo. O primeiro ficava posicionado na parte superior do painel e era composto por sete luzes espia. Ao acionar a chave o sistema fazia uma varredura e caso houvesse algum problema a lâmpada cujo sistema estivesse com defeito ficaria acessa. O check control podia acusar irregularidades nos seguintes itens: Luzes de posição (lanternas) traseira e luz baixa do farol, luz de freio; nível do líquido de arrefecimento no reservatório de expansão; nível de óleo do motor; fluido de freio; desgaste das pastilhas de freio e nível do reservatório do lavador de para-brisa. 

Já o computador de bordo que aparecia no formato de um relógio digital ficava instalado entre as duas saídas de ar no centro do painel e trazia seis informações: Consumo instantâneo; consumo médio; velocidade média em um trecho; autonomia; cronômetro e termômetro de temperatura externa. Para receber as informações havia no Kadett quatro sensores que recebiam e processavam os dados e eram eles: sensor vazão, que media o combustível consumido em cada instante, sensor de distância, que media o espaço percorrido; sensor de temperatura externa e sensor da quantidade de combustível no tanque. 

CORREDOR MAIS CONTIDO

Em julho de 1990, as primeiras mudanças foram aplicadas ao Kadett GS. Basicamente foram alteradas três características: combustível, transmissão e altura dos pneus. No tocante à mecânica o motor de 2 litros passou a rodar com gasolina e isso afetou seu comportamento. A potência foi reduzida de 110 cv no etanol para 99 cv e o torque caiu dos 17,3 m.kgf para 16,2 m.kgf. Junto a isso a GM resolveu também alongar a relação final do câmbio, passou de 3,94:1 para 3,72:1, se na versão movida a combustível de cana as relações curtas ajudavam na arrancada, prejudicavam no consumo de combustível e ruído interno. Já os pneus de maior diâmetro da série 65, além de contribuir para o conforto não mexeram na estabilidade do Kadett GS, que continuou muito boa mesmo em pisos irregulares.

Nos testes efetuados pela revista Quatro Rodas a versão a gasolina do Kadett GS andou pouco menos que o modelo a álcool, atingindo velocidade máxima de 165 km/h e a aceleração de 0 a 100 km/h ficou na casa dos 12,07 segundos. No consumo houve uma sensível melhora e a média ponderada ficou na casa dos 10,7 km/l. Fora esses detalhes as únicas coisas que apontavam o uso do combustível fóssil era a tampa do tanque que tinha a inscrição Gasolina e a ausência do tanquinho de partida a frio no cofre do motor. 

A versão esportiva do Kadett equipada com carburador ficou no mercado dois anos e meio em produção. A partir de 1992 novas leis contra poluição entrariam em vigor. A Chevrolet já trabalhava no desenvolvimento da versão equipada com o motor de 2 litros com injeção eletrônica e que estaria disponível a partir de outubro daquele ano. Além disso, a charmosa versão conversível do Kadett feita pelo estúdio Bertone faria sua estreia para disputar mercado com o icônico Ecort XR3. Mas essa história nós vamos deixar para contar em breve.  

 

SONHO DE INFÂNCIA

Para muitos apreciadores da linha Kadett, os modelos da safra de 1991 são os mais desejados. Isso tem alguns motivos. Para linha 1991, a General Motors acrescentou duas novas cores ao hatch esportivo: o Amarelo Elbrus e o Vermelho Rodes (perolizado). No interior a cor do tecido dos bancos passou de cinza para preto. E pela primeira vez o teto-solar estava disponível em um carro da Chevrolet no Brasil.

Por esses motivos o engenheiro mecânico e colecionador Mario Trichês Júnior, 38 anos, orgulha-se de ter um Kadett GS Branco Everest em sua garagem. Ele nos contou que essa sua paixão pelo Kadett esportivo surgiu ainda na infância por influência do seu pai. O modelo foi adquirido por intermédio de um caçador de raridades e estava todo original. “A linha 1991 do Kadett GS sempre me fascinou em grande parte pelo interior com padronagem dos bancos escuro e foi somente nesse ano que saiu esse padrão de acabamento. Além disso a traseira com a faixa preta, os piscas na cor âmbar e o desenho das rodas deixam o Kadett GS com estilo próprio”, explica o Trichês.   

E mesmo passado 25 anos do seu lançamento o Kadett GS ainda chama a atenção e atrai olhares. Para o engenheiro os pontos fortes do modelo são a robustez mecânica, ronco do escape e a posição de dirigir. Já os pontos fracos são proteção contra a corrosão, que não é muito boa e a fragilidade de algumas peças de acabamento que são difíceis de encontrar. Ele enfatiza que mesmo com esses pontos foi a realização de um sonho poder ter esse carro na garagem. “O Kadett GS 1991 foi a realização de um sonho de infância e adolescência. Ter no mesmo veículo o teto-solar e os bancos Recaro na cor preta foi um motivo de satisfação pessoal e fico feliz por ter esse carro comigo hoje”, diz sorridente Mario.