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Suspensão traseira do Peugeot 206 precisa de cuidados especiais para voltar a funcionar


Com projeto de construção pouco pensado para a reparação, consertar os danos em seus rolamentos de apoio é uma tarefa árdua, necessitando, inclusive, de terceirização de mão-de-obra com empresa especializada em eixos

Por: Por Fernando Naccari e Paulo Handa - 16 de junho de 2020

Fábio Alves ao lado do Peugeot 206 - “pelo menos dois por semana são referentes a falhas nesta suspensão“Um dos problemas que mais trazem dor de cabeça aos proprietários dos veículos Peugeot 206 e 207 é o recorrente barulho na suspensão traseira. Já pelo lado dos reparadores, poucos sabem qual é o correto procedimento para solucionar o fatídico problema.

Baseados nessa grande dificuldade que perdura por mais de dez anos nas oficinas, fomos consultar um reparador que pudesse colaborar conosco dando as valiosas dicas que todos precisamos.

Com isso, visitamos a Binho’s Car Service situada em São Bernardo do Campo-SP onde o reparador e proprietário Fábio Alves Pereira de 36 anos aceitou colaborar conosco. Fabio possui 10 anos de profissão e é docente do SENAI Ipiranga há sete deles.

O PROBLEMA
Segundo Fábio, o pesadelo começa quando o cliente começa a notar que a traseira do veículo começa a apresentar estalos e ruídos metálicos (FOTO 1). “Quando ele nota isso já é certo que o custo do reparo vai ser alto. Além dos barulhos, o cliente vai começar a notar que o carro fica mais instável nas curvas”.

Mas porque isso acontece? Para Fábio, um dos culpados é o amortecedor. “Este inconveniente ocorre pelo fato dos amortecedores trabalharem inclinados (FOTO 2) fazendo com que a sua ação e durabilidade seja reduzida. Com isso, para evitar maiores problemas, oriento meus clientes a trazerem os veículos para verificação dos amortecedores a cada 30.000km, mas infelizmente poucos fazem isso e a grande maioria já traz o carro quando a suspensão traseira está rangendo”, relatou.

Foto 1 e Foto 2Fabio acrescentou que, para termos uma ideia do quanto este problema é grave e recorrente, faz reparo do tipo toda semana. “Atendo em média 180 veículos por mês para diversos serviços e, dentro destes, pelo menos dois por semana são referentes a falhas nesta suspensão. É um número assustadoramente alto”, disse o profissional.

VAMOS AO REPARO
A seguir, veremos como é o processo de correção da falha nesta suspensão e verificaremos até onde uma oficina independente pode ir e quando e qual serviço deve terceirizar, para garantir o melhor atendimento à solução do problema e expectativa do cliente.

1) Para removermos o eixo de sua posição, retire os tubos de freio do cilindro de roda direito e esquerdo (FOTO 3). Em seguida, desregule totalmente o freio de estacionamento e solte o cabo das sapatas;
2) Em seguida, tire o escapamento do veículo, pois este interferirá no processo de remoção do eixo. Se estiver muito degradado, nesta etapa poderá ser danificado (FOTO 4);

Foto 3 e Foto 4

3) Agora, com o conjunto livre, solte os quatro parafusos de fixação da suspensão, observando que, se estes estiverem oxidados, devem ser substituídos por outro de mesma classe de rigidez (10.8). Na remontagem, estes deverão ser lubrificados (FOTO 5);
4) Com a ajuda de outro profissional retire a suspensão completa.
É nesta etapa que, dependendo da aparelhagem da oficina, o serviço deve ser terceirizado. “Após a remoção, envio o eixo a um especialista que faz a correta substituição do rolamento. Em alguns casos, o cliente anda muito tempo com o rolamento já avariado, causando danos à sua pista e, nestes casos, só trocá-lo não resolve o problema sendo necessária a remanufatura do eixo”, explicou Fábio. 

REMANUFATURA DO EIXO
Para sabermos o que pode ser feito para deixar o eixo do Peugeot como novo, conversamos com o ajustador e torneiro mecânico Luís Carlos da Silveira de 63 anos. Luís tem 45 anos de profissão e trabalha há mais de 25 deles na FKM Autopeças Ltda., localizada no bairro do Ipiranga na capital de São Paulo (FOTO 6). Foto 5 e Foto 6Segundo Luís, o maior problema neste modelo de eixo é que há brechas para que impurezas como areia e umidade entrem no conjunto, contaminando a lubrificação do rolamento e causando desgaste prematuro do conjunto. “Veículos que trafegam em cidades litorâneas são os mais afetados por este problema (FOTO 7)”, relatou Luís.

As buchas nas quais vão os parafusos de fixação também sofrem desgaste acentuado, sendo necessária a troca. “Aqui na FKM substituímos todas as buchas quando o eixo vem efetuar um reparo (FOTO 8)”, explicou Luís.Foto 7 e Foto 8Luís contou que as buchas novas a serem colocadas no eixo reparado devem ser construídas em material não muito rígido, pois elas devem ter a flexibilidade e dureza necessárias para suportar as forças que agem sobre ele. “Apesar de termos muitas opções no mercado, aconselho comprar o item não se baseando pelo preço, mas sim pela qualidade. Não podemos nos deixar levar pelo cliente que busca apenas o menor preço, pois isto com certeza acarraterá em dano precoce no item e necessidade de um novo reparo (FOTO 9)”, disse.

O QUE FAZER NO EIXO?
Na sequência desta matéria, o reparador Luís deu algumas dicas do que é verificado no componente e o tipo de serviço aconselhado para sanar os problemas na peça. Vamos a eles:

1) Verifique as condições da pista do rolamento que fica no eixo. Com o desgaste do componente móvel, esta se deteriora e se torna necessário usinar o local antes de colocar o rolamento novo (FOTO 10);

Foto 9 e Foto 102) Confira se o rolamento que antigo não travou no eixo, devido ao excesso de desgaste. Isso ocorre porque o eixo, com a necessidade de movimentar-se e restringido pelo rolamento problemático, faça com que a capa deste rode em falso na pista interna do eixo, danificando-a. Caso isso ocorra, faça a usinagem do local (FOTO 11);

3) Caso o dano seja grande, substitua o rolamento por uma bucha feita sob medida. Isso permite que o defeito seja solucionado e não seja necessário trocar o eixo inteiro (FOTO 12). Isto torna o reparo de baixo custo e com maior durabilidade. O único cuidado adicional é que se torna necessário lubrificação frequente no conjunto;

Foto 11 e Foto 124) Se o eixo estiver nas medidas corretas permitindo ainda a troca do rolamento, efetue limpeza do local e substitua o kit completo (FOTO 13). Quando for colocar o item novo, note que os rolamentos possuem posição correta de montagem, sendo que aquele que possui aba deve estar na posição “por fora” do eixo (FOTO 14).

Foto 13 e Foto 145) Um diferencial no serviço é, no momento da usinagem, colocar uma gaxeta para lubrificação do eixo (FOTO 15). Isso prevenirá que o conjunto tenha a lubrificação prejudicada nas molas e rolamentos, minimizando bastante a reincidência de intervenções em um curto intervalo de tempo.

Foto 15VOLTANDO À OFICINA
Com o eixo remanufaturado, não basta chegar ao veículo e remontá-lo, temos alguns cuidados que devemos tomar para que o veículo saia da oficina como novo. “Confira se o eixo está alinhado antes de montá-lo. Geralmente a empresa que realiza o reparo deste é responsável pelo serviço, no entanto, essa inspeção é importante. Em caso de constatação de problemas, devolva o conjunto à prestadora para realizar a correção. Se não corrigir, os pneus e a dirigibilidade serão prejudicados (FOTOS 16, 16A E 16B)”, instruiu Fábio.Foto 16 e Foto 16AFábio ainda explicou que, como a suspensão traseira não possui alinhamento regulável, é muito importante se atentar a esta condição mesmo antes de encaminhar a peça para remanufatura, pois nem sempre o conjunto pode ser recuperado. “Temos casos aqui em que o desalinhamento é tão grande que até as empresas especializadas em alinhamento técnico se recusam realizar o serviço, pois informam que após o eixo se deformar, ele adquire um dano irreversível, aconselhando a substituição do conjunto completo”, explicou Fabio.

E quanto fica o reparo completo incluindo a terceirização de serviço? Fábio nos contou que não é barato para um veículo tido como popular pela grande maioria dos proprietários. “Aqui em minha oficina, fazendo tudo da forma correta, fica entre R$800,00 e R$1.200,00, dependendo da extensão do dano e incluindo peças e mão-de-obra”, finalizou.

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