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Renault Duster 2.0 16v: chegou a hora da manutenção, e agora, qual será a avaliação dos reparadores?


Reparadores avaliam e comentam sobre a manutenção desse SUV que há cinco anos vem ganhando as ruas do Brasil. Veja quais são os pontos negativos e também os positivos levantados pelos técnicos, diretamente das oficinas.

Por: Tenório Júnior - 26 de outubro de 2016

Em outubro de 2011 a Renault lança no Brasil o Duster. Equipado com motor 1.6 16v e 2.0 16v esse veículo chama a atenção pelo generoso pacote de itens de série e pela aparente robustez. Na versão Dynamique 2.0 MT 4x4 AWD, a altura elevada é ideal àqueles que gostam de aventuras “Off-Road”, pois o SUV da Renault possui vão livre, em relação ao solo, de 210 mm; ângulo de entrada 30 graus e de saída 35 graus. 

Após cinco anos rodando pelas nossas cidades, chegou a hora de avaliar o comportamento desse veículo, saindo um pouco dos holofotes publicitários, vamos direto para as oficinas independentes para saber como esse SUV se comporta na hora da manutenção.

Foto 3

Para tanto, tivemos a colaboração de três oficinas mecânicas independentes, são elas:

Auto Mecânica Cassiopéia - localizada na cidade de São José dos Campos – SP, possui cinco reparadores e atende em média 130 veículos multimarcas por mês. Quem nos concedeu a entrevista foi o José Luiz de Souza, 42 (Foto 3). Esse reparador começou a trabalhar com 15 anos de idade, trabalhou por seis anos em oficinas e aos 21 anos de idade abriu sua própria oficina. “No início eu trabalhava como comprador de peças, com o passar do tempo peguei gosto pelo trabalho e comecei a fazer serviços, de carburador, freios e suspensão. No decorrer da minha carreira eu participei de cursos e palestras realizadas no Senai de uma cidade vizinha”, conta José Luiz. 

Foto 4

Lunar Car Service - está localizada na cidade de São Paulo – SP, bairro Butantã. Atende em média 70 veículos multimarcas por mês e é administrada pelo proprietário e técnico Luiz Paulo Vieira da Silva, 67 (Foto 4). Com mais de meio século de experiência na profissão, Luiz Paulo, que é formado em Engenharia Mecânica, possui vários cursos técnicos realizados nas principais montadoras do Brasil, ainda tem muita lenha pra queimar. Iniciou suas atividades no segmento automotivo aos 13 anos de idade, trabalhou em concessionárias, fez cursos de especialização e em 1975 abriu sua própria oficina, onde permanece até os dias atuais.

Ericar – Localizada na cidade de São Paulo – SP, bairro Vila das Belezas. A oficina independente atende veículos de todas as marcas, mas se especializou em veículos da linha Renault - atende em média 60 veículos por mês. Herbert José da Costa, 37 (Foto 5 direita), foi o técnico que nos concedeu a entrevista. Ele iniciou sua carreira aos 16 anos de idade trabalhando como ajudante numa pequena oficina perto de sua residência, onde permaneceu durante 12 anos. Durante esse período teve a oportunidade de fazer cursos de especialização e acumulou muita prática. Quando sentiu que estava preparado decidiu abrir sua própria oficina na garagem da sua casa. Alguns anos depois surgiu a oportunidade de abrir uma oficina em sociedade com um antigo colega de trabalho, o Erivaldo Tenório Calheiros, 32 (Foto 5 esquerda) – em 2012 nasceu a Ericar.

Foto 5
Reparadores devidamente apresentados, vamos direto ao assunto para não perder o foco.

Renault Duster 2.0 16v

Potência (cv) a 5.500 rpm

(A)142 / (G) 138

Torque (Kgf.m) a 3.750 rpm

(A) 20,9 / (G) 19,7

Taxa de compressão

11,2:1

Suspensão dianteira

Independente do tipo Mc Pherson

Suspensão traseira

Eixo de torção

Direção

Assistência hidráulica

Freios dianteiros

Discos ventilados / com ABS

Freios traseiros

Tambor / com ABS

 

SUSPENSÃO DIANTEIRA E TRASEIRA

A suspensão do tipo Mc Pherson com barra estabilizadora e molas helicoidais não apresenta novidades nem defeitos considerados crônicos. De acordo com os reparadores consultados, os defeitos mais comuns são: folga nas buchas da barra estabilizadora, bieletas (Foto 6), bandejas (Foto 7) e batentes dos amortecedores; nada fora do normal. O reparador José Luiz relata um problema que, segundo ele, aparece com boa frequência, um ruído nas molas (Foto 8). “o atrito da mola com o prato superior produz um barulho característico. Para resolver esse problema, nós desmontamos o conjunto, efetuamos uma limpeza e encapamos os primeiros elos das molas com uma mangueira especial”, diz o reparador.

Foto 6 e 7

Foto 8
Os reparadores Luiz Paulo e Herbert já constataram alguns casos de folga na caixa de direção (Foto 9). Segundo Herbert, “a caixa de direção costuma fazer barulho por desgaste das buchas internas, nesse caso o melhor seria substituir a caixa, mas, devido ao custo elevado da peça nova, os clientes optam por fazer apenas o reparo da caixa”. 

Já o reparador Luiz Paulo relata que teve que encomendar a caixa na concessionária porque não havia disponível no estoque. 

Foto 9
SUSPENSÃO TRASEIRA

A suspensão traseira é do tipo “Eixo de torção” (Foto 10). A fixação do eixo à carroceria é por intermédio de buchas (uma de cada lado) (Foto 11). Apesar de simples, é muito robusta. De acordo com os reparadores os defeitos apresentados limitam-se aos amortecedores, batentes e molas (Foto 12), por desgaste natural. 

Foto 10 e 11

Foto 12
FREIOS

De acordo com os reparadores consultados, o sistema de freio não apresenta defeitos recorrentes nem fora da normalidade. Na Auto Mecânica Cassiopéia, que atende esse tipo de veículo com certa frequência, constatou-se que as pastilhas são substituídas em média, a cada 20 mil quilômetros e os discos com 40.000 km. José Luiz recomenda manter os freios traseiros sempre regulados para melhorar a eficiência e não sobrecarregar as pastilhas. Veja nas fotos 13, 14 e 15 o disco e a pinça do freio dianteiro e o tambor de freio traseiro, respectivamente.

Foto 13, 14 e 15
MOTOR

Segundo os reparadores, o motor desse veículo é muito resistente, desde que sejam feitas as devidas revisões. José Luiz diz que ruído nas polias tensoras da correia (Foto16)  é comum entre 50 e 60 mil km. No manual do veículo a recomendação de substituição da correia dentada (Foto 17) é a cada 80 mil km, no entanto, por experiência, os reparadores Luiz Carlos e Herbert recomendam a troca da correia e tensores entre 50 e 60 mil km. “Quando troco a correia dentada, recomendo a substituição da bomba d’água preventivamente”, diz o técnico Herbert. 

Foto 16 e 17
Atenção: a substituição da correia dentada exige muita atenção e ferramental específico (Fotos 18, 19 e 20). A falta de uma dessas ferramentas inviabiliza a execução do serviço. 

Foto 18, 19 e 20
ARREFECIMENTO
              

O sistema de arrefecimento é de extrema importância para o ótimo funcionamento do motor, nem muito quente nem muito frio, é assim que deve trabalhar o motor, objetivando o melhor desempenho, menor consumo de combustível, menor desgaste nas partes móveis internas e menor índice de emissão de poluentes. Para tanto, é importante que todo o conjunto esteja em ótimas condições. Os componentes que merecem atenção especial são: bomba d’água, válvula termostática, radiador, ventoinha e líquido de arrefecimento.

No caso da Duster, há um defeito recorrente apontado pelo técnico Herbert: “a temperatura fica acima do normal, mas, o motor não chega a ferver. Na maioria dos casos que já pegamos, o defeito estava na resistência da ventoinha que não acionava a primeira velocidade”. Na oficina Ericar a recomendação de troca preventiva da válvula termostática é a cada 60 mil km.

Na Auto Mecânica Cassiopéia, a recomendação de manutenção preventiva inclui a substituição do líquido de arrefecimento entre 12 e 18 meses. Segundo José Luiz, com o tempo o líquido vai ficando escuro, é um sinal de que está na hora de substituir, porque já perdeu suas características, podendo prejudicar o sistema. “Tem carros que chegam aqui com 40 mil km e a água está muito suja”, conta o reparador.

INJEÇÃO ELETRÔNICA

No sistema de injeção eletrônica foi adicionado o quinto bico injetor (Foto 21). Ele substituiu a válvula solenoide do sistema de partida a frio. Esse novo sistema permite controlar a quantidade de gasolina injetada no coletor de admissão no momento da partida, pelo sistema auxiliar, com mais precisão.

Foto 21
Por falar em bicos, de acordo com os reparadores, falhas decorrentes de sujeira nos bicos são comuns nesse veículo, principalmente se o combustível utilizado na maioria das vezes for álcool. 

O reparador José Luiz faz uma observação: “alguns fabricantes dizem que não precisa limpar os bicos (Foto 22), entretanto, a realidade constatada por nós é diferente. Veículos chegam aqui na oficina com funcionamento irregular e, muitas vezes o defeito é carbonização externa na ponta dos bicos. Nesses casos, retiramos os bicos para efetuar a descarbonização e limpeza dos mesmos. Nossa recomendação é de fazer a limpeza a cada 30 mil km”, pontua o técnico. 

Foto 22 

Dica do Consultor OB - Tenório Junior: o filtro de combustível (Foto 23) deve ser substituído a cada 12 meses, porque sua deterioração independe do fluxo de combustível que passa por ele, mas sim do tempo em que o combustível está em contato com o elemento filtrante. 

Foto 23
O Técnico Luiz Paulo alerta sobre as velas. “Eu recomendo a substituição das velas entre 20 e 30 mil km; já pegamos vários com falha de ignição com essa quilometragem”, diz o Engenheiro Mecânico.

Importante: o desgaste acentuado das velas de ignição exige um esforço muito grande das bobinas (Foto 24), em muitos casos ocasionam a queima de uma ou mais bobinas, essa ocorrência é comum nesse tipo de motor que também equipa outros veículos da marca.

Foto 24

Na oficina Ericar, além desses problemas já mencionados pelos colegas, existem outros recorrentes que merecem atenção: sujeira no corpo de borboleta, entrada de ar pelos vedadores do coletor de admissão. “Já pegamos alguns casos de rotação elevada por muito tempo na fase fria e a causa eram os vedadores do coletor de admissão”, conta Herbert.

Dica de ouro - "Já pegamos dois carros deste modelo (Duster), em que dois cilindros haviam parado de funcionar por falta de pulso nos bicos e o defeito era o corpo TBI. Só conseguimos diagnosticar porque o aparelho de diagnóstico acusava falha presente no corpo de borboleta, resolvemos trocar e os bicos voltaram a pulsar. Só depois, viemos descobrir que essa é uma estratégia do módulo de injeção eletrônica para o caso de avaria no corpo TBI", alerta o especialista Herbert.


CÂMBIO

Câmbio automático Duster 2.0 16v – “Já pegamos vários casos de defeito nas eletroválvulas do câmbio que, certamente, foram provocadas por impurezas contidas no óleo, por isso, diferentemente da montadora, recomendamos a troca de óleo a cada 40 mil km”, orienta, Herbert. 

Câmbio manual Duster 1.6 16v – Ruídos do tipo “ronco”, oriundos do desgaste prematuro nos rolamentos dos eixos primário e secundário, foram constatados pelo reparador Herbert, em alguns veículos com baixa quilometragem.

OBSERVAÇÃO OPORTUNA

É importante observar que a recomendação de manutenção por quilômetros rodados, apesar de estar expressa no manual do proprietário, não deve ser levada ao pé da letra, pois, para cada carro há uma realidade diferente de utilização. 

Há grande diferença no modo de operação entre os veículos que circulam nas grandes metrópoles como a cidade de São Paulo e nas pequenas cidades como São José dos Campos, por exemplo. Enquanto em SJC um veículo gasta 20 minutos para se deslocar de um determinado ponto até qualquer outro ponto da cidade; na cidade de SP, o veículo gasta cerca 2 horas para percorrer apenas 30 km. 

Essa diferença implica nas horas que o motor e todos os seus agregados permanecem trabalhando em relação aos quilômetros registrados pelo hodômetro, o que eu chamo aqui em SP de: “hodômetro mentiroso”.  

Logo, um veículo que circula diariamente no trânsito pesado da cidade de São Paulo deve efetuar as manutenções muito antes do que especifica no manual do proprietário. Por outro lado, os veículos que trafegam a maior parte do tempo em estradas livres podem efetuar as manutenções seguindo o prazo de manutenção em relação à quantidade de quilômetros rodados, de acordo com as referências contidas no manual do proprietário. Em caso de dúvidas, consulte sempre o seu reparador de confiança.

REPARABILIDADE

Esse é sem dúvida um ponto positivo neste veículo. Os reparadores consultados são unânimes, não encontram problemas nem dificuldades para executar os reparos. “As peças são bem distribuídas, tem bom espaço no cofre do motor e não necessita de muitas ferramentas específicas”, dizem eles. 

“A troca da correia dentada é um serviço trabalhoso e técnico, mas não é difícil, só precisa ter as ferramentas específicas para não ficar fora do sincronismo”, alerta José Luiz.

INFORMAÇÃO TÉCNICA

O reparador José Luiz nos conta que, na maioria das vezes, quando precisa, encontra informações no fórum do jornal Oficina Brasil e com os colegas da concessionária Renault. 

Luiz Paulo – “Recorro aos manuais de empresas particulares e ao SINDIREPA-SP. Normalmente nas concessionárias eles não dão informações técnicas, isso é muito ruim para nós porque fica difícil pra trabalhar”, diz com certa indignação o reparador.

Para o reparador Herbert não há dificuldade para obter informações técnicas porque a oficina é especializada em veículos da Renault. Contudo, de acordo com o reparador, o seu “privilégio” limita-se ao networking criado naturalmente pela frequência das visitas às concessionárias da marca.

PEÇAS

Nas oficinas Auto Mecânica Cassiopéia e Ericar, 50% das peças são adquiridas fora da concessionária. De acordo com os reparadores José Luiz e Herbert, as peças de giro são encontradas facilmente na concessionária, porém, quando precisam de alguma peça diferente, é necessário encomendar porque não encontra à pronta-entrega. 

Quanto à política de comercialização, José Luiz considera boa - “As oficinas cadastradas têm desconto e prazo para pagar. Eu acho legal porque eles respeitam essa política”, elogia o reparador.

Segundo Herbert, “eu considero a política de comercialização boa, entretanto, em algumas peças o desconto é muito pequeno, aí fica difícil pra trabalhar”, pontua Herbert. 

Para Luiz Paulo, da oficina Lunar Car, o discurso não é muito diferente: “a maioria eu compro original, porém, em alguns casos é possível encontrar peças paralelas de ótima qualidade” diz o técnico. 

CONCLUSÃO

Os relatos dos reparadores acerca da manutenção do veículo Duster, descritos nesta matéria, são fundamentados em suas próprias experiências vivenciadas em seus “laboratórios”, as oficinas - é lá que a cria e o criador se expõem às críticas e elogios. 

Para finalizar essa matéria, destacamos alguns pontos que merecem destaque:

Reparabilidade – muito elogiada pelos técnicos, quanto melhor a classificação menor será o custo de mão de obra. 

Recomendação de manutenção – É preciso ficar atento às condições de uso do veículo lembrando que: veículos que trafegam a maior parte do tempo em trânsito intenso devem antecipar algumas manutenções para não terem surpresas desagradáveis.

Peças – Esse é um quesito que tem um peso considerável nesse tipo de avaliação. Quanto maior a disponibilidade de peças de reposição, sejam genuínas ou originais, melhor será a avaliação do reparador.

Informação técnica – A falta de suporte técnico por parte do fabricante do veículo dificulta a execução das manutenções, mas o reparador independente é raçudo, de uma forma ou de outra, ele consegue a informação e realiza o trabalho com a hegemonia que lhe é peculiar. Portanto, porque não estreitar a relação entre fabricante e reparador e independente?