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Honda Fit 1.5 2010 automático: cuidados com a manutenção do sistema de transmissão e outros itens


Minivan nipônica desfruta de ótimo prestígio junto aos consumidores; mas e na reparação independente?  Como ele é avaliado pelos responsáveis pela manutenção da maior parte da frota circulante deste modelo? Confira aqui nesta matéria

Por: Tenório Júnior - 18 de outubro de 2015

Foi em abril de 2003 que a Honda lançou no Brasil o compacto Fit. Equipado com motor 1.4 8V, que deixava a desejar com os 80 cavalos de potência. Equipado com o câmbio CVT (Continuously Variable Transmission) - em português significa Transmissão Continuamente Variável, tinha boa aceitação pela suavidade na condução do veículo. Contudo, o câmbio CVT foi descontinuado em outubro de 2008 e substituído pela Caixa Automática com Conversor de Torque. O modelo “melhorado” passou a ser chamado de New Fit. As novas versões dessa segunda geração ganharam motores com alguns cavalos a mais, 1.4 (101cv) e 1.5 (116cv). 

Mas, qual é a diferença entre o câmbio CVT e o Câmbio Automático de engrenagens?

O câmbio CVT não possui engrenagens, logo, não há marchas. A contínua variação de velocidades e torque ocorre por meio polias de diâmetros variáveis que são unidas por uma correia metálica de alta resistência. Esse sistema elimina aqueles pequenos “degraus” nas trocas de marchas. 

O câmbio Automático tem o funcionamento parecido com o câmbio manual, no entanto, ele dispensa a ação do condutor para a troca de marchas; monitorado e controlado por uma central eletrônica ele faz a troca de marchas sozinho. 

Encontramos na Mecânica Weber – uma oficina tradicional em Santo André – SP, o protagonista dessa matéria, um Honda Fit 1.5, automático, ano 2010. O motivo que o levou até a oficina foi um barulho na parte inferior dianteira que estava incomodando o proprietário do veículo. Quem fez o diagnóstico do defeito e os reparos necessários foi o reparador Leonardo Maçorano, 35 anos de idade. Leonardo iniciou na profissão aos 17 anos fazendo um curso técnico de mecânica, depois foi trabalhar em uma metalúrgica; preparação de motores turbo e retífica. Hoje, com 18 anos de experiência, Leonardo se mostra muito feliz com a profissão que escolheu.

Leonardo Maçorano

Jaqueline Weber e Leonardo

Como já é de praxe na oficina Weber, e de muito bom tom, além de investigar a causa do problema, foi realizada uma revisão visando os itens que fazem parte da manutenção preventiva, tais como: velas; filtros; óleo de motor; freios; suspensão, vazamentos de óleo e líquido de arrefecimento, etc. 

Contribuiu também com essa matéria, o proprietário da Roda Livre Mecânica e Autopeças, Mauro André Cervo, 43 anos, sendo 29 de experiência na área automotiva. Participante ativo do nosso FÓRUM na internet, Mauro atende em sua oficina, localizada em Porto Alegre – RS, cerca de 300 veículos por mês. Mauro nos contou, resumidamente, sua trajetória: “em 1986 comecei como vendedor de autopeças, dez anos mais tarde, com a entrada da Injeção Eletrônica, como eu já tinha curso de eletrônica e facilidade na área, passei a atuar como mecânico. Logo após, em 1998 comprei minha oficina onde estou até hoje”, relata o reparador Mauro.

Mauro André Cervo

Ederson José

No caso específico do Honda Fit avaliado, diga-se de passagem, um caso raro, não havia nenhum defeito pontual, além da necessidade da substituição do protetor de cárter. Isso porque, o dono do carro faz todas as manutenções respeitando o tempo estimado e quilometragem limite de algumas peças – ponto positivo para o proprietário do veículo. Mas, isso não quer dizer que o veículo em questão, por ser fabricado pela Honda, é um carro “inquebrável” como dizem por aí. Veja nessa matéria o que dizem os reparadores acerca da manutenção do Fit.

SUSPENSÃO DIANTEIRA

Segundo o reparador Leonardo, as peças de maior desgaste são aquelas comuns, pivôs, bandejas, terminais e bieletas. Contudo, o técnico ressalta que há um defeito crônico: batente (coxim) superior do amortecedor dianteiro, ou melhor, o rolamento do batente. Ao girar o volante faz um ruído na mola. Nesse caso o recomendado é a substituição do batente (coxim) e do rolamento. E não adianta colocar paralelo, precisa ser original; alerta o técnico.

Conj. Amortecedor e mola dianteira

De acordo com o reparador Mauro, os amortecedores dianteiros apresentam ruído interno com frequência. As demais peças sofrem os desgastes naturais, afirma o técnico.

Bandeja dianteira

SUSPENSÃO TRASEIRA

Leonardo nos relatou que já pegou casos em que a queixa do cliente era a traseira baixa, após as verificações de todo o conjunto da suspensão traseira, concluiu de que o problema estava só nas molas, de acordo com o técnico, se a traseira estiver baixa deve-se substituir as molas porque elas perdem a “força”.

Um defeito comum na suspensão traseira do Fit, e que costuma dar baile nos reparadores, é a bucha do quadro (eixo) traseiro. Essa bucha é prensada e quando está ruim, corre dentro do alojamento e começa a ranger”, alerta Leonardo.

Mola e amortecedor traseiro

Bucha do eixo traseiro

DIREÇÃO

Esse veículo é equipado com direção elétrica assistida. É acionada a partir de um motor de corrente contínua de alta potência que facilita a realização de manobras. Quem controla esse motor de 12 volts é uma central de gerenciamento da unidade do EPS (Eletric Power Steering) que recebe sinal do sensor de torque. Segundo os reparadores consultados, esse sistema é muito eficiente e, até o presente momento não constataram problemas.

Caixa de direção eletroassistida

 CÂMBIO

Normalmente os câmbios automáticos não apresentam problemas recorrentes, segundo o especialista em câmbios automáticos, Ederson José da Silva Sá da oficina EDERMATIC, localizada em São Paulo – SP. “câmbio automático foi projetado para não quebrar”. Ederson conta que sempre trabalhou com câmbio automático, o primeiro câmbio que montou foi um hidramático, ele tinha apenas 10 anos de idade. Hoje com 29 anos de idade, atendendo uma média de 35 carros por mês, ao longo dos anos, acumulou grande experiência nesse tipo de transmissão.

Segundo Ederson, o câmbio que é utilizado no Honda Fit a partir de 2008 não tem nenhum defeito que possa considerar crônico. “Os defeitos mais comuns são provocados por mangueiras que sofrem danos por batidas na parte inferior do carro, e devido ao vazamento de óleo, perde a tração. Se cuidar bem da manutenção do motor e do câmbio, dificilmente terá problemas com a transmissão”, diz o técnico.

Para Ederson, o maior problema está na ausência de informação que leva à falta de manutenção e/ou manutenção inadequada. É necessário que o reparador tenha conhecimento específico para efetuar até as manutenções simples. “Para fazer uma simples troca de óleo é importante que tenha um aparelho para efetuar a limpeza do sistema; se trocar o óleo sem fazer a limpeza, o trabalho fica incompleto”, alerta Ederson. Ele recomenda a troca do óleo para esse modelo, em média a cada 60 mil km. Para os modelos abaixo de 2008 que utilizam o câmbio CVT, a troca deve ser antecipada, a cada 30 mil km no máximo. 

O reparador Mauro relatou que a quebra do coxim de câmbio (aquele que fica embaixo da bateria) é bastante frequente em sua oficina.

MOTOR E INJEÇÃO

Componentes eletrônicos estão cada vez mais presentes nos veículos e toda essa tecnologia embarcada requer conhecimento específico para realizar serviços que antes eram executados empiricamente. O técnico Leonardo chama a atenção para os problemas que são “plantados” por alguns instaladores de acessórios como, xênon, alarmes, som, etc. “Eles pegam o fio negativo e/ou positivo de algum sensor da injeção e acaba provocando defeitos na injeção eletrônica, principalmente nas bobinas de ignição” diz o reparador Leonardo. Para o experiente técnico, fazer a limpeza do corpo de borboleta, trocar o filtro de combustível e o filtro de ar, é relativamente fácil, porém, para realizar a manutenção nos bicos é necessário retirar o coletor de admissão.

Caixa do filtro de ar

Bico de injeção

Bobinas e sonda lambda

Sonda lambda pós-catalisador

Filtro de combustível fora do tanque

Coxim lado direito. Fácil acesso

 

Já na oficina do Mauro, um problema recorrente acontece na hora de remover as velas. “Já pegamos tanto as velas quanto os parafusos das bobinas emperrados a ponto de não soltarem. No caso de quebrar um parafuso desses ou uma vela, será necessário retirar o motor para fazer o reparo; os casos que ocorreram conosco o cliente não autorizou a darmos sequência no serviço por medo de gastar um valor elevado”, alerta o experiente técnico Mauro. 

Aqui, cabe um alerta: Para evitar problemas, o melhor a fazer é ser transparente e não assumir os riscos. Chamar o proprietário do carro, mostrar o problema, deixar claro os riscos e custo para efetuar o reparo caso ocorra a quebra de um dos componentes, é uma forma ética de evitar dor de cabeça. 

Ederson diz: “Se o carro estiver falhando e o câmbio não trocar de marcha, não se assuste, é normal; ele entra em emergência para poupar seus componentes e obrigar o proprietário a efetuar os reparos necessários. A falta de manutenção no motor, como velas, filtros, cabos de velas, bicos pode reduzir e muito a vida útil do câmbio”.

FREIO

O sistema de freio desse veículo é convencional e parece estar isento de problemas que fogem da normalidade. Os técnicos consultados são unânimes, os reparos no sistema de freio são por desgaste natural das peças, um ou outro caso de discos empenados ou cilindro de roda vazando. 

Pinça de freio

Sistema ABS - De acordo com o técnico Ederson, o módulo do sistema de transmissão trabalha em conjunto com o sistema ABS. De acordo com as informações enviadas pelos sensores do ABS, o sistema de transmissão reduz de forma gradativa ou joga diretamente para a primeira marcha, caso haja um parada brusca do veículo.

ARREFECIMENTO

Para Leonardo, o defeito comum é a má vedação da tampa do radiador; o técnico relata que alguns chegam com problema de superaquecimento e, por vezes, constatou que o problema estava apenas na tampa. 

O técnico Ederson diz que o bom funcionamento do sistema de arrefecimento influencia no tempo de vida útil do câmbio: “O óleo do câmbio é arrefecido pelo mesmo sistema do motor. Quando o motor sofre superaquecimento, o óleo do câmbio sofre as consequências podendo perder sua eficiência, por isso, após o reparo do sistema de arrefecimento, recomenda-se a troca do óleo do câmbio”, orienta o técnico. 

O técnico Mauro ainda não tem histórico de problemas no sistema de arrefecimento, que considera bem eficiente.

Tampa do radiador

Válvula termostática

PEÇAS

Na Mecânica Weber a parte administrativa, que inclui a compra de peças, fica por conta da proprietária, Jaqueline de Carvalho Weber, 36 anos. Ela herdou de seu pai, a paixão pelo negócio. “Desde meus 6 anos eu ia pra oficina e passava o dia com o meu pai; aos 16 anos eu comecei a trabalhar auxiliando a secretária na oficina” diz Jaqueline. Mesmo sendo formada em Direito, Jaqueline não abre mão, administra a oficina e três colaboradores, sozinha. Com uma média de 70 carros atendidos por mês, Jaqueline acumula grande experiência, conhece muito bem todos os procedimentos e processos operacionais. Jaqueline relata que as peças de giro e de manutenção preventiva como, velas, pastilhas, discos de freio e filtros, são encontradas facilmente no mercado independente. Mas, como nem tudo são flores, “se precisar de uma peça diferenciada como uma mangueira ou uma bucha da suspensão, obrigatoriamente tem que recorrer à concessionária, que normalmente não tem disponível em estoque, é preciso encomendar e o prazo é de dois a três dias, no mínimo”, diz a administradora com certa indignação. 

“No caso dos clientes que tem mais de um carro tudo bem, porém, para aqueles que possuem apenas um carro, essa falta de disponibilidade se torna um grande problema” comenta Jaqueline, que se queixa também da política adotada pelas concessionárias da marca com relação às encomendas - “para encomendar a peça, você tem que pagar à vista antecipado. Nas outras concessionárias tradicionais (VW, Chevrolet, Fiat, Ford, Renault, etc), você pode encomendar até por telefone, e ainda tem a possibilidade de parcelar”! desabafa a empresária.

Lá em Porto Alegre na oficina Roda Livre Mecânica, a situação não é diferente, o reparador Mauro relata que apenas 20% das peças que instala são compradas em concessionária e 80% em autopeças independentes. O principal motivo apontado pelo entrevistado é a falta de peças genuínas em estoque para pronta entrega. “Muitas vezes a concessionária não tem a peça no estoque, e precisam encomendar na fábrica. Isso é muito ruim para o reparador e o cliente, porque atrasa a execução do serviço”, diz ele. Para Mauro, os descontos concedidos pelas concessionárias Honda para as oficinas não cobrem os custos de impostos e taxas do cartão de crédito (ou débito) na operação de revenda para o cliente, causando prejuízos.

Como não podia ser diferente, em São Paulo – SP o Técnico Ederson diz: “não é viável comprar peças para o sistema de transmissão na concessionária, tanto pelo preço que é exorbitante quanto pelo tempo absurdo, de 15 a 30 dias para entrega”. Diante dessa dificuldade, Ederson compra todas as peças importadas no mercado independente. Detalhe, todas à pronta entrega!

REPARABILIDADE

Segundo o técnico Leonardo, para realizar as manutenções do Honda Fit não é necessária a utilização de ferramentas específicas. “De forma geral, é um carro bom para trabalhar”, avalia Leonardo.

Mauro não encontra grandes dificuldades para trabalhar com esse carro e diz que nunca precisou de nenhuma ferramenta especial para esse veículo.

O técnico Ederson considera muito trabalhoso para tirar o câmbio, segundo ele, o tempo médio para tirar o câmbio é de 3 horas.

DICA DE OURO

1. Os técnicos Leonardo e Ederson deram a mesma dica: Quando o cliente pede para efetuar a troca do óleo do câmbio, fique atento! Dê uma volta no carro e veja se o câmbio não apresenta nenhum problema e fazer uma leitura do sistema eletrônica do câmbio, se houver algum defeito, melhor não executar o serviço, pode ser que após a troca o carro não consiga sair da oficina, aí o cliente irá “culpar” o reparador. 

1.1 “Percebeu que há um defeito no câmbio, não adianta trocar o óleo, é necessário identificar o problema e eliminá-lo”! Alerta Ederson.

2. “Tenha bons fornecedores como alternativa para fugir das concessionárias. Eu tenho distribuidores que até procuram as peças para mim”, diz Jaqueline.

3. “Sempre que tirar os bicos para alguma manutenção, aproveite para fazer a limpeza dos bicos de injeção de gasolina da partida a frio”, alerta Leonardo.

RECALL

Em 12 de maio de 2015 a Honda abriu o chamado os proprietários do Fit para fazer a substituição do sensor de nível do tanque de combustível. Veja no site se o seu veículo se encontra na lista de Recall.

INFORMAÇÃO TÉCNICA

Leonardo diz que quando precisa de informações técnicas recorre aos colegas reparadores ou internet. Das vezes que procurou a concessionária para obter informações técnicas, eles sempre atenderam, mas, depois de algumas perguntas pedem para levar o carro para eles efetuarem os reparos. “É uma atenção com segundas intenções”, lamenta o técnico.

O reparador Mauro diz: “das poucas vezes que precisei de informações técnicas desse carro, consegui na internet, principalmente no FÓRUM do Oficina Brasil. Quando liguei na concessionária, pediram pra levar o carro até lá”. 

CONCLUSÃO

Diante dos relatos obtidos pela pesquisa de campo, realizada com profissionais altamente qualificados e experientes, concluímos que o Honda Fit 1.5 ano 2010, de forma geral é um bom carro. Não foi constatado nenhum defeito recorrente de grande relevância. Entretanto, há de se ressaltar a seguinte constatação: todo carro em uso sofre desgaste e requer manutenção, e o mito do carro inquebrável não existe. Se não cuidar da manutenção preventiva, ele vai quebrar sim! Isso é tão óbvio quanto inevitável. 

Na contramão da crise, a Honda do Brasil vive um grande momento na venda de carros novos; mas por outro lado, mostra um certo descuido no pós-venda, a começar pela estratégia errônea de estoque mínimo de peças de reposição em sua rede concessionária; passando pela política comercial pouco atrativa para os reparadores independentes; e culminando com a quase nula disseminação de informações técnicas para os profissionais que atendem a maior parte da frota circulante Honda no país.

Não por acaso, as marcas líderes de venda de veículos aprimoram a cada dia os canais de comunicação com os reparadores independentes, colhendo bons frutos com o incremento de venda de peças genuínas, e reforçando a imagem positiva de seus produtos perante o mercado e os grandes formadores de opinião.   

E neste contexto fica a pergunta: Por quanto tempo ainda a Honda se manterá distante do aftermarket?